Transformação cultural: experimente, aprenda e adapte continuamente

Cali (Renato Caliari)
Tentaculus
Published in
5 min readAug 21, 2020

Atualmente vivemos em um mundo Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo (VICA).

As mudanças são instáveis, os eventos são imprevisíveis, fatores diversos e conectados estão em jogo e as relações causais não são evidentes.

Muitas soluções organizacionais do passado já não servem para o presente. Mesmo as soluções atuais de outras organizações podem não servir em nosso contexto ou não oferecem o mesmo efeito.

A situação atual de muitas organizações não é algo de se orgulhar: desengajamento, estresse e falta de inovação.

De acordo com David J. Snowden, criador do framework Cynefin, a maioria das situações e decisões nas organizações é complexa porque algumas mudanças importantes introduzem imprevisibilidade. Nesse domínio, podemos entender porque as coisas acontecem apenas em retrospecto.

Não é possível prever os efeitos e não há garantia dos mesmos resultados ao seguir uma receita ou simplesmente copiar e colar algum processo.

Por isso, a abordagem indicada é experimentar, aprender e responder.

Entendi, e como posso fazer?

Comece com perguntas geradoras e descubra oportunidades para experimentos

Algumas perguntas podem ajudar:

  • Quais são as forças em jogo no que você está observando na organização?
  • Quais são os padrões de interação que emergem? Há padrões conflitantes?
  • Quais padrões recorrentes podem ser observados na organização ou mesmo fora dela em contextos semelhantes? O que esses padrões inclinam o sistema, de onde emergiu, a fazer? E o que esses padrões inclinam o sistema, de onde emergiu, a não fazer?
  • Quais são as diferentes perspectivas ao se aproximar de um cenário/contexto e também ao olhar de forma distante englobando mais cenários/contextos? Quais outros elementos e padrões são percebidos?
  • Quais processos ou sistemas de gestão contribuem mais para enfraquecer iniciativas e a inovação na organização?
  • O que tem impedido você e outras pessoas de avançar mais rápido em seu propósito e fazer o melhor trabalho possível? Seja alguma política interna, ferramenta, tecnologia ou qualquer outra coisa.
  • O que tem sido difícil ou frustrante no seu trabalho e nos relacionamentos com as pessoas do trabalho?
  • Quais são os bloqueios e gargalos no seu fluxo de trabalho?
  • O que te impede de ser mais eficaz no trabalho que você precisa realizar?

Explore outras perguntas geradoras e poderosas.

Crie um mapa e visualize as descobertas

  1. Escute mais pessoas no intuito de entendê-las para ter mais perspectivas.
  2. Descubra padrões (ou temas).
  3. Crie um mapa contendo esses padrões.
  4. Encontre as conexões e relações entre esses padrões, representando as associações entre eles no mapa.
  5. A partir desse resultado identifique oportunidades em potencial para experimentação.
  6. Convide pessoas para participar da experimentação. Não tente forçar pessoas que possuem maior resistência ao que deseja propor. Comece com pessoas que já compartilham das mesmas dores e desejo de mudança.

Faça experimentos — intervenções e pequenas adaptações

A autora no assunto de complexidade, Jennifer Garvey Berger, dá algumas orientações para uma abordagem de experimentação para lidar com cenários complexos:

  • Dê direção em vez de destino ao navegar em um cenário complexo — o destino é algo muito estreito e fixo. Você deseja algo mais aberto e com uma grande margem para experimentos.
  • Experimente pelas bordas — sistemas mudam mais fácil pelas bordas e não pelo centro de uma questão. Quando você explora as margens de um problema complexo você torna o espaço da solução cada vez maior.
  • Seja pragmático — experimentos pequenos e baratos que estão dentro da sua área de controle, e que você pode aprender e adaptar rapidamente. Você não quer esperar para saber qual o melhor experimento e sim fazer pequenas apostas que sejam seguras para falhar.
  • Torne lúdico e divertido — isso favorece você continuar experimentando e contagiar outras pessoas interessadas. Isso pode aumentar as chances de criar experimentos que empurram o sistema para algo novo.

Jennifer ainda diz que a intenção não é selecionar o melhor experimento de todos os tempos, pois não sabemos o que irá funcionar até experimentar. Essa é a questão da complexidade. O ponto é escolher muitos pequenos experimentos divertidos que com o tempo vão empurrando o sistema para o novo lugar. Cada experimento que você cria será em cima do aprendizado que teve com outros experimentos até que você vai se tornando cada vez melhor nisto.

Adicione cinco ingredientes

Mary Mesaglio diz que para um bom “culture hack” (pequenas adaptações) pode ser necessário cinco ingredientes principais:

  • Acionável: as adaptações devem escalar naturalmente, permitindo que se tornem “virais” em toda a organização. Facilite a adoção das adaptações por pessoas de todos os níveis. Isso é importante no início de uma crise, quando as equipes se deparam com desafios altamente táticos que precisam superar antes de examinar qualquer coisa a longo prazo.
  • Baixo esforço: a maioria das pequenas adaptações deve ser projetada e executada em poucas horas. Se uma equipe leva meses para se preparar, não é uma pequena adaptação. No entanto, não confunda pouco esforço com pouca coragem. Muitos das melhores adaptações são simples de preparar, mas requerem coragem para serem executados.
  • Imediata: os efeitos de uma adaptação devem ser imediatos. Os seres humanos não têm habilidade em gratificação tardia, então, se levar meses para uma mudança se manifestar, será difícil fazer as pessoas embarcarem. Isso é especialmente verdadeiro em uma crise, em que os líderes precisam tomar grandes decisões rapidamente, no início, e depois descobrir maneiras de manter seu pessoal motivado durante os meses que se seguem à resposta aguda inicial.
  • Visível: a adaptação deve ter alto poder de sinalização para um grupo significativo de pessoas, mostrando a elas que algo mudou. Determine como as coisas mudaram e tornar isso transparente e visível para todos.
  • Emocional: a mudança é principalmente um processo emocional, não analítico. Sua adaptação deve provocar uma reação emocional, como surpresa, choque, orgulho, alegria, humor, desconforto ou até medo. Em tempos de crise, os líderes devem incitar emoções positivas, uma vez que já existe medo suficiente.

Viralize as adaptações e amplifique os efeitos

(inspiração do texto Cynefin for Everyone!)

  • Se você estava envolvido, conte a história!
  • Apresente a novidade para outras pessoas.
  • Ajude alguém a fazer a adaptação funcionar em sua equipe.
  • Faça a adaptação com mais pessoas! Convide mais pessoas!
  • Torne isso uma parte explícita do acordo da sua equipe, de suas maneiras de trabalhar ou de suas políticas de processo.

Aceite os resultados não esperados e aprenda

Saiba que vários experimentos não irão trazer os resultados esperados.

Aceite e comemore: você aprendeu algo com isso de forma barata, rápida e com baixo risco.

Em um mundo VICA, nem definir um problema é algo fácil — se é que isso seja possível — quanto mais prever seus efeitos. (Veja mais no texto “Problemas em um mundo complexo”).

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