Acessibilidade na internet (Parte 1)

Livia Gabos
Training Center
Published in
6 min readMar 19, 2018

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Ás vezes, quando nos damos de cara com determinado assunto é impossível não “dar um google” e tentar descobrir tudo relacionado ao assunto. Mas é comum que muita coisa fica de fora, principalmente quando o conteúdo é mais antigo.

Pensando nisso, resolvi abrir meu caderninho de referências da tag Acessibilidade e mostrar alguns conteúdos perdidos nesse mundo da internet. Vou separar conteúdos em inglês identificados pela sigla EN e em português-Brasil identificados pela sigla PT-BR e português-Portugal pela sigla PT.

O que é acessibilidade e para quem?

Em seu livro “Acessibilidade na web”, Reinaldo Ferraz coloca várias definições sobre o que é acessibilidade e as definições encontradas nas leis brasileiras. Dê uma forma geral eu coloco a acessibilidade como permitir o acesso a lugares, conteúdos e dados sem restrições de acessos físicos e digitais. A Lei nº 13.146 coloca acessibilidade como:

I — acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida […]. (BRASIL, 2015)

Ferraz, Reinaldo. Acessibilidade na web (Universitária). Editora Senac São Paulo.

Essa definição apresenta a acessibilidade desde aspectos físicos até a parte da tecnologia e web em si, muito relacionada ao design universal. Design universal é um conceito importante a ser lembrado sempre, que é a criação de algo para TODAS as pessoas, respeitando as limitações físicas sem que seja necessário adaptar para pessoa X ou pessoa Y. É como se houvesse um bebedouro que qualquer pessoa conseguisse usar, como uma criança de 3 anos sem o uso de uma cadeira ou uma pessoa com 1,90 sem ter que quase ajoelhar no chão.

A W3C coloca a acessibilidade web, de maneira resumida, a possibilidade de adquirir, entender e interagir com qualquer site, serviço ou produto web. Relacionando além dos aspectos físicos, os aspectos intelectuais, culturais e sociais também! As vezes você pode ter disponível uma rede 4G ilimitada super top, mas outras vezes você pode ter apenas uma rede 1G com 100MB disponível. Ou nem ter rede, infelizmente.

Acessibilidade na Web é a possibilidade e a condição de alcance, percepção, entendimento e interação para a utilização, a participação e a contribuição, em igualdade de oportunidades, com segurança e autonomia, em sítios e serviços disponíveis na Web, por qualquer indivíduo, independentemente de sua capacidade motora, visual, auditiva, intelectual, cultural ou social, a qualquer momento, em qualquer local e em qualquer ambiente físico ou computacional e a partir de qualquer dispositivo de acesso. (W3C BRASIL, s/ d., p. 22)

Ferraz, Reinaldo. Acessibilidade na web (Universitária). Editora Senac São Paulo.

Gosto muito da definição da W3C porque ela explica que a acessibilidade não é apenas para as pessoas cegas ou surdas, como muitas pessoas inicialmente pensam. A acessibilidade web é para VOCÊ com a bateria do celular quase acabando e com o brilho da tela no mínimo. Para VOCÊ que foi fazer exercício no final de semana e machucou o braço e não consegue usar o mouse por 2 semanas. Para o VOCÊ somando mais 30, 40 e 50 anos na sua idade que pode ter dificuldade de se locomover ou enxergar.

O Blog UX Colletive Brasil fez o mês da acessibilidade em 2015 e uma colocação importante do Fabrício Teixeira é que acessibilidade é diferente de deficiência. Temos que pensar que quando criamos algo acessível, não é APENAS para o perfil extremo, mas para qualquer perfil. Precisamos ser compreensíveis em nosso código, nossa fala e nossas ações. Não pense que é bonito o colega de humanas falar que não entende nada do que falamos. Essa pessoa pode ser uma pessoa de RH ou seu gestor ou chefe!

Sou obrigado a saber sobre acessibilidade?

De certa forma sim. Existe em vigor desde 2016 a Lei Brasileira de Inclusão, que apresenta os direitos dos cidadãos brasileiros com deficiência. Antes existiam outras leis que falam de acessibilidade e garantiam algumas coisas. Mas as primeiras leis eram de 1998, época em que a internet estava engatinhando ainda e passava longe do nosso país.

