Por que o mercado de tecnologia precisa da escrita

Danilo Guarniero
TradUX
Published in
6 min readNov 13, 2020

Melhorando produtos, serviços e empresas.

Este texto foi publicado originalmente em inglês. A tradução gentilmente foi autorizada pela autora Jess Thoms.

Artes e humanidades estão mais entrelaçadas à tecnologia do que nunca, e isso será cada vez mais relevante para a construção de grandes produtos e empresas.

“Creio que a arte e o design estão no caminho de transformar nossa economia no século 21 da mesma maneira que a ciência e a tecnologia fizeram no século passado.” — John Maeda.

Com essa transformação, o peso da escrita aumentou. Experiências conversacionais estão conduzindo o comércio eletrônico e empresas estão sendo julgadas pela criatividade de suas páginas de erro 404.

Usuários estão buscando momentos altamente interativos e personalizados, demandando mais experiências humanizadas. Artistas e criativos têm papel fundamental na hora de satisfazer essa demanda por experiências melhores, especialmente profissionais de escrita. Evidentemente, o próximo passo para a tecnologia é aprimorar o design e a implementação da escrita nos produtos e dentro das empresas.

Não significa somente contratar mais profissionais de redação ou dar mais responsabilidades a essas pessoas. É essencial repensar como elas se encaixam nas organizações. Assim como designers não estão lá só para mexer nas cores e escolher fontes, redatores e redatoras não servem somente para ajustar microtextos nos produtos já finalizados.

Redatores e redatoras transformam momentos comuns em arte.

“A arte lida especialmente com a ideia da experiência estética. Uma experiência estética é quando seus sentidos estão operando no máximo. Quando você está vivendo o momento. Quando você está vibrando com essa coisa que você está experimentando. Quando você está completamente vivo.” — Sir Ken Robinson

É essencial enxergar a escrita como um ofício que consegue impactar positivamente a forma como como projetamos e operamos. Os problemas que desejamos resolver com tecnologia são complexos e estão presentes em todos os setores, mas parecem mais fáceis com a ajuda da arte.

Profissionais de escrita são pessoas que contam histórias. Incorporam narrativas ao seu produto e trazem engajamento, retenção e senso de propósito às pessoas que o utilizam. Dão significado ao ordinário. Transformam um pequeno detalhe em algo relevante. Produtos cujo cuidado com as palavras, estilo e tom estão enraizados em si tornam-se mais íntimos — é como se toda a experiência tivesse sido feita para você, somente para você.

Com a ascensão das interfaces de voz e do mercado conversacional, a escrita ganhou mais relevância. Projetar para a interação humano-computador requer forte compreensão sobre comunicação e pessoas.

Como você contrata redatores e redatoras?

O desafio do Vale do Silício é atrair e acolher talento criativo, incluindo redatores(as). Jonas Downey recentemente escreveu sobre as especificações imprecisas nos empregos em design (leia em inglês: “The Unnecessary Fragmentation of Design Jobs”) e como deveríamos simplificar, falando simplesmente Design — com D maiúsculo.

Vamos levar isso para a escrita.

Downey comenta que pessoas novatas na indústria do design ficam confusas com as descrições enigmáticas das atribuições nas vagas de emprego. Redatores e redatoras também sofrem com essas nuances turvas. As empresas sabem que precisam de alguma forma de comunicação escrita profissional, sejam gerentes de mídias sociais, conteudistas ou redatores/redatoras de publicidade — mas elas sabem a diferença? De alguma forma, acabamos lidando com vagas como esta:

“Coordenador de Conteúdo Digital, também conhecido como Fera das Mídias Sociais, Também conhecido como Monstro do Conteúdo”
???

Nota do editor: Vale ressaltar que a imagem é ilustrativa, tradução livre do artigo original. A vaga, com este exato título, não existe de fato no LinkedIn🙏

Descrições de vagas para redação geralmente consistem nos seguintes requisitos:

Escrever e editar textos publicitários no tom e voz da marca

Traduzir em palavras os objetivos de produto e de negócio

Editar e opinar sobre os trabalhos de redação e design

Capacidade de atuar entre várias plataformas de comunicação

Criar conteúdo envolvente em uma variedade de canais

Interesse ávido em escrita

Comunicação escrita impecável

Clareza e domínio da gramática

São essas as habilidades universais para redatores/redatoras, seja para mídias sociais, folhetos, instruções de embarque ou roteiros para vídeos. As empresas estão constantemente buscando por uma boa pessoa comunicadora que possa levar as suas habilidades para várias plataformas — e fazer correção ortográfica, claro.

