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Química é tudo [Rumo a 2022, n. 37]

Janeiro de 2022: um mês de férias focado em articulações de bastidores a 9 meses das eleições

Gustavo Laet Gomes
6 min readFeb 1, 2022

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Esta é a 37ª edição da série Rumo a 2022 (conheça o nosso método). Sem grandes novidades, as posições se mantém mais ou menos as mesmas, mas as articulações estão correndo soltas.

Gráficos

Faltam 9 meses para as eleições…

… e como os políticos resolveram tirar férias e pegar a variante omicron, esse janeiro foi um mês de decantação.

As posições se preservam rigorosamente as mesmas, mas com a tal decantação dá para começar a entrever o que pode acontecer nos próximos meses. Por exemplo: João Doria patina. Ele afirma que as coisas vão mudar em maio e que ele está no mesmo patamar que estava quando ganhou a eleição para a prefeitura de São Paulo. Isso pode até ser verdade, mas naquela época ele teve apoio maciço do PSDB, encabeçado por ninguém menos que Geraldo Alckmin, que agora será — resta pouca dúvida disso — vice do Lula. Aliás, é incrível a antevisão política do Lula. Este trecho dos Diários da Presidência do FHC, que cito apud Fernando Barros e Silva na piauí_184, é incrivelmente profético:

À luz de hoje, o trecho mais curioso desses relatos se encontra na página 953 dos Diários. Num dos encontros que tiveram a sós, Lula especula sobre o futuro de FHC. Menciona a morte de Mário Covas (em março de 2001) e diz ao tucano que ele tem dois caminhos: “Ou você vai ficar como o Clinton, fazendo conferências, vai ficar famoso internacionalmente e até ganhar dinheiro, ou vai entrar na briga política do PSDB.” O petista afirma que Serra “não passa no conjunto do Brasil” e não seria um bom nome para assumir o comando do partido. FHC então registra que Lula ainda disse “outra coisa interessante”: “O Aécio é fogo de palha; o melhor que vocês têm é o Geraldo.” Duas páginas adiante, durante o jantar no Torto, Lula reitera o que havia dito. Repete o raciocínio para concluir que “o melhor é o Geraldo Alckmin” e diz a FHC que “o PSDB pode desaparecer como partido de influência nacional” se ele “não entrar na briga”.

Esse não é o único problema de Doria. Membros influentes de seu partido também sinalizam interesse na candidatura de Simone Tebet. Os movimentos recentes dela, que parece mesmo estar levando a pré-candidatura a sério, lhe garantiram o direito de mudar de cor no gráfico acima (para verde, sinalizando que ela é uma disputante a sério) . Embora siga sem chances reais de ir ao 2º turno, ela talvez já possa começar a sonhar com um 4º lugar, terminando à frente de Doria e talvez até de Sergio Moro.

O marreco segue falando besteiras épicas por aí. É tudo tão vergonhoso que eu pouparei o leitor de ter que repassar as asneiras que ele diz. Vale o registro apenas de sua confissão de ter se enriquecido às custas da Lava-Jato e utilizando informações privilegiadas para ajudar pessoas que ele condenou a se livrarem da justiça. Tudo, claro, mediante uma módica contribuição em milhões. Enfin, un juge voleur.

Moro parece ter batido no seu teto, que afinal não era tão alto assim. Pudera! A cada dia ele se mostra ainda mais imbecil do que o previsto. É inacreditável que ele tenha falado publicamente na possibilidade de trocar o Podemos pelo União Brasil. Não que o Podemos seja um partido bom, longe disso. Só que… você não faz toda uma cena para se filiar a um partido para disputar a eleição para presidente e dali dois meses diz que vai trocar de partido, e para um partido do Centrão. Vergonha total.

Quem parece estar conseguindo ganhar algum fôlego justamente batendo no juiz ladrão é Ciro Gomes. Algumas pesquisas já mostram os dois empatados numericamente com 8 %, daí os ajustes nas setas lá no gráfico — Moro com tendência de queda, Ciro de alta. Ainda não concedi o empate ao Ciro porque acredito ser necessário aguardar os resultados das próximas pesquisas das agências grandes. O Ciro segue fazendo seus eventos e conseguiu até uma atenção maior do que vinha tendo nos últimos meses. E desta vez no bom sentido, ou seja, por meio de suas propostas. Contudo, ainda está longe de ser possível sonhar com a possibilidade de tirar Jair Bolsonaro do 2º turno e de evitar uma vitória do Lula no 1º turno.

