Como montar um protótipo para teste de usabilidade remoto?
Falamos das principais ferramentas para criar protótipos, com dicas práticas. ;]
Okay, você já viu onde fazer o teste de usabilidade, viu que o participante fica mais à vontade com testes remotos, já aprendeu quais tarefas funcionam nos testes e quantos participantes chamar. Agora é só fazer o protótipo e rodar o teste. Ixi! Mas por onde começar?
Teste sem moderador = Alugar um sítio
Em testes remotos, você precisa entregar o protótipo para o participante testar. Para isso, você pode pedir para ele baixar seu protótipo, acessar um link, enviar o código fonte e pedir para ele compilar e gerar o executável — Não, espera! Não pode, não!
Para seu teste funcionar bem, você precisa concentrar os esforços cognitivos do participante na realização da tarefa. Todo o resto deve ser o mais simples possível. Vou ilustrar a situação de um teste remoto, contando uma historinha fictícia, mas muito familiar:
Uma vez peguei um sítio no Airbnb (tô fazendo publicidade e SEO de graça, me dá desconto, povo!). Peguei a chave com o dono, anotei o número de telefone dele e fui. Chegando lá, fui tomar um banho e… cadê a água?! Liguei pro dono e ele não atendia… Bom, vou tomar banho de caneca, não tem jeito!
Fui pra cozinha, botei água na caneca e liguei o fogão — ou tentei. O cabo na tomada não ajudava em nada a soltar as faíscas para acender a chama. Procurei, procurei e achei uma caixinha de fósforo em cima da geladeira. Enfim, banho tomado e fim de dia para mim.
No dia seguinte, fui ligar a luz e ouvi uns barulhos estranhos na caixa. Em seguida, a lâmpada queimou — PAF! Era só o que me faltava… Peguei meu celular e vi a seguinte mensagem:
Ô, Christian, esqueci de avisar! Pra você tomar banho, tem que ligar a bomba do poço, lá fora. E se for usar o fogão, tem que usar um fósforo, tá em cima da geladeira. Abraços!
Mas e a lâmpada? Adivinha quem recebeu zero estrelas (ele) e quem está com cabelos a menos pela raiva que passou (eu)?
Pois é. Coisas do dia-a-dia, que achamos que vai funcionar como esperamos e não funcionam, tiram a gente do sério. E como adivinhar ou descobrir cada truquezinho para seguir adiante?
Na história que contei, o dono do sítio não estava presente e não consegui falar com ele durante minhas dificuldades. Ele poderia ter deixado uma mensagem pra mim no aplicativo, mas é quase certo que eu esqueceria. Esqueceria até que ele enviou essa mensagem, me conhecendo bem. Ele poderia deixar um manual na entrada da casa, mas eu poderia nem ler — ou até ler, mas sem prestar muita atenção.
Mas uma coisa funcionaria muito bem: ele deixar post-its em locais estratégicos, oferecendo explicações em um contexto — um próximo do box do chuveiro e outro próximo do fogão.
Assim como na história, em testes remotos não dá pra contar com ninguém para pedir ajuda ou tirar dúvidas. E quando o teste é feito em protótipos, com várias partes inacabadas, o participante precisa saber a diferença entre algo que não está pronto e algo que está pronto, mas não está funcionando como deveria.
Para isso, precisamos oferecer um bom feedback para cada ação que o participante possa tomar. Cada ferramenta de protótipo pode fazer isso de maneira diferente. Vou separá-las em categorias, diferenciando-as por como interagem com o participante.
Os completões (interações completas)
Existem algumas ferramentas de design que podem entregar um protótipo de alta fidelidade. Isto é, uma versão muito próxima do produto final — tanto em qualidade visual, quanto em suas interações. É possível construir cada microinteração: preencher formulários, simular dados e tabelas dinâmicas, animações de elementos etc. Claro que tudo tem um custo, que em geral vem em forma de preço e complexidade de uso. Entram nessa categoria:
Com tantos recursos dá para testar quase tudo. Também fica fácil “conversar” com o testador; basta inserir um aviso em todas as funcionalidades não implementadas. Pode ser uma mensagem simples como:
“Ops, essa área ainda não está pronta, mas não se preocupe. Já anotamos como você faria e agora é só procurar outra opção”.
