Home office: quando o sonho (ou pesadelo) vira realidade obrigatória
Uma pandemia e a necessidade de isolamento social me forçaram a revisitar a experiência do trabalho remoto — e a ganhar novos aprendizados
Trabalhar à distância não era uma escolha viável para mim. Mesmo diante dos benefícios, em uma lista de prós e contras, esta última sempre vencia em um debate interno e subjetivo na minha vida profissional. A pandemia do covid-19, porém, me colocou frente à necessidade de reviver a experiência do trabalho remoto e, consequentemente, a escrever uma terceira lista — dessa vez, de aprendizados.
Escrevi sobre essa lista pessoal de prós e contras neste artigo após uma experiência de trabalhar remotamente enquanto todo o meu time estava no escritório. Nem preciso dizer que a vivência foi totalmente distinta da que vivemos atualmente, o que justificou a ansiedade específica daquele momento.
Com todos vivendo a mesma situação, essa ansiedade deu lugar à outra que se divide entre muitas outras: manter o equilíbrio emocional em um cenário de incertezas (crise da saúde e da economia), separar a vida pessoal da profissional e reaprender uma rotina de trabalho que parecia ter a fórmula certa.
Afinal, este home office não foi pensado exatamente para vivermos ao mesmo tempo em que nos isolamos da sociedade, não é mesmo?
Todo dia a gente faz tudo sempre igual — e tá tudo bem!
O que mais se viu por aí no último mês foram dicas de como trabalhar em home office e adaptar a sua rotina para manter a produtividade (e a sanidade). E, de todas elas, a primeira e maior dica é de fato criar uma rotina, com horários bem definidos — algo que às vezes não acontecia nem mesmo trabalhando presencialmente.
Todo dia o despertador toca cedinho para dar tempo de meditar, tomar café, me exercitar e começar o trabalho em frente ao computador às 9h da manhã. Manter a rotina anterior de todas as manhãs com reuniões com os heads de tecnologia foi importante também.
A novidade de todo esse processo foi a mudança de comportamento saudável que adicionei ao meu dia a dia: hoje, milagrosamente cumpro com meu horário de almoço, sendo que, no escritório, usava apenas 15 minutos do tempo para comer. Até porque agora tenho que prepará-lo, e tem sido uma boa experiência pensar no cardápio da semana, em novas receitas e no que a gente realmente come.
Além disso, a transformação que qualquer workaholic tem dificuldade de aderir, ou seja, não trabalhar (muito) após o final do expediente, teve que ocorrer por aqui. Isso não significa que “a caneta cai”, mas, sim, que presto muita atenção em tentar separar o horário de trabalho do horário da vida pessoal — uma vez que agora o espaço é compartilhado.
Falando de espaço, essa é outra coisa que fiz diferente da minha outra experiência com trabalho remoto. Agora consegui ter um espaço para o trabalho dentro de casa. Tudo bem que ele é compartilhado com meu espaço de lazer (é onde tenho praticado violão e guitarra à noite), mas ainda assim, é um espaço dedicado.
É claro que, para mim, foi até que uma adaptação fácil quando comparo com a rotina de vários colegas meus, que precisam adequar essa realidade com um ingrediente a mais: seus filhos (empatia, meus amigos!).
E futuro, como fica?
Na Quero Educação, temos uma reunião recorrente (e remota) com o time de tecnologia (preciso escrever sobre isso futuramente), na qual abrimos espaço para responder perguntas dos nossos colaboradores de tech. Como já era de se esperar, perguntas relacionadas à adesão do home office aumentaram desde que entramos no isolamento social.
Sabemos que até as empresas de tecnologia mais tradicionais estão aprendendo e se adaptando com essa modalidade de trabalho para manter a segurança de todos os colaboradores. E sabemos também que, por ainda não termos data do fim da quarentena, muitas delas não vão retornar ao modelo presencial em sua plenitude.
Os pontos positivos são muitos e eu até posso incluí-los à minha lista anterior de prós:
- Menor custo: não há como negar que, principalmente para empresas que estão começando, menor espaço no escritório significa menos gastos financeiros para o gestor.
- Maior integração: quando todos estão em sua casa, noto que há um maior esforço dos colaboradores se integrarem como um time para que entreguem seus resultados.
- Cultura global: com escritórios em diversas cidades fora de nossa sede (São José dos Campos), às vezes era difícil transmitir a cultura aos que estavam em São Paulo ou em Fortaleza. A disseminação da cultura da Quero deixou de encontrar barreiras na distância e prevemos que será mais fácil de conduzí-la no futuro.
- Comunicação horizontal: com os esforços de manter a proximidade e transparência, nos acostumamos com iniciativas (algumas já existentes) de nos aproximarmos virtualmente de toda a equipe.
Mesmo com tantos pontos positivos, a questão cultural ainda é forte em nossa empresa. Nosso modelo de trabalho é presencial e, na minha visão, ela se explica com os benefícios do trabalho no escritório e sobre a necessidade do ser humano em interagir com seus colegas (leia a seção Somos Seres Sociais neste artigo em referência ao livro Leaders Eat Last, do Simon Sinek).
Nosso time de tecnologia precisa resolver problemas de nossos stakeholders, do negócio e dos usuários e, na maior parte das vezes, esses problemas são mais visíveis com as interações pessoais. Estar perto do time de parcerias ou da equipe de atendimento — e não a uma chamada no Slack ou no Hangouts — sempre foi o diferencial do nosso negócio desde seu início.
Dos aprendizados, a flexibilidade
Como líder do time de tecnologia da Quero, a experiência me abriu os olhos. Mesmo não estando em uma empresa tradicional, o isolamento social nos fez estudar novas possibilidades, como uma terceira via para chegarmos no mesmo grande destino que traçamos em nosso mapa: desenvolver tecnologias de qualidade para educação.
Não estamos vivendo o home office propriamente dito, por isso, não há como saber quais seriam os reais frutos colhidos por uma mudança de modelo de trabalho. Repito que a rotina atual é de isolamento social, o que nos faz trabalhar em casa, e não somente o trabalho remoto por opção.
A verdade é que, sim, estamos todos tentando ser colaborativos para entregar nossos resultados, garantindo o “team work” bastante existente nos squads da Quero. Por outro lado, a liderança se mantém ativa para estar presente e garantir o bem-estar dos seus times.
O maior ponto positivo foi aprender que a flexibilidade que já tínhamos em nossa jornada de trabalho funciona de fato, e deve continuar existindo a favor de todos.
Já era permitido o home office uma vez por sprint, mas ele pode se tornar uma realidade para os colaboradores que o acharem necessário junto de seu líder.
Agora, deixando o papel de líder de lado e pensando apenas como um profissional, meu maior aprendizado foi que adversidades nos fazem menos inflexíveis e mudanças são sempre bem-vindas. Hoje, eu sei que talvez um artigo de opinião sobre home office pode até virar uma série, já que estamos sempre mudando e vivendo experiências novas (espero que a próxima não tenha a ver com uma pandemia, por favor!).
Além disso, valorizar o tempo livre para lazer, bem-estar físico e emocional é mais que necessário. Por mais que sejamos apaixonados pelo nosso trabalho — e todos sabem que eu sou -, deixar um espaço na agenda para interagir com quem você aprecia a companhia ou para aprender novos acordes de violão é o que deixa a vida mais leve.
E você? O que aprendeu com o home office e o que tem feito para adaptar o modelo de trabalho de seu time?
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