Como é trabalhar como desenvolvedor backend, por Luiz Felipe Limeira

Lucas Santos
Training Center
Published in
11 min readNov 21, 2018

Esse post é parte de uma série de entrevistas para o Training Center sobre o que um(a) profissional pode dizer a respeito da sua área de atuação visando mostrar para outras pessoas como é trabalhar no que fazem, esclarecendo para algumas pessoas se elas se dariam bem trabalhando na área ou mesmo só para mostrar para outras pessoas como é trabalhar com isso.

O entrevistado desta vez será um dos co-organizadores do meetup do Training Center em SP, Luiz Felipe Limeira!

Um pouco sobre você…

Luiz Felipe Limeira

Sou formado em Ciências da Computação desde 2015 e trabalho como desenvolvedor desde 2011, atualmente trabalho no Pagar.me utilizando Node.js no desenvolvimento de serviços voltados para pagamentos de mundo físico. Fora do âmbito profissional, eu tenho prezado bastante por minha qualidade de vida, então eu tento me manter longe de computadores e fazer coisas que eu gosto, como andar de patins, longboard, viajar, ver séries no Netflix e outros, mas também reservo tempo para frequentar meetups, escrever artigos e ajudar na organização do meetup do Training Center em SP.

Como você conheceu a área que você trabalha hoje?

Se eu me lembro bem, tudo começou quando meu primo começou a fazer faculdade de design gráfico e me mostrava uns códigos estranhos que serviam para fazer sites.

Não lembro ao certo quantos anos eu tinha, mas com mais ou menos 15 anos, apareceu um trabalho de história que o professor pediu para colocar em um blog ou site, e o link para todos os trabalhos deveriam ficar centralizados em um “portal”, eu resolvi ficar responsável por fazer essa página para a sala e lembrei dos códigos estranhos. Com o Google como meu guia eu fui desenvolvendo a página com um monte de imagens de fundo e os links (rsrsrs), como podem imaginar, ficou bem feia.

O trabalho não foi para o ar, pois trocaram o professor de história, e obviamente ele achou melhor não publicar os trabalhos por conta de direitos de imagem e autorais (quem nunca copiou texto da internet para trabalhos escolares?). Esse foi meu primeiro contato com desenvolvimento, o que me ajudou quando eu entrei na ETEC para cursar Informática para Internet.

Depois disso você continuou seus estudos na área? Como foi todo o processo para, de fato, conseguir o primeiro trampo e quais dicas você daria para uma pessoa iniciante?

Sim… Depois disso, eu gostei de ter feito o site, e tinha muita vontade de fazer Ciências da Computação, mas meu desempenho em matemática no colégio me fazia ter muitas incertezas, resolvi que não teria muita capacidade para esse curso, e no final do primeiro ano do colegial eu resolvi que queria fazer ETEC de Informática para Internet, que seria para eu ter uma base se era aquilo mesmo que eu iria fazer.

Durante o curso, um professor chamado Pirola, chamou todos para o auditório, como tínhamos dificuldades na parte de exatas do curso — e, consequentemente, na matéria dele — Ele explicou a importância de exatas para a área e as coisas que eram possíveis de serem feitas. Aquela palestra mudou minha vida, dei mais foco para exatas, minhas notas melhoraram na escola e resolvi que eu era sim capaz de fazer Ciências da Computação.

Na ETEC não me dei muito bem nas matérias de design e front-end e esse foi o sinal definitivo de que eu queria focar em ser desenvolvedor back-end (obs: na época o front-end era muito ligado a parte de design, usava muito flash também, hoje em dia eu gosto de mexer com front-end).

Aquela palestra mudou minha vida, dei mais foco para exatas, minhas notas melhoraram na escola e resolvi que eu era sim capaz de fazer Ciências da Computação — Luiz Felipe

Assim que eu terminei a ETEC e o ensino médio, não consegui pagar a faculdade logo de cara e tentei em algumas faculdades públicas, mas não passei, não tinha trabalho na época dos vestibulares, em janeiro eu recebi uma ligação de que o tio de uma amiga precisava de um web designer — esse foi meu primeiro emprego — trabalhava para pagar cursos de desenvolvimento com meus pais me ajudando a pagar metade, felizmente pude contar com a ajuda deles, pois, na época, ganhava pouco trabalhando como auxiliar de web design, até hoje não conheci o web designer da empresa rs (agora é engraçado relembrar, mas era triste).

Depois de um ano apenas trabalhando e fazendo cursos, aí sim seria possível começar a faculdade, e assim foi, com meu pai pagando metade e eu a outra metade até o terceiro ano da faculdade, depois de trocar de emprego duas vezes, eu já conseguia pagar a minha faculdade sozinho do terceiro ano em diante. As matérias exatas deram trabalho, mas consegui superá-las sem maiores traumas rs.

