UX Writers devem programar?

Os prós e contras de editar as strings do seu produto

Este texto foi publicado originalmente em inglês. A tradução foi autorizada pelo autor John Saito.

Ilustração de Amber Padilla

Erros, erros, erros. Desde que me tornei UX Writer, me deparei com vários erros nos produtos em que trabalhei. E, sim, muitos deles eram de texto. Um erro de digitação aqui, alguns textos confusos ali, inconsistências em todo lugar. Mas o que um redator pode fazer?

No início da minha carreira, eu fazia relatórios para esses erros de texto e os enviava aos desenvolvedores. E ficava orgulhoso, sabendo que estava fazendo minha parte para melhorar a experiência do usuário. “Estou reescrevendo essa mensagem de erro para os usuários”, eu dizia a mim mesmo.

Mas, depois de enviar os relatórios de erro, eu esperava. E esperava. E esperava. E muitas vezes, esses erros eram despriorizados ou esquecidos. Com o tempo, eu percebi que enviar relatórios de erro para pequenos problemas de texto não valia o trabalho.

Enquanto afundava nas minhas próprias lágrimas, pensei: e se eu simplesmente entrasse no código e editasse as strings de texto? Não sou programador, mas já tive um certo contato com código quando era mais novo. Uns ajustezinhos em strings não podem ser assim tão difíceis de fazer, né?

Bom, depois de fazer uma dúzia de alterações de código nas últimas semanas, devo dizer que foi muito mais doloroso do que eu pensei — mas valeu muito a pena. E sabe qual é a melhor parte? Depois de ver minhas alterações de código em produção, eu finalmente senti que tinha controle sobre o conteúdo do meu produto.

Outros UX Writers editam o código?

Quando comecei a editar as strings, fui descobrir se outros redatores faziam isso também. Parece que a maioria dos UX Writers não edita strings, mas alguns, sim. Por exemplo, todo o time de UX Writing da HubSpot edita strings. Mais da metade dos estrategistas de conteúdo da Shopify também. Estou é atrasado.

Recentemente, tive a chance de falar com alguns desses redatores, e eles têm me ajudado muito enquanto mergulho no código. Abaixo, dou algumas dicas de ouro que aprendi com eles e com minhas próprias tentativas na edição de strings.

Por que redatores devem editar strings

Não tem certeza se você deveria editar as strings direto no código? Aqui estão alguns motivos para você começar a fazer isso.

• Você no controle do conteúdo: “é incrivelmente empoderador”, diz John Moore Williams, do Webflow. “É maravilhoso simplesmente ir e mudar as coisas.” Concordo totalmente. Quando você consegue editar as strings, finalmente vira dono do conteúdo, da ideia até a implementação.
• Mais eficiente que gerar relatórios de erro: me sinto meio bobo por mandar relatórios de erro por uma vírgula que faltou, uma letra maiúscula que ficou errada ou ainda problemas de estilo. Mas ao editar as strings você mesmo, você pula a parte chata de ficar registrando os erros. É como a Emily Keefe, da HubSpot, me disse: “É ótimo para corrigir pequenos erros de digitação ou questões de tom e voz.”
• Poupa muito tempo dos desenvolvedores: de acordo com Val Klump, do Coinbase, quando você mesmo edita as strings, poupa vários dias da engenharia. Na empresa onde trabalhava antes, Val editava os 50 principais e-mails enviados pelo produto. Imagina como seria difícil para um desenvolvedor copiar de um documento e colar no código centenas de vezes!
• Aumenta o perfil dos UX Writers: uma vez que os desenvolvedores veem que você pode editar o código, eles te enxergam como um parceiro próximo. Isso aumenta sua visibilidade no time e é um lembrete para eles de que podem te procurar quando precisarem de ajuda com conteúdo. Andy Healey, da Shopify, diz que “ajuda a criar uma relação de confiança com os desenvolvedores.”

Mas nem tudo são flores

Estou convencido de que todo UX Writer deve aprender a editar strings. Mas, você precisa ter algumas coisas em mente antes de trilhar esse caminho.

