Reta final [Rumo a 2022, n. 44]
Agosto de 2022: ainda tudo igual, mas agora o jogo se aproxima do fim, o que significa que nada mais deve mudar.
Esta é a 44ª e antepenúltima edição da série Rumo a 2022 (conheça o nosso método). Mesmo com o início formal da campanha, o cenário segue rigorosamente cristalizado. Lula será presidente. A última indefinição que resta é saber se vai ter ou não 2º turno.
Gráficos
Faltam 31 dias as eleições…
… e o que as pesquisas mostram é uma estabilidade impressionante. O cenário está cristalizado. É verdade que Jair Bolsonaro subiu lentamente ao longo dos últimos meses, mas o seu movimento é basicamente um deslocamento a partir do esvaziamento de outras candidaturas irrelevantes de direita e extrema-direita, como se vê no gráfico do Estadão Dados acima. Lula e Ciro Gomes seguem também rigorosamente estáveis, ao passo que Simone Tebet conseguiu angariar uma fatia ridícula desses mesmos indecisos que alimentam o parco crescimento de Bolsonaro.
O que isso significa é que a eleição está decidida. Lula será presidente, a não ser que ocorra alguma catástrofe totalmente imprevista. A catástrofe planejada, isto é, o golpe de Bolsonaro, também já está fora do horizonte. O que provavelmente veremos será um teatro de golpe no dia 7 de setembro, com grandes chances de ser bem menos ruidoso e tenso do que o 7 de setembro do ano passado.
Também é muito provável que a diarreia verbal do Jair descambe definitivamente, conforme o dia da eleição se aproxime e ele se afaste cada vez mais dos conselhos dos marqueteiros do PL. Aliás, outro fator determinante neste sentido será com certeza o gradual afastamento também dos candidatos do Centrão de um modo geral. Aqui no DF pelo menos, são raríssimos os candidatos a deputado federal ou distrital dos partidos que compõem a base e a coligação de Bolsonaro que mencionam o nome dele. Ainda é comum ver variações do bordão nazifascista/integralista “Deus, Pátria, Família”, mas mesmo esses candidatos não mencionam Bolsonaro. A Tchutchuca do Centrão já perdeu e agora só pensa nos Tigrões que o esperam na cadeia.
Como todos sabem, André Janones abdicou de sua candidatura em favor de Lula e passou a atuar com grande rebuliço nas redes sociais. Tampouco isso causou efeitos perceptíveis nas pesquisas, embora possa ter algum impacto na reta final, quando começará muito provavelmente uma campanha concentrada de voto útil em Lula para liquidar a eleição no 1º turno. Lula está no limiar da vitória no 1º turno, mas a margem de erro não permite uma aposta certeira. Basta, porém, que ele consiga virar cerca de 3 % de votos de Ciro e Simone para que isso se torne definitivo. É possível que esta variação ocorra na semana final e que no próximo episódio desta série seja possível cravar a vitória no 1º turno. Neste momento ainda não é.
Quanto aos dois principais eventos do mês — as entrevistas para o Jornal Nacional e o debate na Band — , não há muito o que dizer, uma vez que tudo indica que eles não geraram impactos significativos. Lula foi o melhor nas entrevistas. Bolsonaro foi o pior — conforme o esperado — nos dois eventos. Dizem que Tebet foi melhor no debate. Há muito de wishful thinking nisso. Reclamam da atuação de Lula no debate, mas ele adotou uma posição segura. Os ciristas e antipetistas que não querem Bolsonaro adoraram o desempenho de Ciro, mas a verdade é que ele fez o de sempre: vomitou dados cheios de imprecisão, algumas falácias disfarçadas sob sua retórica professoral e ficou se equilibrando entre o flerte com os fascistas e uma agenda que ele declara ser progressista, mas é cheia de contradições. Neste sentido, Tebet foi melhor mesmo: ela é, no fim das contas, mais coerente consigo mesma e com suas origens na direita.
[Considerando que poderá haver ainda algumas desistências entre os candidatos irrelevantes, deixarei para registrar a lista final de candidatos no próximo episódio.]
