Estética Indie

Raquel Gilber
Tendências Digitais
5 min readMay 9, 2018

Como bem apontado nos textos Jogos Artísticos e Jogos Contemplativos, os jogos já deixaram de ser vistos como apenas entretenimento e vêem sendo vistos como forma de fazer arte, contar histórias, emocionar e chocar.

O principal tipo de jogo que busca essa inovação é o Indie, jogos desenvolvidos por empresas pequenas, poucas pessoas ou somente uma pessoa. São jogos em geral mais simples, de menor duração e que, portanto, busca impressionar e conquistar consumidores com maior enfoque na história, temática e roteiro, já que não podem em geral competir com os gráficos hiper realistas ou franquias já conhecidas de empresas maiores. Um elemento muito comum nesses jogos é provocar a empatia do jogador com o personagem, mundo e situação que o jogo traz.

O primeiro estilo simplificado adotado por vários jogos Indie é o Pixel Art, como abordado no texto:

Um dos exemplos é o One Chance, cuja narrativa se desenvolve em torno de um cientista que tem cinco dias para salvar o mundo. O maior diferencial do jogo é ser fiel ao seu conceito de que o jogador tem apenas uma chance, pois os dados do jogo ficam gravados no navegador e só é possível jogar uma vez, quando se abre o link a partir da segunda vez o jogo não reinicia como qualquer jogo online, a não ser que seja aberto por guia anônima ou por outros meios não convencionais.

One Chance.

Outro jogo que utiliza a Pixel Art é Undertale. Esse exemplo não somente possui em seu roteiro a premissa da empatia, mas é considerado um jogo crítico, pois possui em sua mecânica um questionamento sobre as funções padrões de seu gênero RPG, a necessidade de lutar com inimigos e o quanto essa escolha do jogador afeta o universo do jogo. Isso também foi abordado no texto Jogos de Múltipla Escolha .

Undertale.

Apesar da interface contribuir para a mentalidade comum dos jogos de que lutar é necessário e vencer é o objetivo, Undertale traz uma abordagem diferente que incentiva o diálogo e a paciência.

As escolhas mais relevantes do jogo se encontram na tela de batalha. Ao contrário do convencional RPG, lutar não é a única solução.

Além do Pixel Art existe uma solução simples no 3D que são jogos em Low Poly, que são gráficos bastante simplificados e mais fáceis de serem não apenas reproduzidos mas gerados por máquinas menos potentes, o que configura exatamente a situação de vários produtores de jogos Indie.

Um exemplo muito marcante de jogo Low Poly que possui enfoque no sentimento de empatia é Shelter da empresa Might and Delight.

Os dois jogos da franquia trabalham a temática do sentimento maternal, uma mãe protegendo seus filhotes (no primeiro caso um texugo e no segundo um lince) de predadores e de outros fenômenos naturais enquanto os alimenta e cruza a floresta para um local mais seguro.

Existem produções indie com gráficos melhores em 3D, como o caso de Brothers a Tale of Two Sons. O jogo traz a mecânica de controlar dois personagens (irmãos) ao mesmo tempo (cada um com um direcional do controle ou partes do teclado) para resolver os puzzles do mapa. A trilha sonora e storytelling são magníficos e um elemento que exercita mais ainda a empatia do jogador para com os personagens é a falta de diálogo e uso de gestos e expressões dos personagens para expressar o que estão sentindo e do que estão precisando.

Um dos primeiros Puzzles que requer os dois irmãos: Chegar a lugares mais altos. O mais velho auxilia o mais novo a subir.
Ao subir o mais novo lança a corda que está enrolada na superfície mais alta para seu irmão poder subir.

Outra solução graficamente mais elaborada é The Cat Lady, um point and click 2D que aborda temas mais mórbidos como depressão, suicídio, paranóia e etc.

O exemplo mais recente de jogo crítico e que também aborda temas pesados como depressão e suicídio é Doki Doki Literature Club, um formato de jogo Visual Novel.

Menininhas anime, cor rosa predominante na interface, musiquinha agradável, o que pode dar errado?

Ao contrário do exemplo de Cat Lady, a intenção de Doki Doki é pegar o usuário de surpresa com interface e ambientação completamente adversos ao quanto sombria é a história. Outra inovação que o jogo traz é a utilização direta das pastas de arquivos do jogo na jogabilidade.

Quem vai se dar o trabalho de ficar checando os arquivos do jogo? Afinal eles não irão sozinhos a lugar nenhum, certo? Certo?

Depois que o verdadeiro cunho mórbido da história é revelado ao jogador, a glitch art passa a fazer parte fundamental da identidade visual, para passar a impressão que o jogo está realmente quebrado.

Jogos considerados artísticos ou críticos possuem o diferencial de trabalharem essencialmente com a empatia e vários deles exploram jeitos inovadores de interação com o usuário por meio de mecânicas novas ou que contradizem o mainstream. As soluções gráficas mais comuns são o Pixel Art e o 2D, especialmente nos casos de equipes muito enxutas.

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