• Leva semanas até você chegar lá: levei dias para aprender o básico, semanas pra me sentir confiante para resolver os muitos problemas que encontrei: falha de build, falha de linter, você escolhe. Prepare-se para falhar. Muito.
• Toma seu tempo: todo redator que conheço tem vários projetos no seu prato, então cada minuto é precioso. Você realmente quer gastar seu tempo mexendo no código em vez de escrever? É legal mexer no código, mas tenha cuidado com o encanto da base de código. As strings podem te prender por bastante tempo.
• É difícil encontrar as strings certas: dependendo do tamanho e da complexidade do seu produto, pode ser difícil descobrir qual é a string certa a editar. Digamos que você tenha um botão comum, como “Compartilhar” ou “Editar”, para alterar. Sem a instrução correta, você pode passar horas procurando as strings certas.
• É como mexer em um vespeiro: depois de olhar o código, você pode acabar percebendo que a string que você quer editar é só uma das possibilidades que aparecem. Se você editar aquela string, vai ter que reescrever outras nove. Você realmente quer mexer nesse vespeiro?
• Excesso de confiança nos UX Writers: quando as pessoas descobrem que você consegue editar strings, podem se sentir tentadas a te pedir qualquer alteraçãozinha de texto que precisem. Prepare-se para colocar limites no que você pode fazer e em quando pode fazer, ou vai ser bombardeado de todas as direções.

“É perigoso ir sozinho. Leve isto.”

Como o Old Man em A Lenda de Zelda já sabia, o mundo pode ser assustador a menos que você tenha ajuda. Então, aqui estão alguns conselhos que eu peguei de UX Writers que editam strings direto no código.

• Encontre seu parceiro engenheiro: se você quer editar strings, precisa encontrar um desenvolvedor que te ensine a fazer isso. Depois de conhecer o time, tente descobrir quais são os desenvolvedores que se importam mais com o conteúdo. Essa é a galera em quem você deve grudar. Cuide dessas amizades, porque você não vai a lugar nenhum sem elas.
• Crie um guia de estratégia: todos com quem eu falei tinham um documento com o passo a passo para editar strings. Quando começar a editar, escreva todos os passos que precisa fazer, porque cada detalhe importa. Essa é a única forma de lembrar a diferença entre git checkout, git checkout -b e git checkout -B.
• Pergunte, pergunte e pergunte de novo: se você não conseguir acesso para edição das strings logo de cara, continue perguntando se pode fazer isso, ganhe pontos de experiência e monte uma boa defesa para o seu caso. Um dos redatores com quem conversei disse que teve acesso só de leitura no início, mas conseguiu a edição depois de falar com outras pessoas.
• Ponha a casa em ordem: quando você tem o poder de editar strings, desbloqueia a habilidade de organizar o conteúdo. Precisa mudar um termo no produto todo ou reescrever um monte de mensagem de empty state? Essa é sua chance. Andy, da Shopify, usou essa oportunidade recentemente para reescrever 80 mensagens de erro de uma tacada só pra que todas estivessem de acordo com o novo guia de estilo.
• Revise todas as novas strings: Beth Dunn, da HubSpot, criou um processo incrível em que os redatores revisam todas as novas strings que são adicionadas. Todos os dias, eles recebem um e-mail com as strings que foram adicionadas no dia anterior. Isso dá a eles a chance de revisar e editar essas strings antes de elas entrarem em produção. Nenhuma passa batido!
• Reserve um tempo para isso: alguns redatores conseguem tempo para editar as strings uma vez por semana. Fazer isso ajuda a focar nas tarefas atuais em vez de tentar fazer malabarismo entre escrever e programar durante o dia, o que aciona partes diferentes do seu cérebro.
• Arquivos diferentes, estilos diferentes: é possível que diferentes partes do seu produto sejam programadas em diferentes linguagens. Algumas partes podem ser em Python, outras em JavaScript. E cada uma das linguagens tem suas peculiaridades. Algumas não aceitam aspas curvas. Outras lidam com a internacionalização de um jeito diferente. Como as batalhas contra o chefão em Zelda, às vezes você só precisa aprender as técnicas certas com o método da tentativa e erro.

Programe com o coração

Se eu acho que UX Writers deveriam programar? Com certeza! Ou pelo menos aprender a editar algumas strings aqui e ali. Acredite em mim. Você vai ter mais impacto do que nunca e isso vai mudar completamente sua abordagem na escrita.

Hoje em dia, você vê mais e mais product designers mexendo no código. Quem sabe? Talvez um dia vejamos mais e mais redatores fazendo o mesmo.

Agradeço muito às pessoas maravilhosas que me inspiraram a escrever esta história e mudar para sempre a forma como trabalho:

• Val Klump, Coinbase
• Beth Dunn, HubSpot
• Emily Keefe, HubSpot
• John Moore Williams, Webflow
• Andy Healey, Shopify

Original: John Saito
Tradução: Gisele Rosati
Revisão: Danilo Guarniero e Marina V. Meireles

👏 Se essa tradução foi útil
💬 Se tiver sugestões ou algo a acrescentar