O Jair segue igual, ou seja um monstro maldito cometendo abominações. Mas houve uma novidade mais para o fim do mês com o episódio em que ele falta ao depoimento que tinha prometido fazer à PF por conta daquele caso em que ele apresentou documentos de investigações sigilosas vazados numa Live. Há quem avalie que ele ganhou uma vitória de Pirro. Eu não acho que foi nem isso. O saldo é um texto oficial da PF afirmando que ele cometeu um crime, ainda que a delegada específica não possa apresentar a denúncia por causa do foro privilegiado. Isso, a meu ver, coloca o Augusto Aras numa posição muito delicada: a materialidade das provas e, consequentemente, do crime é incontestável. Não apresentar a denúncia poderá, neste caso, diferentemente de outro que já tinha chegado ao CNMP, caracterizar prevaricação do PGR. A expectativa, claro, é que ele encontre meios para enrolar o processo. Mas tenho para mim que o STF tem mais meios de pressioná-lo diante de um material probatório tão robusto. A ver.

No mais, é preciso mencionar que um dos assuntos mais debatidos do momento são as federações partidárias, especialmente aquelas que giram em torno da candidatura de Lula. Tem muita torcida contra a federação com o PSB, mas até onde eu vejo, este movimento é inexorável. O que está acontecendo é basicamente uma tentativa do Carlos Siqueira de conseguir posições melhores para o seu partido, esperneando até o último minuto, bem como alguns setores do PT que não estão tão próximos do Lula tentando a mesma coisa internamente no partido (em troca de apoiar e viabilizar a federação com o PSB). Tudo isso vai se resolver necessariamente e o que se viu no Rio de Janeiro aponta nesta direção: a reafirmação da pré-candidatura do Marcelo Freixo (PSB) e fim da especulação em torno de André Ceciliano (PT), que confirmou que será candidato ao Senado. O PSB é muito mais cioso do que possa acontecer em Pernambuco do que em São Paulo, onde a candidatura de Fernando Haddad é praticamente certa.

Muito mais interessante e bem-vinda são as tentativas de reaproximar Lula e Marina Silva, que ganharam a mediação de Randolfe Rodrigues. Isso é necessário para viabilizar a federação do PSOL com a Rede e, por sua vez, para melhorar a posição da candidatura do Lula no tema do Meio Ambiente. Marina já colocou suas condições: ela quer um pedido de desculpas. Acho que tá barato.

Surgiu também, nos estertores, uma notícia de que o Gilberto Kassab poderia estar fazendo sinalizações na direção de Ciro Gomes. No entanto, a notícia específica é de um possível acordo com Eduardo Paes no RJ em torno de uma candidatura do PDT. Isso é pouco para alçar uma aliança nacional, pelo fato objetivo de que quem manda no partido é o Kassab, que só entra em time que ganha. O jogo do Kassab é sempre no sentido de valorizar seu passe para quem está ganhando, no caso, o Lula.

E se você se esqueceu que o Rodrigo Pacheco era pré-candidato, não se preocupe. Ele também esqueceu.

Alessandro Vieira, o sub-Moro, segue com seu delírio e não se dá conta que ninguém do seu partido quer se juntar com o marreco. Fala-se de uma federação com o PSDB. É triste porque o Alessandro é um cara incomparavelmente mais inteligente do que o Moro. Se sujeitar a fazer esse papel é muito vergonhoso.

E temos, por fim, a entrada de outro pangaré na disputa: André Janones, o genérico da rachadinha mineira. O que é divertido no caso dele, é que ele entra na frente de Tebet, Alessandro, Doria e Pacheco. Mas também não vai a lugar algum. No máximo vai formar chapa com Ciro e o Cabo Daciolo, que agora até tiram foto lendo a bíblia em culto.

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