Jogos Relaxantes

Victor Gabriel
Tendências Digitais
6 min readNov 11, 2018

O mercado de jogos eletrônicos têm crescido muito rapidamente nos últimos anos — consequência do fato de que seu público tem aumentado, indo de algo que era considerado um nicho no passado para algo que, hoje em dia, pode ser visto na mão de qualquer pessoa, de qualquer idade. Por causa disso, jogos vêm abrangendo mais áreas do que anteriormente, e ao invés de prover apenas uma experiência ativa, com uma história emocionante, vários desenvolvedores vêm tentando incluir o contrário, incluindo um gameplay mais calmo, ou um jogo com foco em relaxar o jogador.

O fato de jogos eletrônicos estarem se abrindo à um gênero que vai, de certa forma, contra o que jogos populares e clássicos vem construindo durante anos: ao contrário de um gameplay cheio de ação, você acaba com um jogo em que você pode respirar, levar seu tempo, aproveitar a vista e o cenário, ou focar apenas na história. A maneira no qual desenvolvedores querendo criar um jogo com tal foco atingem tal meta varia: alguns preferem lidar com os gráficos, enquanto outros procuram focar no design de som.

Enquanto tal estilo de jogo não é novo, é interessante ressaltar que esse “boom” no mercado só aconteceu recentemente, já que com abertura do mercado, veio um público procurando uma experiência diferente do normal. Entretanto, para entender do que se tratam jogos relaxantes, é interessante analisar tendências já existentes que pertencem a categoria e ver o que colocam em jogo e por quê pertencem ao estilo, além de exemplos que fizeram sucesso.

Uma tendência que pode ser vista comumente em jogos relaxantes são jogos contemplativos, que Thainara Meneghelli (2017) define como jogos onde o objetivo não é ganhar ou perder, mas no que o jogador passou durante o jogo. Ou seja, o foco do jogo não é, por exemplo, chegar até o fim com a maior quantidade de pontos, ou atingir uma meta para finalizar o jogo — é sobre a sua experiência como jogador dentro do mundo fictício, fazendo com que o mesmo reflita sobre suas ações e o mundo ao seu redor. Um dos exemplos mais populares, que inclusive, também é citado por Thainara em seu artigo, se chama Journey:

Journey.

Journey é um jogo único pois, ao contrário de diversos jogos multiplayer onde o foco é trabalhar em conjunto com outro jogador através de comunicação, o jogo não te dá opções de falar com o seu parceiro. Devido a tal fato, como a interação entre os dois jogadores se torna mínima, o foco do jogador acaba voltando para o mundo ao redor, e como sua interação com o outro pode afetá-lo. Porém, existem outras maneiras no qual desenvolvedores chegaram a resultados similares. Enquanto em Journey seu papel e o mundo são ambíguos, The Legend of Zelda: Breath of the Wild, lançado em 2017 conta a história de um grande mal que destruiu o mundo, e você é jogado no papel do herói, que foi derrotado e só recuperou suas forças muitos anos depois.

Breath of the Wild.

O jogo, enquanto tem elementos de ação, se difere comparado à outros jogos da série: devido a temática de exploração de um mundo onde uma guerra foi perdida, o jogador acaba viajando por um mundo onde tudo é mais calmo e silencioso. A música é muito mais calma e minimalista do que em outros jogos da série, e a história é deixada de lado em favor de um foco na exploração do mundo, conhecendo pessoas e resolvendo problemas — ou seja, não é sobre completar o jogo, mas sim, sobre como cada jogador terá uma aventura única, refletindo sobre suas ações.

Outro jogo que encaixa na tendência, por exemplo, é Stardew Valley (2017): um simulador de fazenda, onde seu objetivo é trazer uma fazenda abandonada de volta à ativa, fazendo amigos com pessoas de um pequeno vilarejo. O simulador permite aos jogadores criarem uma fazenda da maneira que quiserem; e enquanto o jogo te dá um pequeno objetivo e tem certos elementos de ação, você não tem um tempo limite para completá-los, podendo realizar ações no ritmo que preferir. O interessante, entretanto, é comparar com a série no qual o jogo foi baseado: Harvest Moon. Enquanto a série tem a mesma temática, onde o objetivo é fazer com que uma fazenda abandonada se revitalize, os desenvolvedores requerem que tal objetivo seja dentro de um tempo limite: ou seja, o jogo não tem um foco na experiência, mas sim, quão rápido você pode atingir o objetivo para ganhar o final bom.

Stardew Valley

Outra tendência são jogos como aliviadores de tensão, como catalogado por Ryan Lopes (2017). Enquanto define tal estilo seguindo um certo padrão de estilo, o mais interessante é o fato de que foca em jogos mobile; um mercado que vem crescendo rapidamente nos últimos anos.

Página da Play Store do jogo “◉ CONNECTION”

Devido à natureza portátil do smartphone, vários desenvolvedores vêm focando na plataforma, investindo no mercado e criando jogos eletrônicos mobile, já que hoje em dia, grande parte da população tem um celular. Enquanto existem diversos jogos de ação, também é comum encontrar jogos que focam justamente na tendência, que é o alívio de stress e tensão. Uma breve passada pela Google App Store, que disponibiliza jogos mobile para smartphones com o sistema Android, mostra a existência de diversos jogos que seguem a tendência; e alguns até mesmo tem como um de seus pontos principais a redução de stress, como visto em “◉ CONNECTION”.

Enquanto o artigo de Ryan foca no meio mobile, é interessante notar que em plataformas como desktop ou console também existem jogos cujo foco é aliviar tensão. Viridi, lançado em 2015, é jogo lançado na plataforma Steam onde o seu objetivo é apenas cuidar de um pote de plantas que pouco a pouco vão crescendo. Os desenvolvedores descrevem o Viridi como um “refúgio, um lugar onde você pode retornar caso queira um momento de paz e quietude.”.

Viridi

Após analisar as tendências mencionadas anteriormente, é possível perceber que jogos relaxantes tem um foco em criar uma experiência calma, porém divertida para o jogador: por exemplo, a remoção de objetivos com tempo limite permite jogadores a completar o que querem, quando querem, e no ritmo que preferem. CONNECTION dá todo tempo do mundo para um jogador completar um puzzle. Breath of the Wild, citado anteriormente, também faz o mesmo: ao contrário de dar uma experiência linear para o jogador, coloca-o em um mundo aberto, onde pode explorá-lo o quanto quiser até se sentir preparado para lutar contra o último “chefe”.

Entretanto, uma experiência calma não precisa ser não-linear: Journey é um jogo onde os eventos são lineares, com o jogador e seu parceiro explorando certas seções do mundo. O que torna um jogo normal em um relaxante é um onde é possível se perder por alguns momentos; esquecendo as preocupações da vida e aproveitando o momento dentro do mundo fictício.

O futuro da tendência é claro: o mercado de jogos vêm crescendo rapidamente, e com isso, a demanda por jogos do estilo. Desenvolvedores indies, tanto quanto grandes empresas vêm tentando criar jogos que encaixam dentro da temática: Ooblets, desenvolvido por Glumberland, é um exemplo que ainda está para ser lançado, enquanto Tetris Effect, desenvolvido pela Enhance Games, tenta repensar Tetris de uma maneira que o jogador possa se imergir nele.

Ooblets, ainda em desenvolvimento.

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