Como levantar hipóteses?

Letícia Strini
Suzano DigitalTech
Published in
4 min readAug 4, 2023

Dando continuidade ao nosso frame, agora que já entendemos Por onde Começar o Frame e temos tanto a abordagem correta sobre a necessidade quanto as informações iniciais, podemos avançar para falar de hipóteses de soluções.

O levantamento de hipóteses na construção de um frame é importante pois estas ajudam a focar e priorizar o trabalho a ser realizado. De modo geral, as hipóteses ajudam a formular um possível resultado da análise a ser feito e assim, nos permitem ser mais específicos e focados na análise em si — são mais reveladoras que um grupo de perguntas abertas.

Um método muito utilizado para geração de hipóteses é princípio da pirâmide e podemos elencar três vantagens da utilização do método:

1. As ideias são mais facilmente compreendidas uma vez organizadas como uma pirâmide e seguindo número limitado de regras lógicas;

2. A mensagem final é clara, concisa e organizada de forma lógica, logo pode ser compreendida rapidamente pela audiência e pode ser desenvolvida com menor esforço levando à ação quando necessário;

3. Permite fundamentar conclusões em argumentos lógicos e irrefutáveis, para tal, as camadas devem se estender até que hipóteses sejam factuais ou consensuais;

Nas relações verticais, as (sub)hipóteses na linha de baixo devem responder à questão levantada pelo ponto acima. Já nas relações horizontais paralelas, as ideias estão em um mesmo nível têm o mesmo nível de detalhe e são do mesmo tipo (ex. todas são ações). É importante limitar o mapeamento em não mais de 7 argumentos por grupo.

Como exemplo prático sobre a organização e relações dentro da pirâmide, suponhamos que a ideia central seja uma ida ao supermercado, os subgrupos seriam os departamentos, por exemplo hortifruti ou limpeza e os sub subgrupos seriam os itens de compra, como uvas, bananas ou detergentes.

Para garantir que as hipóteses mapeadas são exaustivas do ponto de vista de negócios, ou seja, que elas contêm todo o universo de possibilidades, podemos destacar os 5 grupos conforme abaixo:

1. Mapeamento de benefícios e oportunidades (financeiros e técnicos), por exemplo, diretos como aumento de receita, segurança ou redução dos custos. Ou mesmo indiretos, como impacto na reputação.

2. Mapeamento de Riscos e downsides (financeiros e técnicos), por exemplo, diretos como redução no nível de serviço ou aumento de custos. Quando falamos de riscos indiretos podemos citar, por exemplo, o impacto em outra área da empresa.

3. Entendimento do contexto: parece fazer sentido para a Empresa? Já foi feito algo similar no passado? Algum competidor já realizou algo parecido?

4. Factibilidade: a iniciativa pode ser implementada?

5. Prazo: há tempo hábil para a captura da oportunidade?

Para exemplificar esses grupos podemos usar o case de uma companhia sobre o aumento de margem com a variação da frota, onde podemos elencar as seguintes hipóteses:

1. Hipótese benefícios: Aeronaves menores são mais econômicas? Redução da capacidade afetará volume de total de passageiros?

2. Hipótese riscos: Riscos de perder market-share por alteração do modelo de aeronave?

3. Hipótese contexto: Outras empresas já estão empregando a mesma estratégia com sucesso?

4. Hipótese factibilidade e prazo: É possível realizar a troca de aeronaves com baixa implicação operacional?

Ter uma discussão detalhada sobre possíveis hipóteses com todos os envolvidos é essencial, de modo a coletar opiniões sobre o problema e cobrir diferentes perspectivas sobre o tema. É importante envolver as pessoas que “estão no dia a dia” do tema — operações, planejamento etc. É importante ter cautela ao comunicar hipóteses, deixando claro que são possibilidades e não uma definição de solução, logo, evite comunicar hipóteses fora da equipe de projeto.

Uma regra de ouro é não ficar preso nas hipóteses iniciais, elas devem ser revisadas periodicamente utilizando os fatos e dados coletados.

Muitas hipóteses estarão incorretas, mas preste muita atenção ao refutar hipóteses, provar que uma hipótese não é válida é tão importante quando provar que ela é.

Após a definição da árvore de hipóteses, é necessário definir um plano de trabalho e adequá-lo às restrições do projeto. Para iniciar, tenha clareza do objetivo a ser atingido e de que ele pode ser atingido com os recursos disponíveis, caso negativo, é necessário reconsiderar um dos dois fatores. Em seguida, defina tarefas elencando o que deve ser feito para validar ou refutar hipóteses estruturando sempre um plano para gerenciamento destas tarefas aos recursos disponíveis. Para realização desse plano é altamente recomendável o uso de metodologias ágeis, pois elas nos ajudarão a nortear os trabalhos em busca do valor esperado, mesmo que sem um caminho completo traçado.

Para aplicar o conceito na prática, podemos usar como exemplo um case onde o objetivo é atravessar um determinado rio. No levantamento de hipóteses podemos considerar diversas alternativas — uma ponte, um caiaque, um barco a motor, um iate, uma balsa entre outros meios. Todos os meios listados têm potencial para atender um simples objetivo de se atravessar um rio, porém, quando se analisa os fatores de operação — existe correnteza neste rio? Qual a frequência de travessia? Quantas pessoas? Existem veículos envolvidos na operação? Qual a profundidade e cumprimento do rio? Qual o tempo necessário para entrega do projeto? Qual o orçamento pré-aprovado? — é possível refutar diversas hipóteses alcançando assim um número reduzido de possibilidades a serem aprofundadas até se obter a melhor tomada de decisão baseada em análises.

Para darmos seguimento ao nosso frame precisaremos do entendimento do processo atual, identificando suas etapas, atores, entradas e saídas. Essa etapa do frame será detalhada no próximo artigo, onde a apresentaremos de uma maneira diferente, detalhando como mapear um fluxo à distância, considerando o cenário da pandemia.

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