Simplesmente complexo

O filme Her mostra a simplicidade da interação entre a máquina e a complexidade humana

James Italiano
4 min readFeb 18, 2014

• • • você pode ouvir o soundtrack do filme enquanto lê o post.

https://www.youtube.com/watch?v=g_72RkQV25Y

O filme Her, de Spike Jonze, nos mostra um futuro próximo onde a comunicação entre pessoas e máquinas torna-se extremamente natural e o limite entre os dois chega a desaparecer.

A forma como Samantha (o sistema operacional com inteligência artificial) se relaciona com Theodore (o usuário) é algo admirável. Ela possui uma personalidade própria, seu “instinto” carregado de curiosidade faz com que ela entenda Theodore de uma forma rápida e precisa, chegando ao ponto de antecipar os seus desejos, sugerindo o que seria interessante ele fazer naquele momento.

Observando isso de forma distante, pode parecer um sistema controlador (e de certa forma é. Vide Google e Facebook), entretanto, o jeito com que ela faz isso torna as coisas mais fáceis. O formato e a estratégia de como se comunicar muda muita coisa. Você pode pedir a mesma coisa de diversas formas para as pessoas, e certamente o jeito mais aceito ainda será o mais amigável e contextual possível.

Existe uma cena (sem spoiler), onde Samantha procura se comunicar com Theodore durante a madrugada. Não sabendo se ele estava dormindo ou não, usou uma estratégia diferente, ao invés de emitir sons, ela apenas iluminou discretamente o “smartphone”, e ele à atendeu pois ainda estava acordado. Isso é um bom exemplo de Calm Technology (saiba mais).

Essa maior proximidade com a tecnologia em si, nos traz diversas questões sobre como uma tecnologia muito amigável pode nos distanciar dos amigos humanos. Para que eu devo me relacionar com outras pessoas complicadas e diferentes de mim, se eu tenho a possibilidade de me "socializar" com uma "quase pessoa", que tem como objetivo me entender. O controverso é que esse "amigo", também é um servo, um escravo que esta preso a mim e que deve me fornecer informações e gerenciar minha atividades. Assim fica fácil se sentir querido quando terceirizamos nosso sentimento de ser aceito (mas isso já é assunto para um próximo post).

Outra cena interessante é quando Theodore está jogando um video game que possui um personagem com uma personalidade escrachada e cheio de ironia. Em um momento os três (o personagem do jogo, Theodore e Samantha) acabam interagindo entre eles, e você esquece que apenas um deles é um ser humano. Toda interação do jogo é feita através de gestos e comando de voz.

Comando de voz, este é o tipo de interface predominante que o filme apresenta. Afinal, a fala é a forma mais simples e intuitiva para se comunicar com o outro, porém, mesmo com essa facilidade, a nossa atual geração tem usado mais um outro tipo de comunicação: A escrita.

Não com papel e caneta, mas através de teclados físicos ou pequenos teclados virtuais, estamos usando mais a escrita para se comunicar, seja com o computador ou pessoas. Pare e pense: Você troca mais informações através de ligações telefônicas ou através do WhatsApp, Facebook e outros chats?

Se comunicar por texto tem diversas vantagens, entre elas o sigilo em ambientes com outras pessoas, maior controle sobre o que você está comunicando, teclar com várias pessoas ao mesmo tempo e ainda estar fazendo outra atividade paralela.

Por mais que já existam assistentes por comando de voz como o Siri e Google Voice, ainda é difícil presenciar algum amigo seu solicitando algo do seu computador através da fala. Seria porque ainda não temos esse hábito? Seria porque o sistema de reconhecimento ainda tem muitas falhas?

Diferente da tecnologia touchscreen, ainda existem diversos fatores que ainda tornam o comando de voz pouco popular. Possivelmente porque entender as diversas nuances da fala humana e a semântica do se diz, ainda é um grande desafio, e talvez isso seja um reflexo da complexidade humana, tornando as indagações de Samantha, um computador, ainda tão interessantes para nós, humanos.

____

James Italiano

• outros posts

Ano 2055: Como lidamos com o conhecimento e as experiências individuais. http://goo.gl/RrlQpp

Calm Tech: Como um conceito de 18 anos atrás pode ajudar a simplificar as interfaces de hoje. goo.gl/rEC0GT

--

--