Conheça pessoas, não se limite ao conhecimento que você vivencia no seu serviço ou escola — Luiz Felipe

Acredito que grande parte do que eu consegui, foi por ter amigos… Meu primeiro emprego foi por indicação, o segundo foi por indicação de um amigo da faculdade… Uma dica que posso deixar quanto a isso é, conheça pessoas, não se limite ao conhecimento que você vivencia no seu serviço ou escola, pesquise muito no Google (ele foi o meu maior companheiro durante toda a minha caminhada) e algo que eu aprendi recentemente: não tenha medo de perguntar e errar, você sempre vai precisar aprender, e errar faz parte do processo, por isso erre. E você precisará saber como fazer da forma correta após o erro, então pergunte (para amigos, colegas de trabalho, Google, não importa quem ou o que, mas pergunte), pois assim você irá aprender. Essas são as minhas dicas.

Não tenha medo de perguntar e errar, você sempre vai precisar aprender, e errar faz parte do processo — Luiz Felipe

Você disse que uma das coisas mais importantes é conhecer pessoas. Quais seriam suas dicas para encontrar e conhecer mais pessoas?

Bom, acho que o principal é a pessoa estar aberta a conhecer novas pessoas, não ter medo de ir falar com alguém, e isso me travou um pouco quando comecei a ir em eventos e meetups, grande parte das pessoas que eu conheci nesses 2 últimos anos foi por conta das comunidades de desenvolvimento; Na minha opinião, esse é o melhor fruto que levamos dos eventos, mas temos que tomar cuidado para não sermos pessoas egocêntricas, estarmos sempre abertos a adquirir conhecimento e filtrar o mesmo, por que desenvolvedor por si só já é egocêntrico, nós queremos valorizar nosso conhecimento e muitas vezes o ego fala mais alto, isso é comum em comunidades de desenvolvimento.

O principal é a pessoa estar aberta a conhecer novas pessoas, não ter medo de ir falar com alguém — Luiz Felipe

Acho que, nesse caso, a empatia é a melhor coisa. Não responder algo como se fosse muito óbvio (o que é muito comum) é fácil, pois todos já tivemos dificuldades que pareciam fáceis para pessoas mais experientes.

Na sua opinião o que seria a comunidade ideal? O ambiente ideal de cooperação, e como podemos chegar lá?

Acho que uma comunidade em que as pessoas colocam mais a mão na massa, programação é prática, as empresas pedem experiência, comunidade é o lugar perfeito para dar isso para as pessoas.

Outro ponto é ter empatia e menos ego, as pessoas esquecem que já foram iniciantes, e que algumas pessoas têm mais dificuldade que as outras em algumas coisas, já vi muitas respostas ruins, já vi muitas respostas boas, acho que o primeiro passo é as pessoas deixarem de se colocar a cima das causas apenas para alimentarem seus egos ou se beneficiarem.

Para mim essas pessoas só alimentam mais e mais a síndrome do impostor das outras pessoas. Se explicarmos as dúvidas de forma fácil, sem valorizar ou querer mostrar que sabemos falar bonito, fica muito mais fácil atingir o objetivo principal, ajudar uns aos outros. Ou pelo menos esse deveria ser o motivo principal.

Você participa de muitas comunidades, isso é um fato, qual foi o momento ou a ação mais importante que aconteceu contigo durante toda essa participação?

Acho que o mais marcante foi quando eu comecei a participar de comunidades, foi um choque, não entendia mais da metade das coisas que eu ouvia, me sentia muito atrasado, senti que todos os anos anteriores eu estava parado, e isso vendo agora, foi bem ruim para minha saúde, mas me fez evoluir muito e me fez correr atrás das coisas.

Mas o momento mais importante foi quando eu percebi como a tecnologia tem um poder real de mudar a vida das pessoas, como a tecnologia consegue prover a chance das pessoas mudarem o meio em que elas vivem e ultrapassarem as próprias barreiras, nessa caminhada já vi várias pessoas que provaram isso, e o projeto Juntos na TI foi um marco forte que me fez ter certeza disso.

Você comentou sobre ansiedade e síndrome do impostor. Na sua opinião, esses seriam os piores problemas de desenvolvedores atuais? Quais são suas dicas para lidar com estes problemas?

Na minha opinião esses, juntamente com a questão do ego e falta de empatia, são os maiores problemas, todos esses pontos juntos tornam o ambiente para quem está começando muito nocivo. Temos que parar de dizer o que as pessoas devem ou não fazer ou usar, e começar a falar sobre soluções, deixar de criar regras, e começar a deixar livre para a galera testar, errar e aprender. Esse é o ciclo do aprendizado.

