Categorias gramaticais: como a linguística nos ajuda a fazer design

Marina Meireles
TradUX
Published in
5 min readOct 29, 2020

Este texto foi publicado originalmente em espanhol, na página do Medium da comunidade UX Writers México. A tradução foi autorizada pela autora Jan Castillo e pela UXWMX. ¡Gracias a todos!

Quando decidimos que escrever também é fazer design, nos referimos não só à estrutura mental que vai ser utilizada pela linguagem para que um aplicativo cumpra ou não sua função para os usuários, mas também às estruturas gramaticais que darão sentido a essa experiência, inclusive visualmente. Pegaram a ideia? Então vamos em frente, leitores e leitoras.

Design, linguística, realidade e UX Writer

Digamos que a linguagem determina um modelo de pensamento que se forma por questões culturais, econômicas, políticas, pessoais e contextuais de um certo grupo de usuários. A linguagem é a única capacidade que diferencia os humanos do resto dos animais.

A capacidade comunicativa também se encontra em outras espécies, como os golfinhos e primatas. Porém, sabe-se bem que a língua humana se caracteriza por ser criativa. Isso permite que nos comuniquemos de forma funcional de acordo com as necessidades, épocas e contextos determinados, integrando de maneira lenta (às vezes), mas constante, o uso de novas palavras que nos façam refletir sobre nossa nova realidade.

Prova disso é a recente crise de saúde que estamos vivendo a nível mundial. Nesse caso não só se integraram novas formas léxicas no espanhol mexicano como “covidiotas” ou Susana Distância* (para dizer o mínimo), mas também, com certeza, foi incrementado o uso de outras unidades léxicas como doença respiratória, sintomas, máscaras, gel antibactericida, boletim de saúde etc.

Isso também deriva das buscas digitais e das conversas frequentes em redes sociais, porque o digital é uma extensão do mundo real. Estou explicando tudo isso porque, ao escrever, você projeta para um grupo de usuários uma experiência que deve estar de acordo com a realidade e ser consistente durante o processo. Daí vem a importância dos fluxos na narrativa e da maneira que você os conduz a fazer a varredura dos passos que permitem completar uma tarefa específica.

Então como faço para fazer design com palavras?

Bem, imagine que as palavras têm uma forma (visual). Com certeza você lembra que, quando aprendeu a escrever e a ler, muitos dos seus professores mostravam alguns “denominadores comuns” de certas palavras, como por exemplo os verbos que terminam em “ar”, “er”, “ir”, os substantivos que levam “s” no plural etc. Já se lembrou?

Me refiro a isso quando falo de forma gramatical (ou organização linguística). Isso implica três níveis da língua: a morfologia, a sintaxe e a fonética-fonologia. Por isso, quando escrevemos para um produto, não somente nos asseguramos que o usuário escaneie a interface, mas também que ela tenha consistência visual e funcional (quase imperceptível) dentro dos fluxos em que estamos trabalhando.

Por exemplo: o uso excessivo de gerúndios não só faz com que haja uma sensação sonora na cabeça do usuário, mas também com que as ações que ele realiza não sejam vistas como finalizadas ou iniciadas, mas em transição. Também se encaixa a clássica repetição de palavras em um mesmo parágrafo ou em terminações em -são, -ção… Vocês estão entendendo mais ou menos onde quero chegar?

Há pouco tempo tive uma complicação enquanto revisava alguns fluxos. Acontece que a forma de estabelecer a quick action que eu já havia determinado foi afetada no momento em que foram surgindo novas necessidades do próprio produto. Isso resultou numa série de inconsistências na forma em que elas foram apresentadas. Vamos em frente com os exemplos:

O que você percebe? Sim, essas quick actions (ou shortcuts) estão formuladas de forma diferente, mas por quê? Porque têm uma inconsistência gramatical. Isso causa uma homologação narrativa nula.

Nesse caso, a solução foi recorrer a conhecimentos de gramática, como a ideia de que as ações no infinitivo têm a mesma função que um substantivo em uma oração. Pam! Grande remédio. Com isso, ficaria mais ou menos assim:

O primeiro grupo está no infinitivo, mas pertenceria ao mesmo grupo sintático na companhia do B.

Outra solução seria definir sob quais termos agrupamos essas ações rápidas. Pode ser que, quando se queira fazer a consulta de algum status, as etiquetas desses elementos sejam colocadas em frases nominais, enquanto as ações rápidas são formuladas em segunda pessoa para que fiquem como um call to action, como aqui:

Mas por que isso é importante? Organizar as ações não só por semântica, mas também por categoria gramatical, faz com que o seu produto tenha mais consistência e fique mais fácil escanear e identificar ações. Seria estranho encontrar waffles e tortilha de trigo no lugar de “crepes” em um mesmo menu de café da manhã, não é?

Talvez os grupos que mostrei acima não tenham a mesma função sintática, mas vai ser mais simples para você estabelecer regras de nomenclatura considerando os possíveis contextos para readaptá-las, de acordo com as necessidades que vão surgindo no processo.

E você, quais ferramentas linguísticas utiliza para definir sua narrativa? Que outras ideias você tem? Quero saber sua opinião nos comentários.

*Nota da tradutora: Susana Distância é uma personagem criada pelo governo do México para ajudar a população do país a se prevenir contra a Covid-19.

Original: Jan Castillo
Tradução: Marina Meireles
Revisão: Gabriella Vicentini Stoque

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Marina Meireles
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