Acessibilidade na internet — parte 2

Tecnologia assistiva

Livia Gabos
Training Center
7 min readMay 30, 2018

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Falamos o que é acessibilidade, para quem é, demos uma breve colocação de como começar na parte 1 desse artigo. Agora vamos aprofundando um pouco nesses itens e vamos falar um pouco mais no como: como uma pessoa utiliza o computador.

Homem lendo o jornal usando uma lente de ampliação que apresenta o texto ampliado em um notebook.

Tecnologia Assistiva

Para usar o computador ou celular, uma pessoa com certo grau de uma deficiência visual, por exemplo, faz uso do que chamamos de Tecnologia Assistiva. De acordo com o texto do eMAG:

O termo Tecnologia Assistiva (…) refere-se a recursos que contribuem para que pessoas com deficiência possam ter uma vida mais independente e autônoma.
Curso eMAG para desenvolvedores

Isso inclui de tudo: de peças físicas que vão de bengalas, lentes de aumento, cadeiras de rodas, apoios para sentar, aparelhos auditivos, próteses, mecanismos para mãos e braços e vários outros. Até os softwares que são mais conhecidos nossos como, leitores de tela e lupas de aumento. Parece estranho que uma bengala seja classificado como tecnologia, mas é a amplitude do tempo utilizado.

Colher com um sensor antitremor para pessoas com a doença de Parkinson. Criação da empresa Lift Labs, comprada pela Google.

Um detalhe é que a necessidade de uso de uma tecnologia assistiva varia muito de pessoa para pessoa. “Como assim?”, você me pergunta. Conheci pessoas que tem baixa visão, mas que não usavam bengala para tatear o chão em lugares que conheciam ou estão familiarizados. Eles conheciam os obstáculos do dia-a-dia e já tinham eles mapeados. E por conta disso, algumas pessoas já quase brigaram com eles por conta de esbarrões ou por trombar com outros. “Se não usa bengala e não usa óculos escuros não é cego…” Não pense assim, ok colega?

Eu preciso fazer um artigo só para explicar melhor características de cada deficiência. Fica pro futuro, ok?

Se a pessoa já utiliza uma tecnologia assistiva, eu ainda posso ajudar-lá mesmo assim?

Se ela quiser e você usar como base da ajuda o respeito e a liberdade, acredito que sim. Por mais vontade que você tenha de ajudar alguém em determinado momento PERGUNTE se ela precisa de ajuda e COMO você pode ajudar. Se a pessoa quiser ou não a ajuda, ela vai te falar. Ela NÃO é humilde, mal-agradecida ou mal-educada ou qualquer coisa do tipo se ela recusar. A pessoa só NÃO quer sua ajuda! Ela tem a liberdade de não querer. O respeito vai junto com a ajuda para você não desmerecer, não diminuir ou não subjugar a pessoa por conta da deficiência e da necessidade de ajuda.

Baseado em tudo isso tem algumas dicas de como tratar uma pessoa com deficiência visual (PT-BR), com deficiência auditiva (PT-BR), com deficiência física (PT-BR) e sobre como lidar com pessoas com deficiência do site da Bengala Legal (PT-BR). Essas dicas são legais, principalmente quando a pessoa usa uma tecnologia assistiva. Você tem que pensar que a tecnologia que a pessoa usa é como se fosse uma extensão dela. As tecnologias permitem que as pessoas tenham liberdade ou condições de realizar diversas ações. Se você impedir a ação da tecnologia, você vai estar impedindo a ação da pessoa.

Leitores de tela

Os leitores de tela são muito utilizados por pessoas com algum grau de deficiência visual, mas não apenas eles. O blog UX Colletive BR apresenta como funciona o software (PT-BR) e um vídeo de como é a navegação com um leitor de tela. O Blog Acessibílito (PT-BR) fez uma série de publicações sobre como pessoas que utilizam leitores de tela navegam nas páginas, se localizam no conteúdo, etc. Os links para essa série em português estão abaixo:

Como resumo eu poderia falar que a maior parte das pessoas que usam um leitor de tela, no notebook ou desktop, navegam usando o teclado. No celular a maior parte das pessoas navegam por toques curtos e não fazendo os gestos de deslizar. Observem que eu disse a MAIOR PARTE e não TODOS. Existem pessoas cegas que usam o mouse, por exemplo, mas isso é uma características daquela pessoa.

