O retrato da corrida presidencial: 1º) Lula, 2º) Bolsonaro, 3º) Ciro Minnie, 4ª) Frozen Tebet (Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Não tem Plano B [Rumo a 2022, n. 42]

Junho de 2022: Bolsonaro já entendeu que vai perder: agora só lhe resta o golpe.

Gustavo Laet Gomes
4 min readJul 1, 2022

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Esta é a 42ª edição da série Rumo a 2022 (conheça o nosso método). Com a cristalização das intenções de voto sinalizando vitória de Lula no 1º turno, Bolsonaro se convenceu de que não tem mesmo como ganhar e agora aposta no golpismo como última tentativa de se safar da cadeia. Este segundo semestre será um dos mais desafiadores de nossas vidas.

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Faltam 3 meses para as eleições…

… e até Jair Bolsonaro já se convenceu de que não tem mesmo como ganhar. Isso significa que o golpe agora é o Plano A, e que não tem Plano B. Muita gente já tratou das motivações desse abjeto para almejar o poder — todas pessoais, todas escusas. Mas ele já abriu mão até da meta de ser um ditador. O que ele quer agora é apenas se safar, arrumar um jeito de não ir para a cadeia, seu destino inexorável. O núcleo de milicos malditos e caquéticos que o envolve parece ter outros projetos. O pior deles, Walter Braga Netto, conseguiu vencer a disputa com o Centrão e ser anunciado vice. O que certamente se deu depois de ele conseguir explicar para o Jair a verdade sobre a movimentação em torno da indicação de Tereza Cristina: um impeachment dali alguns meses, caso Bolsonaro fosse eleito. Era um golpe de misericórdia por parte de Ciro Nogueira e Arthur Lira — os governantes de fato do país que respira por aparelhos. O que veremos nos próximos meses é o início do desembarque do Centrão, ainda mais agora que eles conseguiram uma enxurrada de dinheiro para pilharem com a PEC do Desespero. O governo Bolsonaro já não tem mais nada para oferecer. Foram os anéis, os dedos não interessam.

As pesquisas eleitorais seguem estáveis e muito consolidadas. Lula caminha para vencer no 1º turno. Os outros nanicos não têm qualquer movimentação relevante. Os movimentos mais importantes são os acenos de Lula ao empresariado num contexto mais interessante que o de 2002, pois seu discurso agora tem o peso da experiência. Além disso, ele projeta Geraldo Alckmin como um elemento de equilíbrio e ponte com os setores conservadores minimamente civilizados. Disse ainda ontem (30/6) que não pretende disputar a reeleição em 2026 e que quer abrir espaço para lideranças mais jovens. Seu objetivo é recuperar nem tanto o país — porque ele sabe que isso levará mais do que 4 ou 8 anos de mandato — , mas sobretudo recuperar o sistema político e o diálogo institucional.

Mas essa também é uma tarefa difícil. A destruição bolsonarista é imensa tanto em profundidade quanto em extensão. Não há setor, da economia às áreas sociais, das polícias aos conselhos da sociedade civil, da educação à saúde, que não esteja destroçado, tanto em termos de recursos, quanto em funcionalidade. E diante da catástrofe climática, recuperar a imagem do Brasil no exterior — algo que eles também enfatizaram neste mês — deixou de ser uma questão de prestígio para ser uma questão existencial: é provavelmente daí que virão, se tivermos habilidade para isso, os recursos para requalificar nossa relação com os biomas e, quem sabe, ajudar a mitigar o sofrimento que está por vir.

Este relatório será breve. Não há nada mais a ser dito sobre a chamada “3ª Via”, exceto que é uma vergonha que exista isso diante do fascismo. Ao menos Simone Tebet teve a dignidade de sinalizar apoio a Lula e Alckmin no caso de um 2º turno. A última fagulha de esperança desse não-campo (porque ele é ideologicamente bastardo) é a possibilidade de Bolsonaro renunciar ou ser removido da disputa por uma ação judicial. A segunda é altamente improvável; a primeira talvez um pouco mais factível (embora também improvável), desde que se consiga produzir um acordo que o safe (ou ao menos que o convença de que ele se livrará) da prisão. Michel Temer bem que poderia utilizar seus poderes mágicos de convencimento para tentar instigar o Jair a fugir do país e renunciar. Facilitaria um pouco as coisas. Depois a gente põe a Interpol no encalço dele.

Quanto ao golpe, Braga Netto e Flávio Bolsonaro já falam abertamente nele, muito provavelmente porque notam a queda no moral de suas milícias. O Flávio sinaliza uma tentativa de golpe entre a eleição e a posse. Já Braga Netto parece ser adepto de uma tentativa de golpe antes mesmo das eleições, quem sabe em torno do 7 de setembro, como em 2021. Ele deve estar preocupado com a Copa do Mundo, que tem grande potencial de desviar as atenções. Fico pensando se não seria o caso de a própria esquerda — tapando o nariz para os vários ranços envolvendo a seleção brasileira, a CBF, a Fifa e o Catar — não deveria embarcar num certo ufanismo futebolístico para tentar criar um clima de unidade nacional e minar os ânimos golpistas dos verdamarelos. #ficaadica

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