Desmistificando a acessibilidade na Web — O início

Nicole Oliveira
TOTVS Developers
Published in
5 min readApr 10, 2019
Descrição #PraCegoVer: pessoa olhando uma rua através de um óculos, sendo possível ver pela imagem como ele enxerga com e sem o óculos. Fonte: Josh Calabrese em Unsplash

Antes de iniciarmos nos estudos sobre acessibilidade, podemos ter diversas dúvidas e até mesmo um pré-conceito sobre o assunto. Muitas pessoas acabam achando que pode dar muito trabalho e até mesmo que não existe um público alvo suficiente para tornar o seu website acessível.

Então, vamos desmistificar alguns pensamentos que geralmente temos antes de realmente conhecer este mundo tão interessante, que é o da acessibilidade.

Vamos lá!

Acessibilidade não se resume a leitores de tela

É muito comum pensar em leitores de tela quando pensamos em acessibilidade. Mas existem outros grupos de pessoas que também necessitam de acessibilidade, como: autistas, surdos, disléxicos, pessoas com baixa visão e com dificuldades motoras.

O design do site e a forma como a informação está distribuída irá contar muito na hora de deixar o seu site acessível.

Acessibilidade não é aquele menu na parte superior da página

Não se iluda achando que ao colocar aquele menu para aumentar a fonte na parte superior do seu site, você estará deixando ele acessível. Aquele menu atinge uma parte das pessoas com necessidades, que normalmente são as pessoas com baixa visão ou daltonismo.

Descrição #PraCegoVer: menu de acessibilidade posicionado na parte superior do site. O menu contém a opção de alto contraste, pular para outros conteúdos e um link para um conteúdo sobre acessibilidade. Fonte: https://ufsc.br

E mesmo assim, você pode estar fazendo outras coisas na estrutura do seu site que dificultam a usabilidade deles sem nem saber disso.

É muito mais do que colocar um texto alternativo em uma imagem

Muitas pessoas que estudam superficialmente, podem querer “obrigar” a sempre colocar o atributo “alt” nas imagens. O que pode ser um grande erro, pois existem imagens que servem meramente para uma questão estética e que não tem muito sentido se você não a estiver enxergando. Como por exemplo: um ícone posicionado ao lado de um campo de entrada.

Outro erro que as pessoas cometem é colocar uma descrição que não faz muito sentido com o contexto da navegação ou até mesmo colocar uma interpretação na descrição da imagem. As imagens devem ser bem descritas e levar em consideração o contexto. Não é necessário interpretar o que está escrito; apenas descrevê-lo.

Acessibilidade não é algo complexo de se fazer

Falando especificamente sobre os leitores de tela, muita coisa pode ser resolvida apenas colocando o nosso código HTML de forma correta, semanticamente falando. Utilizar as tags certas fará uma grande diferença para os leitores de tela também. Existe, ainda, o WAI ARIA, que transmite “adequadamente os comportamentos da interface do usuário e as informações estruturais às tecnologias assistivas”. Possuindo uma série de atributos para você poder tornar acessível os componentes de tela dinâmicos.

Acessibilidade não atinge um pequeno número de pessoas

Uns dos argumentos mais comuns para não tornar um site acessível é:

“Ah, nem é uma quantidade grande de pessoas que necessitam de acessibilidade.”

E isso é um grande erro!

Você sabia que, no censo de 2010, o Brasil tinha cerca de 23,9% de pessoas com deficiência? Isso equivale a aproximadamente 45.606.048 pessoas! E isso é mais ou menos a população inteira da Argentina.

É um grande equívoco achar que estas pessoas não utilizam o computador.

“Para a maioria das pessoas, a tecnologia torna a vida mais fácil. Para uma pessoa com necessidades especiais, a tecnologia torna as coisas possíveis.”

(Jorge Fernandes e Francisco Godinho)

Nós podemos utilizar a tecnologia para poder simplificar a vida dessas pessoas e temos ferramentas para poder fazer isso. Então, o que te impede de fazer?

Acessibilidade não custa caro

Galera, vamos pensar! HTML semântico é de graça e fácil, WAI ARIA é gratuito também, assim como empatia e conscientização. Tem bastante material na internet para estudar e aprender. O que custa iniciar o design pensando nas pessoas com deficiência, já que, normalmente, tem um designer antes de começar a criação da tela? Iniciar um projeto com acessibilidade não custa caro; sai quase de graça, na verdade! No entanto, ter um projeto já iniciado e só depois procurar deixá-lo acessível, isso sim pode gerar mais custos e retrabalho. Tem um artigo bem legal falando sobre o custo da acessibilidade em um projeto e você pode acessá-lo clicando no link.

Não existe acessibilidade sem usabilidade e vice-versa

Dizer que vai projetar um website com usabilidade e não ter acessibilidade parece ser incoerente, não é mesmo?! Como pode ser fácil de usar? O uso é fácil para quem? É muito importante pensar nos diferentes tipos de usuários na criação do projeto. Levantar os tipos de personas pode ser um trabalho muito relevante para criar um site agradável para o maior número de usuários possível.

Acessibilidade não está apenas no design, mas também deve estar na informação

A utilização de linguagem complexa sem necessidade e figuras de linguagem podem prejudicar muito o entendimento para algumas pessoas com autismo e surdez, por exemplo. Ao tornar o conteúdo acessível para este grupo, você também estará beneficiando pessoas idosas, que, ainda que não possuam algum tipo de deficiência, mas devido a um outro contexto cultural, não conseguem entender. Isso faz aumentar aquele nosso espectro de pessoas que necessitam de um site acessível.

Acessibilidade Web é lei federal

Isso mesmo! Não é mito! Acessibilidade Web é lei federal e foi assinada em julho de 2015, na lei 13146 que descreve o seguinte:

Art. 63. “É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente.”

A acessibilidade é um direito e essas pessoas são amparadas por lei.

É impossível ter um site acessível sem testar

Engana-se quem pensa que basta colocar a tag “x” ou “y” porque viu em algum lugar que é uma boa prática e não testar. É muito importante validar o projeto tanto entre pessoas com deficiência, quanto em tecnologias assistivas. Sempre se lembre: boa prática não é regra. É muito importante levar em consideração o contexto em que o usuário se encontra e a navegação do site, só para dizer alguns. E é apenas testando que você irá validar se aquela boa prática é aplicável ou não. Ser flexível e empático é a palavra-chave!

Conclusão

Após começar a estudar sobre este assunto, mudei bastante a minha visão. Realmente muitos de nós acabamos criando várias “desculpas” para não tornar as páginas mais acessíveis.

Comece a fazer a diferença em seu ambiente de trabalho.

Como já dizia o Tim Berners-Lee:

“O poder da Web está em sua universalidade. Acesso para todos, independente de deficiência, é um aspecto essencial”.

Mais informações

A ideia é ir adicionando novas publicações mais específicas sobre este assunto nesta série.

Abaixo, seguem alguns links que podem te auxiliar a iniciar os estudos:

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Nicole Oliveira
TOTVS Developers

Gosta de tudo relacionado a front-end. É apaixonada por acessibilidade Web e machine learning. Core time em: PO UI e Animalia DS