Ricardo Stuckert

Tão deixando a gente sonhar [Rumo a 2022, n. 41]

Maio de 2022: Lula dispara, Bolsonaro espana, Doria sai, Bivar entra, Tebet tanto faz e o Ciro gomes.

Gustavo Laet Gomes
4 min readJun 1, 2022

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Esta é a 41ª edição da série Rumo a 2022 (conheça o nosso método). Enquanto o Datafolha indica vitória de Lula no 1º turno com 54% dos votos, Bolsonaro se torna cada vez mais errático. Doria desiste, Tebet (assim espero) se prepara para tomar uma rasteira, e Bivar entra na disputa para tentar ajudar Bolsonaro.

Gráficos

Faltam 4 meses para as eleições…

… e a última pesquisa Datafolha coloca Lula vencendo inequivocamente no 1º turno com 54% dos votos válidos. Embora a pesquisa não possa ser tecnicamente comparada com a pesquisa anterior, porque houve mudança no rol de candidatos apresentados ao público, uma vez que as mudanças foram realizadas em candidatos que tinham intenções pífias, é óbvio que podemos ver o salto de Lula, de 43% para 48% na pesquisa estimulada como impressionante.

A explicação mais difundida é que isso seria reflexo da rápida deterioração econômica e do processo inflacionário. Entretanto, este processo já vinha ocorrendo há muitos meses e há inclusive uma queda consistente do desemprego que passou de 15% em 2021 e agora em maio sofreu nova queda e chegou perto de 10%. Esse dado em si, obviamente, não indica melhora, porque o salário médio caiu drasticamente, e não só por causa da inflação, mas em valor nominal. Ou seja, esta queda do desemprego, por si só, não será capaz de reverter a crise econômica.

Para mim, o que explica esse salto de Lula é, na verdade, o simples fato de que a campanha finalmente saiu para as ruas, com o lançamento da chapa, e começou a chegar na população em geral. Até o mês passado, Lula talvez fosse visto como uma lembrança nostálgica, uma certa esperança de que algo pudesse mudar. A hesitação — corretamente motivada pelos prazos do processo eleitoral e os cuidados em evitar dar brecha para eventuais processos — acabava limitando o alcance da campanha. Agora ela saiu e as pessoas finalmente reconhecem Lula como candidato.

A possibilidade de vitória no 1º turno é real e sequer me parece necessário qualquer movimento neste momento no sentido de “voto útil”. Isso é assunto para setembro, quando faltarem duas semanas para as eleições. Um movimento neste sentido voltado para os fãs do Ciro Gomes (que provavelmente é o que resta ali naqueles 7% que ele pontuou) só serviria para dar palanque para alguém que está tão desesperado que se submete à indignidade de debater com comediante — e perder.

A outra notícia importante do mês foi a desistência de João Doria, marcada por um pronunciamento ressentido e estranho, diante de seus algozes do PSDB. O fim (segundo alguns, temporário) de Doria é uma ótima notícia, pois ele é produto da antipolítica e dos movimentos protofascistas surgidos na esteira de Junho de 2013. Já vai tarde. Nenhuma solidariedade com babaca.

Ato contínuo, Simone Tebet, aproveitou para lançar sua candidatura e sugerir que aceitaria um vice do PSDB. O PSDB, por sua vez, que já não funciona como partido, hesita em tomar uma posição. A turma de Aécio Neves volta a falar em lançar candidato, algo que, a princípio, soava incompreensível, mas que, com a entrada de Luciano Bivar na “disputa” talvez fique mais claro.

É que o objetivo da candidatura de Bivar é, abertamente, criar uma linha auxiliar para a candidatura de Jair Bolsonaro. Não tanto por compartilhar palanque, algo que seria muito descarado e meio sem sentido, pois não agregaria nada, mas por evitar que o enorme tempo de TV do União Brasil seja redistribuído entre os candidatos e acabe beneficiando sobretudo a candidatura de Tebet. Embora Lula e até Bolsonaro também se beneficiariam dos minutos a mais resultantes da partilha do tempo de TV do União Brasil, proporcionalmente, Tebet seria a maior beneficiada, e a “3ª Via” hoje só tira votos de Bolsonaro. Como ninguém vai votar em Bivar, a ideia é evitar que Bolsonaro sangre ainda mais na direção de Tebet.

No mais, a primeira reação de Bolsonaro ao saber da pesquisa Datafolha foi cancelar a live de quinta-feira, algo extremamente incomum. Ele também decidiu transformar a Petrobras em inimiga número 1 do país, tentou demitir o presidente que indicara há 30 dias e agora fala em vender a empresa (o que obviamente não resolve nada). Tampouco o aumento que ele pretende dar para o funcionalismo público (e até aqui segue sem fonte de financiamento clara) surtirá qualquer efeito. O fato é que o Brasil piorou muito. Jair já não tem nada para apresentar. Parece até que ele ficou meio aliviado em saber que vai perder logo no 1º turno. Até disse que vai participar de debates só no 2º turno. Começo a voltar a considerar a possibilidade de ele desistir de ser candidato pouco antes do pleito.

(A única notícia relevante sobre André Janones é que ele destinou mais de R$ 2 milhões em emendas parlamentares para financiar um show do Gusttavo Lima. Não precisa dizer mais nada, né?)

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