Simplificação de Interfaces

Victor Gabriel
Tendências Digitais
6 min readNov 8, 2018

A simplificação de interfaces é um dos principais objetivos durante a criação de um sistema ou produto e designers sempre chegam a tal ponto de diversos jeitos, como a utilização de um estilo mais limpo como o design minimalista ou reduzindo o texto encontrado em uma interface.

Como a área sempre tende a mudar, é possível observar mudanças nas tendências sendo utilizadas para chegar à um ponto em que a usabilidade do produto é confortável para o usuário — especialmente recentemente, por exemplo, com jogos adotando interfaces muito mais limpas do que anteriormente vistos. As maneiras que um sistema pode se tornar mais simples são variadas e podem ser vistas em diversos meios.

Uma das tendências observadas que fazem parte da simplificação de interfaces, por exemplo, é a utilização de elementos mais sutis para a interface em jogos. Ao tornar algo que anteriormente tomava conta de grande parte da tela em algo pequeno, e muitas vezes, que não fica muito tempo na tela, é possível deixar o jogo com uma tela muito mais simples, permitindo que o foco do jogador seja no gameplay. Alguns jogos que utilizam disso são, por exemplo, os jogos da desenvolvedora Quantic Dream, como Heavy Rain, Beyond Two Souls e Detroit: Become Human. Os jogos, tendo um foco muito mais cinemático do que a maioria, não incluem muitos elementos de interface, somente aparecendo quando o jogador deve realizar alguma ação, como desviar de um carro ou escolher uma opção de diálogo.

Detroit: Become Human e sua interface simplificada

Existem outros que adotaram interfaces sutis em lançamentos recentes, como por exemplo, Mario Kart 8 da Nintendo, que abandona elementos grandes como retratos de personagens em favor de algo mais simples, mas que ainda pode ser visto facilmente durante as corridas.

Comparação entre a interface apresentada ao jogador em Mario Kart 64, contra o jogo mais recente da série, Mario Kart 8.

Além do sutil em jogos, é interessante notar que o web design também foi afetado por uma tendência similar, focada em simplificar a visualização do conteúdo em páginas. Os chamados “Sites Parallax” são sites onde o usuário, ao contrário de clicar em diversos botões para chegar onde deseja, procura apresentar todas as informações relevantes em uma única página — fazendo com que a pessoa visualizando o site apenas utilize da roda de rolagem de seu mouse para ver o que deseja. Enquanto alguns ainda usam botões para chegar em áreas de menos importância, é uma maneira sutil de criar um impacto no usuário, mostrando conteúdo de maneira fácil e possivelmente interativa, com, por exemplo, animações acontecendo de acordo com quando o usuário gira a roda de rolagem.

Exemploe de um Site Parallax horizontal.

Porém, simplicidade não precisa ser apenas atingida através da sutileza — voltando para jogos, elementos de interface podem ser separados de diversas maneiras: meta, espaciais, não-diegéticos e diegéticos; com o último sendo uma tendência que também vem aparecendo cada vez mais em jogos como uma alternativa para a simplificação. Elementos diegéticos de interface procuram apresentar informações de uma maneira que façam parte do mundo do jogo. Exemplificando, no jogo Dead Space, a vida do personagem, ao contrário de ser representada por uma barra em um dos cantos da tela, passa a ser mostrada na armadura do personagem. Funciona com a temática sci-fi do jogo, e condiz com os princípios do design: a cor da área onde a vida do personagem é apresentada na armadura é mais saturada e viva do que o resto do jogo, utilizando do ciano até o vermelho.

Barra de vida do jogo Dead Space 2, que se encontra na armadura do personagem principal.

Através da utilização de elementos diegéticos em um jogo, é possível simplificar a maneira que a interface é apresentada ao jogador, disfarçando-a como se fosse parte do jogo, e até mesmo criando uma experiência mais imersiva, em certos casos.

Outra alternativa para a simplificação de interfaces pode se dar através da customização. Uma tendência que vêm ficando ganhando mais atenção em tempos recentes, a customização pode ser vista em diversos meios, e de diversas maneiras. Porém, o interessante da customização é que a simplificação não é realizada pelo designer, mas pelo usuário — de tal maneira, o mesmo pode tornar a interface mais simples para si mesmo. O objetivo do designer nesse caso, então, é criar uma interface funcional, mas que quando customizada permite ao usuário obter resultados melhores. Por exemplo, a habilidade de um usuário do sistema operacional Windows de mover executáveis em seu desktop é uma forma de customização, permitindo que reposicione-os de maneira a saber onde cada coisa está, e como consequência, torne a utilização do sistema mais simples. E mesmo assim, nem sempre é o bastante — existem programas que permitem a customização de elementos maiores que executáveis em um desktop, como o Rainmeter— permitindo ao usuário mudar sua interface para algo que apresente todas as informações necessárias como tempo, horário, lista de músicas e programas importantes na área de trabalho.

Exemplo de desktop para o sistema operacional Windows modificada com o uso do Rainmeter, permitindo ao usuário criar elementos na tela como: um relógio maior, ícones maiores e integração com spotify, por exemplo.

A customização também pode ser vista em jogos. MMORPGs como Final Fantasy XIV permitem ao usuário mudar os elementos de toda a sua tela — sua posição, tamanho, e orientações. Isso se dá devido ao grande número de botões na tela — certas usuários podem preferir menus de um lado, enquanto as habilidades ficam em outro.

Interface de modificação de interface no jogo Final Fantasy 14. Cada retângulo é um elemento que pode ser arrastado pela janela, além de ter seu tamanho aumentado ou diminuído.

Em outros jogos, como o recém lançado Red Dead Redemption 2 ou Legend of Zelda: Breath of the Wild permitem ao usuário esconder certos elementos de interface caso desejem, tanto por motivos de imersão, quanto por motivos de simplificação: os dois jogos não precisam do mini-mapa para serem jogáveis, logo é um elemento que pode ser removido, tirando algo que o jogador decidiu não ser necessário da tela.

A criação de uma interface que possa ser usada facilmente por qualquer tipo de usuário é um dos principais objetivos de uma pessoa que trabalha em tal ramo, e com isso, acaba trazendo conceitos como a simplificação para a mesa. Devido a tal fato, é inevitável que designers continuem procurando maneiras de criar uma interface mais simples, seja através da sutileza; de elementos que são claros, mas devido a maneira que foram implementados, não fazem o usuário percebê-lo; ou até mesmo dando controle de parte do sistema para que uma pessoa simplifique-o da maneira que achar mais efetiva.

A simplificação anda de mãos dadas com o design, e devido a isso, é difícil dizer que vai parar de ocorrer em tempos futuros. Porém, o que é possível acontecer são a criação de mais maneiras no qual a utilização de sistemas pode ser simplificada com o surgimento de novas tecnologias.

--

--