Entretanto, redatores e redatoras vão além da gramática e tom de voz.

São profissionais que já estão na linha de frente de equipes de design de interação e inteligência artificial, ajudando a deixar conversas entre humanos e computadores mais naturais.

A Google está contratando criativos para levar storytelling e humor para as interações entre humanos e máquinas. Já a equipe de redação da Cortana, Microsoft, inclui um poeta, um novelista, um dramaturgo e uma ex-roteirista de TV.

Esqueça a correção ortográfica e foque no cerne da arte de comunicar. É sobre entender como as pessoas pensam e como fazê-las sentir de determinada maneira. As palavras conseguem fazer isso. A linguagem faz isso.

As habilidades que você deveria buscar

O design centrado no usuário fica melhor quando designers e redatores/redatoras se unem para aprender e co-criar por meio da linguagem e do design thinking. É importante encontrar profissionais de redação que pensam como designers.

“Uma habilidade central do design de interação é conseguir imaginar usuários (personagens), motivações, ações, reações, obstáculos, sucessos e todo um conjunto de cenários ‘e se’. São habilidades de redatores e redatoras de todos os tipos, mas especialmente pessoas escritoras, roteiristas e de escrita técnica.” — Susan Stuart

Podemos traçar um paralelo entre as habilidades de um redator e as que encontramos no design de interação. Essas pessoas conseguem conceber cenários minuciosos entre universos inteiros, com todos os detalhes, e histórias de fundo complexas para cada personagem mas, infelizmente, isso muitas vezes nunca vê a luz do dia. E o processo criativo por trás dessa narrativa e do desenvolvimento dos personagens é justamente a estrutura de onde as habilidades de design podem florescer.

As palavras não deveriam ficar no caminho do usuário. Redatores/redatoras que levam facilidade e fluidez para seus trabalhos são designers de interação excelentes.

Os empregadores deveriam abandonar habilidades de trabalho específicas e buscar por talentos específicos.

“É mais fácil ensinar sobre negócios para um escritor do que ensinar para empresários como contar histórias.” — Jim Sollisch

Escritores que já aplicam seu ofício efetivamente em diversos meios e estão abertos para aplicar seu conjunto de habilidades em empresas de setores variados são um bom começo.

Produtos e empresas evoluem. A linguagem deles deveria fazer o mesmo. A comunicação deve se adaptar. Redatores e redatoras têm familiaridade com a iteração. Esboçar, editar, reescrever. Essas pessoas não são contra receber comentários — na verdade, é um ofício que depende disso. Aliás, já lidam com com a rejeição e com a crítica normalmente.

Agora, para redatores e redatoras

Nós podemos impactar coletivamente a forma como produtos e empresas são projetados e operados. Acredito que as pessoas que trabalham com a escrita têm um papel de colaboração com designers para moldá-los positivamente, do microtexto à cultura do design.

Redatores(as): parem de contar palavras e, ao invés disso, tenham certeza de que cada palavra conta.

Defenda persistentemente o encanto e surpreenda os usuários. Verifique novamente cada palavra. Questione cada frase. Use as combinações de palavras menos óbvias e mais improváveis para criar algo mágico. Só tem espaço para três palavras? Faça valer a pena.

Adote o design na sua vida. Qual a fonte tipográfica? O meio? Formato? Aprenda a visualizar suas palavras e discuta com os designers qual será o destino delas depois que você escrevê-las. Como a escrita mexe ou empodera o design, e como você pode ajudar a colocar isso em prática.

Saiba que você não é a estrela do espetáculo. Você é a rede de segurança. Você é a cola entre a tecnologia, as experiências e a funcionalidade. As palavras que você escreve guiam os usuários em experiências de compreensão e encanto. Gosto de como o John Saito coloca: a redação aprimora a consistência. Consistência constrói marcas poderosas.

Ser essa cola não te torna invisível. Aprimore seu setor. O Medium existe como um produto tecnológico para escritores. Está aqui para você usar sua voz. Seja obcecado/a. Desenvolva novos processos e maneiras de pensar. Aplique seu ofício de formas que você não tinha pensado ser necessárias. Entre para uma nova geração de criativos e criativas que pensam como designers, que querem fazer a estrago na tecnologia e que têm as palavras para fazer acontecer. E daí escreva sobre isso.

Vamos transformar como vemos o ofício da escrita na construção de produtos e companhias. Nem todo mundo sabe escrever — mas acho que todo mundo precisa de um redator.

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