Tentando simplificar a análise da “saúde” dos produtos

Juliano Alves
TOTVS Developers
Published in
5 min readApr 14, 2021

Uma preocupação constante que temos no desenvolvimento de software é sobre as métricas para medir a “saúde” do produto ou a produtividade dos times.

Com o Ágil, novas métricas foram criadas e vêm sendo bem difundidas. Junto com estas métricas, também vêm sendo discutidos os cuidados com as mesmas para não serem usadas para o “mal”.

A questão, que concordo bastante, é que precisamos tomar bastante cuidado, pois, como diz um amigo meu, “métricas moldam comportamentos” e os times rapidamente irão se “moldar” para o cumprimento destas métricas.

A ideia deste texto não é entrar nesta seara, e sim, tentar demonstrar que com 3 indicadores conseguimos medir a “saúde” do produto. Com base nesta análise preliminar, aí sim analisar e definir quais as melhores métricas fazem sentido no momento para melhoria do produto.

Mas para entender melhor onde queremos chegar é de suma importância contextualizarmos o cenário. Estamos nos baseando em times que desenvolvem produtos para vários clientes e cuidam das inovações e manutenções na mesma equipe. Estas manutenções são realizadas em alguns releases, enquanto as inovações podem ser entregues em releases já expedidas ou em novas releases.

Vamos começar esta análise com 3 “indicadores” básicos.

São eles:

  • Backlog: Neste cenário, vamos entender que o backlog é a quantidade de não conformidades pendentes que foram abertas pelos clientes, sejam eles externos ou o pelo próprio time. (Aqui vale um parêntese, pois muitos, inclusive eu, preferem sempre avaliar o backlog apenas com as não conformidades abertas pelos clientes. O que é aberto pelo time deveria ser resolvido assim que for detectado, pois se não foi resolvido naquele momento é porque não tem tanta relevância).
  • Entradas: Número de não conformidades mensais abertas pelos clientes. Da mesma forma que o backlog, você pode considerar as não conformidades externas e internas. A única regra aqui é que você deve usar a mesma lógica para as Entradas e o Backlog. Ou seja, se considerar as não conformidades do próprio time no Backlog, precisa considerar também nas Entradas.
  • % de Manutenção: É o % de horas que o time gasta nas manutenções se comparado com o total de horas que se gasta no geral, tanto nas manutenções quanto nas inovações. Este indicador é importante justamente para avaliar onde o dinheiro investido no time está sendo direcionado, mais para inovações ou mais para a manutenção do produto.

Como podem ver acima, ter o conhecimento do seu produto dentro destes 3 vértices, Backlog, Entradas e % de Manutenção, irá ajudá-los na tomada de decisão do que focar nas próximas sprints e releases. Talvez seja até um aliado dos “donos de produto”, conhecerem estas informações para saberem o que priorizar de forma a não deixar que nenhum dos 3 indicadores puxe os demais para fora das metas estipuladas. O legal de sempre trabalhar com a ótica dos 3 é que você terá que ter o cuidado do equilíbrio e, para isto, ações voltadas à qualidade desde a primeira entrega irão emergir naturalmente.

Exemplo de um gráfico com os 3 indicadores:

Exemplo de gráfico com os Indicadores dentro da meta

A análise do gráfico é simples, se alguma linha laranja estiver acima da barra azul significa que o time está fora da meta em algum dos indicadores.

Podemos ter uma visão diferente dos indicadores, como o gráfico abaixo, onde o indicador que está fora da meta aparece claramente no desenho. Neste gráfico o triângulo laranja deve estar dentro do triangulo azul.

Exemplo de gráfico com as Entradas fora da meta

Algumas vantagens de adotar esta análise:

- Ambas as visões dão uma noção fácil e rápida se existe algum indicador fora da meta e também se tem alguma frente que pode ser adotada a curto prazo. Exemplo: Se as entradas estão fora da meta e o % de manutenção está dentro, pode-se investir mais na qualidade para diminuir as entradas;

  • Backlog controlado facilita a vida do dono do produto (PO);
  • Cuidar das entradas faz com que o time tenha mais preocupação com a qualidade da 1ª entrega, e consequentemente, da satisfação do cliente;
  • Ter ciência do quanto se gasta em manutenção e inovação dá uma clara visão de custo e investimento no produto;

Por que sempre olhar os 3 indicadores em conjunto:

  • Se analisar somente o backlog, o time poderá focar apenas em manutenção e isto gera menos valor para o produto e para a empresa do que as inovações;
  • Se analisar somente as entradas, o time pode gastar muito tempo nas inovações para entregar com o máximo de qualidade e isto deixará o backlog de lado, o que pode gerar insatisfação dos clientes e depois mais trabalho para o PO analisar;
  • O mesmo ocorre com o % de Manutenção. Dependendo de como o time atuar, ele pode ser maior ou menor, mas o ideal é que ele seja um equilíbrio que permita que as Entradas e o Backlog se mantenham dentro das metas estabelecidas para o produto.

Um outro ponto de suma importância é definir o que seriam as metas para cada um destes 3 indicadores. Segue abaixo algumas sugestões, caso você não tenha nenhuma meta definida:

  • Usar o histórico como baseline;
  • Ler alguns artigos a respeito para ajudá-lo a definir um racional;
  • Criar algumas métricas internas junto com o time e começar por elas, depois é só ir aprimorando. Estas métricas podem ser:

- Backlog: Análise de quantas sprints se consegue zerar o backlog com a capacidade produtiva do time;

- Entradas: % de não conformidades por quantidade de clientes;

- % de Manutenção: Usar o máximo de 50% no 1º momento;

Existem inúmeras outras vantagens que o time acabará descobrindo com a adoção desta simples análise, como também a possibilidade de ir incrementando outras métricas. A sugestão é começar aos poucos para facilitar a avaliação e definir quais outras métricas podem ajudar a melhorar a “saúde” do seu produto.

Algumas referências:

MÉTRICAS ÁGEIS

BACKLOG SAUDÁVEL

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