Um detalhe importante é que os leitores de tela funcionam melhor com alguns navegadores específicos. Nesse artigo do WebAIM (EN) são colocadas essas compatibilidades:

  • NVDA é mais feliz com o Firefox
  • JAWS gosta do Chrome e do Internet Explorer
  • VoiceOver (MacOS) é fã do Safari
  • Narrator (Windows) tem um relacionamento sério com o Edge

Eu não achei algo específico sobre o ORCA (Linux), mas sei que ele funciona bem no Firefox.

Porque isso acontece? Eles não tem que funcionar do mesmo jeito pra tudo?

Não. A principal razão é por causa da API de acessibilidade que cada sistema operacional e cada navegador utiliza.

As API de acessibilidade dos sistemas operacionais tem a função de intermediar a comunicação entre a tecnologia assistiva com as demais aplicações que estejam sendo usadas pelo usuário.
Construindo Aplicações Web Interativas

A imagem abaixo é do material didático sobre acessibilidade (PT-BR) criado por Washington e o prof. Leonelo — Construindo Aplicações Web Interativas Acessíveis. Ela apresenta como é a comunicação da API com softwares e o sistema operacional.

Uma pessoa interage com o navegador web utilizando uma tecnologia assistiva (TA). A TA identifica a estrutura do navegador e lê o conteúdo apresentado usando a API. O sistema operacional usa a API para traduzir cada pequena parte dos software que funcionam.

O trecho do artigo do Google para desenvolvedores que explica a imagem da estrutura de como funciona o leitor de tela:

1. Um aplicativo (o navegador ou outro aplicativo) expõe uma versão semântica de sua IU de Tecnologia Assistiva por meio de uma API.

2. A tecnologia assistiva pode utilizar as informações lidas através da API para criar uma apresentação de interface de usuário alternativa para o usuário. Por exemplo, um leitor de tela cria uma interface na qual o usuário ouve uma representação falada do aplicativo.

3. A tecnologia assistiva pode também permitir ao usuário interagir com o app de uma forma diferente. Por exemplo, a maioria dos leitores de tela fornecem ganchos para permitir que um usuário simule facilmente um clique do mouse ou toque do dedo.

4. A tecnologia assistiva retransmite a intenção do usuário (como “clique”) de volta para o aplicativo por meio da API de acessibilidade. Em seguida, o aplicativo tem a responsabilidade de interpretar a ação adequada no contexto da interface inicial.

Trecho do artigo a árvore de acessibilidade

Exemplo simples para isso tudo fazer sentido:

Assim, quando você ouve a palavra “link” ao abrir a página, por exemplo, mesmo que a palavra “link” não esteja realmente na página, o leitor de tela está transmitindo que o papel do elemento atual é o de um link.

Trecho de artigo em inglês sobre diferenças entre API e leitores

Cada navegador utiliza uma API para se comunicar com o leitor de tela. Além disso, cada navegador identifica ou não as tags do HTML 5 de uma maneira. Existem site que sempre atualizam se determinada tag funciona ou não em determinada versão do navegador como os site Can I use e o HTML5test. Para a parte de acessibilidade temos o HTML5acessibility.

Nesse site tem um infográfico muito legal que mostra a história da evolução das APIs dos navegadores, com a descrição da imagem. Pena que é tudo em inglês.

E como Dev ou Deva, o que posso fazer para minimizar essas diferenças?

Entendo como as tecnologias assistivas funcionam e como elas interagem com esses padrões da W3C, fica mais fácil entender a importância de segui-los e valida-los, certo?

Continue estudando o básico sobre HTML, CSS e JavaScript e tente entender como eles afetam a utilização da tecnologia assistiva. O que o leitor de tela lê, o que não lê.

Eu só falei de uma tecnologia assistiva, mas existem várias. Nem falei do WAI-ARIA ainda. Tem tanta coisa a ser dita ainda, mas vamos aos poucos.

Pessoas que estão lendo o artigo, preciso de feedbacks! Falem se não entenderam algo, se poderia explicar melhor algum ponto.

Acessibilidade no TC! Participem!

O Training Center está com uma ação para transcrever todos os vídeos do nosso amado canal do Youtube. Se quiser colaborar com a equipe de transcrição, é só acessar a página do git para saber como.

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Livia Gabos
Training Center

Atualmente Accessibility Product Owner, com conhecimentos há mais de 10 anos em UX Designer e Acessibilidade. Mestre em Ciência da Computação.