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É 13, confirma! [Rumo a 2022, n. 45]

Setembro de 2022: chegou a hora; amanhã é 13 confirma, pelo Brasil, contra o fascismo.

Gustavo Laet Gomes
5 min readOct 2, 2022

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Esta é a 45ª e penúltima edição da série Rumo a 2022 (conheça o nosso método). Todas as pesquisas apontam que é real a possibilidade de liquidar Bolsonaro no 1º turno. Não há justificativa para não votar em Lula.

Gráficos

Amanhã é o grande dia

O dia pelo qual esperamos durante quase quatro anos. O dia em que começaremos a tirar a desforra contra o fascismo. O dia em que começaremos oficialmente a derrotar Jair Bolsonaro.

Embora a imprensa tenha falado mal da campanha, repetindo a cantilena de sempre, incluindo o doisladismo cretino e o isensionismo barato, esta não foi um campanha ruim nem de longe. Ciro Gomes tentou emplacar a narrativa ridícula de que somente ele tinha “propostas”: o livrinho — parafraseando Brizola — que ele escreveu contendo um remix de propostas que surgem aqui e ali, sobre o qual ele assenta suas pretensões de originalidade e ainda reclama direitos autorais sobre ideias vagas de políticas públicas. Não é preciso nem repreendê-lo dizendo que não é assim que se constroem políticas públicas numa democracia. Ele sabe muito bem disso. Como ele mesmo diz: já foi governador. Quis pagar de tecnocrata — arvorando-se uma superioridade técnica que ele não detém. Foi um governador ok, um ministro ok. O “professor de direito” e “professor de economia”, discípulo do negacionista climático Mangabeira Unger, não é sumidade ou autoridade técnica em nenhum desses assuntos. Um voluntarista com mania de grandeza. Reduziu-se a um quarto lugar numa campanha contra um fascista que ele igualava ao candidato que liderou a maior Frente Ampla já construída na história deste país. Vergonha.

Simone Tebet fez uma campanha mais digna. Sai dela como uma importante liderança da chamada “direita democrática”, designação um pouco problemática, que não chega a ser contraditória, vá lá, mas a direita é e sempre será avessa à ideia de um governo popular, porque ela é o contrário do povo; é a elite e o atraso. Em todo caso, atraso é algo que pode ser compensado. Simone — cuja origem é o ruralismo sulmatogrossense — até formulou, no último debate, um discurso mais alinhado com a realidade climática do planeta, defendendo modernizações no agronegócio e a proteção dos biomas, reconhecendo uma verdade óbvia que é o fato de que não há necessidade de expandir a fronteira agrícola e que a agricultura brasileira pode se tornar mais produtiva com menos espaço do que ocupa hoje. Até aqui, isso não pode ser distinguido de um canto de sereia. Mas talvez Simone tenha percebido que é preciso mudar certas coisas para que uma direita que não seja fascista possa existir no campo moral. É preciso reconhecer algum mérito nisso. Ela sai maior do que entrou e com justiça termina à frente de Ciro Gomes.

Por fim, as palavras que podemos usar para descrever e qualificar a campanha do Lula são todos piegas: ‘amor’, ‘esperança’, ‘bonita’, ‘feliz’, ‘alegre’ etc. Porque ele se empenhou em resgatar nossa autoestima, nossa esperança de sermos um país, até mesmo a ideia de que nós — o “país do futuro” — podemos mesmo ter um futuro. “Populismo!” — dirão alguns. Será mesmo? O que eu aprendi nesses quatro anos é que populismo envolve afetos menos nobres: interesses mesquinhos, medo da perda de privilégios patéticos, falsas equivalências. Que diferença há entre o Estadão da escolha muito difícil e um Ciro Gomes que equipara um fascista a um democrata e, com isso, tenta conquistar votos a partir de um medo difuso que ele mesmo não pode sanar, sendo incapaz de construir uma mísera aliança sequer? Lula apelou para a solidariedade, para a empatia, para o reconhecimento de que somos melhores — e mais felizes — quando olhamos para o lado e nos preocupamos com o bem-estar de quem vemos, mesmo que não o conheçamos: quando pensamos que não queremos ver pessoas pedindo comida nas ruas, não porque elas nos incomodam ou porque temos medo delas, mas porque gostaríamos sinceramente que elas pudessem comer e ser felizes.

E Lula aprendeu muita coisa. Me lembro do seu primeiro discurso logo ao sair da cadeia. Naquele discurso, em 8 de novembro de 2019, ele já ganhou meu voto. Entretanto, ali, ele ainda falava muitas coisas que soavam ruins aos meus ouvidos, coisas antigas e ultrapassadas sobre as quais ele ainda não tinha tido tempo de refletir e reelaborar. Aos poucos, porém, ele foi dirigindo um ouvido atento para uma pluralidade de pautas que ele nunca havia acessado antes. Modulou o discurso, se tornou mais atento às palavras, mais inclusivo. Lembro como foi importante e forte seu discurso no Acampamento Terra Livre organizado pela APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) em abril de 2022 em Brasília. Eu estava lá, no fundo da tenda principal, atrás das cadeiras, ao lado dos fotógrafos e cinegrafistas. Ali ele assumiu um compromisso que ele repetiu e reforçou inúmeras vezes ao longo da campanha: de criar um Ministério dos Povos Originários, de acabar com o desmatamento, de expulsar o garimpo, de completar a demarcação de terras indígenas.

Eu não sou indígena, mas não é preciso ser indígena para saber o quão importantes são estes compromissos para o futuro do planeta. Assumir a presidência do Brasil, o país que detêm os biomas mais biodiversos do planeta, a maior floresta do mundo, em meio à maior crise já enfrentada pela espécie humana é assumir uma responsabilidade incompreensível para qualquer um de nós. Não temos o direito de falhar, nem podemos deixar de apoiar esse homem no maior de todos os desafios desta nação plural que precisa propor para o mundo uma nova forma de existir. O compromisso que ele assumiu ali com os povos indígenas brasileiros é um compromisso simbólico com a própria humanidade. O caminho para salvarmos o planeta passa necessariamente pela requalificação de nossa relação com a natureza e com os povos que mais a conhecem e que nunca a renegaram como nós fizemos. Eles precisam liderar e essa eleição também é sobre como viabilizar isso.

É por isso que tão importante quanto eleger Lula para remover o fascismo do poder é viabilizar a Bancada do Cocar no Congresso Nacional, elegendo mulheres indígenas como Sônia Guajajara (PSOL-SP, 5088), Célia Xakriabá (PSOL-MG, 5088), Vanda Witoto (Rede-AM, 1818) e reelegendo Joênia Wapichana (Rede-RR, 1818), pelo menos, e se possível ainda outras mais. Se tivermos pelo menos essas quatro mulheres no Congresso, tenho certeza de que veremos uma verdadeira Revolução neste país e no planeta.

Floresta de pé!
Fascismo no chão!

Acredito mesmo que a eleição presidencial será liquidada no 1º turno amanhã. Se não for, teremos um mês de outubro difícil, mas ainda assim sairemos vitoriosos.

No último episódio desta série, em 1 de novembro, farei um balanço geral dos resultados das eleições, incluindo as eleições estaduais. Bom voto amanhã. Vote 13 para presidente e escolha, se possível, candidatas indígenas para o legislativo. (E se for do DF, vote, por favor, contra Damares Alves para o Senado. Infelizmente, só há uma candidata que pode derrotá-la. Você sabe quem é.)

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