O importante é que seja uma explicação em contexto, assim como o post-it da história.
No TESTR, usamos o Axure RP. Com ele, não precisamos nem dar um pulinho no Photoshop para cortar uma imagem ou abrir o Illustrator e desenhar um vetor. As principais funcionalidades gráficas estão todas aí. Além disso, também conseguimos disponibilizar uma URL para testar o protótipo onde precisar (desktop, mobile), através do AxShare.
Os praticões (interações limitadas)
Algumas ferramentas de protótipo focam em descrever as interações através de imagens estáticas. São bem práticos, porque ajudam a juntar design visual e protótipo navegável.
No entanto, com estas ferramentas nem tudo fica “fiel” ao site final. O participante precisa clicar em certas áreas da tela para avançar para outra tela. Não é possível ver o participante digitar algo, interagir com um slider ou switch ou realizar ações mais complexas. Entram nessa categoria:
Essas ferramentas são distintas entre si, mas nenhuma delas é capaz de um protótipo de alta fidelidade (pelo menos no quesito interação). Mas tudo bem. Podemos ir muito longe com essas ferramentas — o segredo é que cada microinteração seja simulada em uma tela diferente. Calma, para preencher o nome do testador não precisa simular cada tecla do teclado; você pode preencher o campo inteiro, com dados pré-definidos.
O problema, no teste de usabilidade, é que isso pode confundir o participante — ainda mais se ele tiver pouco poder de abstração (e é legal testar com pessoas assim também, porque cada desafio traz reflexões valiosíssimas).
Por padrão, essas ferramentas indicam as áreas com interação (fazendo um highlight em torno delas), o que elimina boa parte da exploração do participante. Idealmente desabilitamos essa funcionalidade em testes de usabilidade.
Lembra do fogão? Então, imagine que você abre a válvula do gás, aí o fogão liga — mas é outra boca que acende. Que doidera está acontecendo? Mas aí uma das bocas pisca num azul bem chamativo e você acha que só aquela vai funcionar. Sequer verifica se outras bocas estão funcionando e se limita a usar só essa — e o medo de tentar usar o forno…?
A aqui é a mesma: coloque mensagens nas partes que não funcionam e, também, onde o protótipo toma uns atalhos e faz ações no lugar do participante. Pode ser algo como: “Preenchemos o campo por você. Agora pode continuar com sua tarefa”.
Dá um trabalhinho a mais. Mas dessa forma, o testador não é pego de surpresa, não fica distraído ou estressado e pode se focar em fazer o teste sem precisar de ajuda. Empoderamento aos testadores!
Botando a mão na massa
Para recapitular:
- Testes remotos não têm uma pessoa moderando e guiando os testadores;
- Testes remotos não moderados precisam que seu protótipo tenha alguns ajustes para se comunicar com o participante;
- Você pode atingir isso aumentando a fidelidade nas interações e/ou com mensagens claras (feedback) sobre o que não funciona, dadas em contexto;
- As ferramentas completas facilitam a criação de interação e aumento de fidelidade, mas em geral são mais difíceis de se dominar;
- As ferramentas mais simples são mais ágeis e fáceis de se usar, mas podem trazer desafios na hora de dar um bom feedback. No InVision, por exemplo, é necessário um cuidado maior para evitar algumas configurações padrão, como o highlight, o acesso a todas as telas e a possibilidade de se comentar as telas.
Agora que você já viu como criar um protótipo na medida para um teste remoto basta escolher a ferramenta que você tiver mais afinidade e iniciar seus estudos!
Em breve vamos escrever uma série com dicas específicas para algumas das ferramentas citadas aqui. Fique de olho! ;)
Leia mais sobre testes em protótipos: Teste de usabilidade em protótipo: como testar e o que você descobre em cada etapa.
Veja um case de teste em protótipo com a Saraiva: Fomos ao Interaction South America: testes em protótipo com a Saraiva.
Conheça o TESTR, plataforma para testes ágeis remotos — de usabilidade à qualidade de software! — Ir para site oficial.
Créditos para a foto da capa: Ed Gregory, encontrado no site PEXELS.