A vida sempre vence: Lançamento de AmarElo no Theatro Municipal

Beatriz
TRIUNFO
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4 min readDec 4, 2019
Foto: Jef Delgado

A primeira vez que fui ao Theatro Municipal foi com uns 6 anos com a minha avó, que era professora. Ela, minha mãe e minha tia foram minhas primeiras referências de construir novas possibilidades. O Emicida foi a minha primeira referência fora de casa e continua sendo a número 1 fora dela por conta da sua grandiosidade e importância. Voltei ao Municipal aos 21 anos para assistir ao show de lançamento de AmarElo que é uma das experiências mais especiais que já vivi junto à pessoas que amo e que me amam também.

Quando cheguei na frente do teatro e vi tantas pessoas semelhantes à mim aguardando para entrar, foi inevitável não sorrir. As duas seções foram carregadas de muita emoção tanto de quem assistia ao show, quanto de quem o fazia, entramos todos em uma mesma sintonia e com o mesmo propósito ali, de ressignificação, alegria, amor e gratidão.

Iniciado com “Ordem Natural das Coisas” e linda participação da Mc Tha — que cantou e dançou lindamente no palco — AmarElo também contou com as participações de Majur, Pabllo Vittar (e uma entrada triunfal), Jé Santiago e Drik Barbosa, além da banda e vocais incríveis, como a participação da cantora Jhama na música Ismália, que conseguiu passar uma emoção enorme assim como sentimos ao ouvir no disco com a Larissa Luz.

Drik Barbosa, Jé Santiago, Emicida, Pabllo Vittar, Majur e Mc Tha. | Foto: Jef Delgado

Emicida seguiu passeando entre as músicas do novo disco e trazendo também músicas dos discos anteriores, reforçando que sua essência continua tão presente que algumas músicas conversam entre si (o Rogedson escreveu algo bem legal sobre isso!). Teve também “Quem tem um amigo tem tudo” seguido pelo samba “A amizade” do grupo Fundo de Quintal, uma forma linda de homenagear a nossa música e ao mestre Wilson das Neves.

Fiquei muito feliz de poder ouvir “Eu gosto dela” ao vivo novamente, ainda mais na sequência que incluía também Alma Gêmea, Baiana e 9vinha, que contou com a participação linda da Drik Barbosa. O show assim como o disco, seguiu uma narrativa que se iniciava por um aspecto solar, passando pelo clima de tensão e indignação e terminando com a esperança e a vontade de vencer, que foi acompanhado de um cenário incrível que lembravam os vitrais de uma catedral com uma vista para o céu, que ia se alterando com o passar das músicas.

No meio de toda a correria da rotina, ir até o Theatro Municipal e assistir à esse show foi um respiro pra alma. Foi o momento de conseguir desconectar para se reconectar. Trazer um espetáculo desse porte, com uma equipe tão diversa — e com muitas mulheres! — e competente tanto em cima como por trás dos palcos, com o público que estava lá para vê-lo já estaria marcado na história, mas o Emicida tem sensibilidade suficiente pra entender que esse legado não está sendo construído sozinho e da importância que tem a luta do Movimento Negro Unificado que, há 30 anos atrás nas escadarias do mesmo teatro protestaram contra a violência para com a população negra, que não podia pertencer àquele local, fazendo com que, 30 anos depois, alguns desses importantes ativistas pudessem não só entrar no Theatro como também assistir à uma apresentação que falasse sobre a luta e próprio povo negro, mostrando mais uma vez, que somos muito mais do que cicatrizes. Ver essas pessoas que foram linha de frente para que hoje a gente pudesse ter muito mais direitos do que antes, já de cabelo branco, em pé e punho cerrado com uma força e garra imensa foi inspirador e é inesquecível. Lembrar desse momento para escrever esse texto, ainda me emociona.

Emicida, Simoninha e ativistas do MNU! | Foto: Jef Delgado

Como crer no impossível depois de sair de alma lavada desse show? Esse ano foi e está sendo muito turbulento em muitos aspectos para todos nós individualmente e como sociedade, e, para um mundo em decomposição como no qual vivemos, essa experiência é para nos fazer lembrar de manter o foco no que realmente importa e no que nos ajudará a seguir pra cima e pra frente, isso sim é Triunfo.

Só posso agradecer por conseguir ter prestigiado esse momento histórico onde era impossível não se arrepiar ao sentir a emoção tomando conta daquele espaço. Estávamos todos no mesmo propósito e ali eu pude concluir que o Leandro tem razão: a vida sempre vence. Obrigada por me libertar e continuar libertando todos nós.

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Beatriz
TRIUNFO
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Designer, afrofuturista, administro o fã Clube Triunfo e escrevo de vez em quando.