Home office: quando o sonho (ou pesadelo) vira realidade obrigatória

Uma pandemia e a necessidade de isolamento social me forçaram a revisitar a experiência do trabalho remoto — e a ganhar novos aprendizados

Thomás Dias
Tech at Quero
6 min readMay 6, 2020

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Trabalhar à distância não era uma escolha viável para mim. Mesmo diante dos benefícios, em uma lista de prós e contras, esta última sempre vencia em um debate interno e subjetivo na minha vida profissional. A pandemia do covid-19, porém, me colocou frente à necessidade de reviver a experiência do trabalho remoto e, consequentemente, a escrever uma terceira lista — dessa vez, de aprendizados.

Escrevi sobre essa lista pessoal de prós e contras neste artigo após uma experiência de trabalhar remotamente enquanto todo o meu time estava no escritório. Nem preciso dizer que a vivência foi totalmente distinta da que vivemos atualmente, o que justificou a ansiedade específica daquele momento.

Com todos vivendo a mesma situação, essa ansiedade deu lugar à outra que se divide entre muitas outras: manter o equilíbrio emocional em um cenário de incertezas (crise da saúde e da economia), separar a vida pessoal da profissional e reaprender uma rotina de trabalho que parecia ter a fórmula certa.

Afinal, este home office não foi pensado exatamente para vivermos ao mesmo tempo em que nos isolamos da sociedade, não é mesmo?

Todo dia a gente faz tudo sempre igual — e tá tudo bem!

O que mais se viu por aí no último mês foram dicas de como trabalhar em home office e adaptar a sua rotina para manter a produtividade (e a sanidade). E, de todas elas, a primeira e maior dica é de fato criar uma rotina, com horários bem definidos — algo que às vezes não acontecia nem mesmo trabalhando presencialmente.

Todo dia o despertador toca cedinho para dar tempo de meditar, tomar café, me exercitar e começar o trabalho em frente ao computador às 9h da manhã. Manter a rotina anterior de todas as manhãs com reuniões com os heads de tecnologia foi importante também.

A novidade de todo esse processo foi a mudança de comportamento saudável que adicionei ao meu dia a dia: hoje, milagrosamente cumpro com meu horário de almoço, sendo que, no escritório, usava apenas 15 minutos do tempo para comer. Até porque agora tenho que prepará-lo, e tem sido uma boa experiência pensar no cardápio da semana, em novas receitas e no que a gente realmente come.

Além disso, a transformação que qualquer workaholic tem dificuldade de aderir, ou seja, não trabalhar (muito) após o final do expediente, teve que ocorrer por aqui. Isso não significa que “a caneta cai”, mas, sim, que presto muita atenção em tentar separar o horário de trabalho do horário da vida pessoal — uma vez que agora o espaço é compartilhado.

Falando de espaço, essa é outra coisa que fiz diferente da minha outra experiência com trabalho remoto. Agora consegui ter um espaço para o trabalho dentro de casa. Tudo bem que ele é compartilhado com meu espaço de lazer (é onde tenho praticado violão e guitarra à noite), mas ainda assim, é um espaço dedicado.

É claro que, para mim, foi até que uma adaptação fácil quando comparo com a rotina de vários colegas meus, que precisam adequar essa realidade com um ingrediente a mais: seus filhos (empatia, meus amigos!).

E futuro, como fica?

Na Quero Educação, temos uma reunião recorrente (e remota) com o time de tecnologia (preciso escrever sobre isso futuramente), na qual abrimos espaço para responder perguntas dos nossos colaboradores de tech. Como já era de se esperar, perguntas relacionadas à adesão do home office aumentaram desde que entramos no isolamento social.

Sabemos que até as empresas de tecnologia mais tradicionais estão aprendendo e se adaptando com essa modalidade de trabalho para manter a segurança de todos os colaboradores. E sabemos também que, por ainda não termos data do fim da quarentena, muitas delas não vão retornar ao modelo presencial em sua plenitude.

Os pontos positivos são muitos e eu até posso incluí-los à minha lista anterior de prós:

  • Menor custo: não há como negar que, principalmente para empresas que estão começando, menor espaço no escritório significa menos gastos financeiros para o gestor.
  • Maior integração: quando todos estão em sua casa, noto que há um maior esforço dos colaboradores se integrarem como um time para que entreguem seus resultados.
  • Cultura global: com escritórios em diversas cidades fora de nossa sede (São José dos Campos), às vezes era difícil transmitir a cultura aos que estavam em São Paulo ou em Fortaleza. A disseminação da cultura da Quero deixou de encontrar barreiras na distância e prevemos que será mais fácil de conduzí-la no futuro.
  • Comunicação horizontal: com os esforços de manter a proximidade e transparência, nos acostumamos com iniciativas (algumas já existentes) de nos aproximarmos virtualmente de toda a equipe.

Mesmo com tantos pontos positivos, a questão cultural ainda é forte em nossa empresa. Nosso modelo de trabalho é presencial e, na minha visão, ela se explica com os benefícios do trabalho no escritório e sobre a necessidade do ser humano em interagir com seus colegas (leia a seção Somos Seres Sociais neste artigo em referência ao livro Leaders Eat Last, do Simon Sinek).

Imagem retirada do Visual Synopsis, por Dani Saveker

Nosso time de tecnologia precisa resolver problemas de nossos stakeholders, do negócio e dos usuários e, na maior parte das vezes, esses problemas são mais visíveis com as interações pessoais. Estar perto do time de parcerias ou da equipe de atendimento — e não a uma chamada no Slack ou no Hangouts — sempre foi o diferencial do nosso negócio desde seu início.

Dos aprendizados, a flexibilidade

Como líder do time de tecnologia da Quero, a experiência me abriu os olhos. Mesmo não estando em uma empresa tradicional, o isolamento social nos fez estudar novas possibilidades, como uma terceira via para chegarmos no mesmo grande destino que traçamos em nosso mapa: desenvolver tecnologias de qualidade para educação.

Não estamos vivendo o home office propriamente dito, por isso, não há como saber quais seriam os reais frutos colhidos por uma mudança de modelo de trabalho. Repito que a rotina atual é de isolamento social, o que nos faz trabalhar em casa, e não somente o trabalho remoto por opção.

A verdade é que, sim, estamos todos tentando ser colaborativos para entregar nossos resultados, garantindo o “team work” bastante existente nos squads da Quero. Por outro lado, a liderança se mantém ativa para estar presente e garantir o bem-estar dos seus times.

O maior ponto positivo foi aprender que a flexibilidade que já tínhamos em nossa jornada de trabalho funciona de fato, e deve continuar existindo a favor de todos.

Já era permitido o home office uma vez por sprint, mas ele pode se tornar uma realidade para os colaboradores que o acharem necessário junto de seu líder.

Agora, deixando o papel de líder de lado e pensando apenas como um profissional, meu maior aprendizado foi que adversidades nos fazem menos inflexíveis e mudanças são sempre bem-vindas. Hoje, eu sei que talvez um artigo de opinião sobre home office pode até virar uma série, já que estamos sempre mudando e vivendo experiências novas (espero que a próxima não tenha a ver com uma pandemia, por favor!).

Além disso, valorizar o tempo livre para lazer, bem-estar físico e emocional é mais que necessário. Por mais que sejamos apaixonados pelo nosso trabalho — e todos sabem que eu sou -, deixar um espaço na agenda para interagir com quem você aprecia a companhia ou para aprender novos acordes de violão é o que deixa a vida mais leve.

E você? O que aprendeu com o home office e o que tem feito para adaptar o modelo de trabalho de seu time?

Este artigo também foi publicado no LinkedIn.

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