Existem guias sobre a Lei Brasileira de Inclusão muito interessantes em arquivos PDF (PT-BR) e online (PT-BR) . No segundo Fascículo da Cartilha da W3C de acessibilidade web existe um capítulo sobre as leis.

Você pode sofrer uma penalidade se disponibilizar um serviço ou produto que alguém não consegue utilizar por falta completa ou parcial de acessibilidade. E posso te falar uma coisa: criar algo que todos possam usar além de ser bom para sua consciência, é bom para seu bolso. Se você não acreditar em mim, dê uma lida nessas duas postagem “Acessibilidade: as vantagens para os seus negócios” e “Acessibilidade: convencendo os stakeholders a comprarem a ideia” de UX Collective Brasil.

Por onde começar?

HTML, CSS e JavaScript

Quando se fala de acessibilidade pra web é importante ter um conhecimento de HTML, CSS e JavaScript. Não adiantaria muito eu falar que a palavra PARALELEPÍPEDO se escreve assim, se você não sabe escrever. Você, como desenvolvedor, não precisa ser um ninja para começar a aprender e implementar os recursos de acessibilidade. Ter os conhecimentos básicos de construção de páginas e formulários ajuda muito. O mais importante é estar aberto a melhorar suas criações sempre!

Existe uma série de posts no Training Center sobre cursos para estudar HTML e CSS:

Guias e Modelos

Quais guias ou regras devemos seguir?

Existe o WCAG (Web Content Accessibility Guidelines) que é utilizando mundialmente como referência. A versão 2.0 é a mais utilizada como referência e está disponível em inglês e em português(PT-BR). Existem alguns conteúdos que auxiliam no entendimento das regras do WCAG como o guia rápido do W3C (EN), o guia criado pela Viva Real (PT-BR) e o toolkit sobre o WCAG em PT-BR (PT-BR)

O WCAG está passando por uma atualização já que a versão 2.0 é de 2008, antes da explosão do mobile. Atualmente, ele está na versão 2.1(EN) e o Reinaldo Ferraz escreveu um artigo explicando essas atualizações(PT-BR).

Existem outras guias que também são importantes ter no seu caderninho de referências como o GAIA — Guia de Acessibilidade de Interfaces Web com foco em aspectos do Autismo (PT-BR) — criado pela Talita Pagani. Existe também um guia de estilo e uma seleção de técnicas de CSS de acordo com o WCAG 2.0 da W3C em EN e PT.

No Brasil temos o nosso padrão de acessibilidade chamado eMAG — Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (PT-BR). O eMAG anda em conformidade com o WCAG, então é comum quando o WCAG tem uma atualização o eMAG também é atualizado. No site do Governo Digital sobre eMAG existem muitos links sobre materiais de apoio(PT-BR) e ferramentas (PT-BR) e até um curso sobre como implementar o eMAG e, claro, o guia de implementação do eMAG (PT-BR).

É comum países usarem a WCAG como base para criarem adaptações para seu contexto, legislação e cultura, como o caso da Section 508 dos Estados Unidos.

Eu recomendo conhecer primeiro o WCAG e como aplicar as técnicas para depois conhecer o eMAG, já que eMAG utiliza o WCAG como base. E para esclarecer, não existe o risco do WCAG falar faça X e o eMAG falar não faça X. Existe diversas maneiras de realizar a implementação de acessibilidade e nos guias e modelos são apresentadas algumas técnicas para facilitar o entendimento. O principal é você entender o que determinada regra fala e ver exemplos de como aplicar isso no seu contexto.

No próximo artigo vou falar sobre tecnologia assistiva, wai-aria e voltar a falar do WCAG e o eMAG.

O objetivo desse artigo era apresentar diversos links e conteúdos já publicados nessa internet imensa. Se você conhece algum conteúdo relacionado com esses tópicos, por favor, coloque nos comentários. Assim poderei incluir nos próximos posts.
Os links citados podem ser encontrados listados também no meu bookmark do assunto do GitHub

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Livia Gabos
Training Center

Atualmente Accessibility Product Owner, com conhecimentos há mais de 10 anos em UX Designer e Acessibilidade. Mestre em Ciência da Computação.