Temos que parar de dizer o que as pessoas devem ou não fazer ou usar, e começar a falar sobre soluções — Luiz Felipe

Quando você cria um ambiente de disputa de ego, quem está observando acaba vendo muita coisa que é passada como o certo e não sabe para onde ir, assim surge a ansiedade e síndrome do impostor. Porque você está estudando HTML e CSS, aí alguém fala que você precisa aprender Angular, aí alguém fala que angular não presta e que você tem que aprender React, isso é muito prejudicial e as pessoas acabam não respeitando o tempo de aprendizado. Dessa forma as pessoas acham que precisam ter o equivalente a 1 ano de experiência em 1 mês.

Para mim está tudo atrelado…

Qual seria o ambiente de trabalho ideal para você?

O ambiente de trabalho ideal para mim é aquele em que todos são ouvidos, aquele em que existe respeito e oportunidade para todos crescerem, e principalmente que exista equilíbrio entre sua vida profissional e pessoal, não adianta ser o melhor lugar mas não conseguir pagar suas contas. Ame o seu trabalho e onde trabalha, mas não trabalhe apenas por amor.

Para mim, o ambiente de trabalho envolve tudo isso, porque se você não está bem na sua vida pessoal, dificilmente vai conseguir agregar para que o ambiente profissional esteja bom.

Vale deixar claro que também não da para trabalhar apenas por dinheiro sem pensar no ambiente profissional no qual está inserido, pois esse ambiente pode ser ruim o suficiente para influenciar na sua vida pessoal. Coisas como estresse, desrespeito, falta de reconhecimento e falta de espaço para se expressar, podem facilmente influenciar suas relações na vida pessoal.

Acho que nossa área permite achar essa balança. Existe os dois extremos, mas existe bastante lugar (principalmente nos grandes polos tecnológicos) que permite essa balança para todos os níveis de profissionais.

E quais são as skills necessárias para um profissional da sua área?

Acho que falar skills necessárias seria criar uma regra desnecessária, a área é tão ampla e temos tantas pessoas que conseguiram de diferentes formas, o básico é gostar do que faz e correr atrás, de resto, até soft skills básicas como por exemplo trabalhar em equipe, eu já vi pessoas que não tinham e mesmo assim estão na área.

Acredito que para progredir na área é importante saber se vender, não ter medo de falar e mostrar o que sabe, ter soft skills como trabalho em equipe, uma comunicação não violenta, saber dar (e receber) feedbacks e não aceitar as coisas como estão, sempre pensar em melhorar.

Acredito que para progredir na área é importante saber se vender, não ter medo de falar e mostrar o que sabe — Luiz Felipe

Como desenvolvedor, é interessante ter a base, pois tem devs que sabem muitas ferramentas e frameworks, mas encontram dificuldades em algum momento com algoritmos, lógica de programação, dependendo da linguagem pode ter dificuldade com conceitos de OO, ou outros paradigmas.

Na minha opinião isso vai muito de encontro com “não pular steps”, respeitar o tempo de aprendizado. Lógico, nem todo mundo tem esse tempo ou condições financeiras para seguir passo a passo, por isso é importante recuperar isso em algum momento.

E quais são os principais desafios e recompensas dessa área?

Para mim os desafios mais legais ultimamente é a parte de negócio, não tem como você pensar em melhorar seu código e seu software, sem pensar no negócio, quando eu comecei a ligar mais e entender melhor sobre o assunto minha cabeça mudou, acho que isso é legal no desenvolvimento, nossa cabeça tem que estar sempre mudando e se adaptando.

É uma vida de estudos, é difícil parar, mas sempre lembrando que dá para estudar e aprender coisas novas sem prejudicar a saúde, aprender as coisas no devido tempo.

As principais recompensas, na minha opinião, são os produtos e os projetos que podemos fazer, ter a sensação de realmente estar fazendo algo e mudando as coisas; Outro ponto é que essa área permite uma liberdade incrível, tenho visto muitas pessoas mudando a vida delas, mudando de país, mudando o status social, a tecnologia é uma ponte e uma ferramenta poderosa para pessoas de baixa renda melhorarem de vida.

Você pensa em mudar de área? Se não, por que um profissional deveria se tornar um Dev Backend?

Nunca pensei em mudar de área, já pensei se no futuro eu pretendo mudar de responsabilidades, pensando na questão de carreira em Y, virar um tech lead ou virar um especialista, mas não em um futuro próximo, quero me aperfeiçoar em alguns aspectos para depois pensar nisso. Me vejo programando durante toda minha carreira, talvez menos ou mais, mas ainda sim programando.

Me vejo programando durante toda minha carreira — Luiz Felipe

Quanto a questão de ser desenvolvedor back-end, eu gosto muito dessa função, onde eu trabalho atualmente existem diversas funções que podemos desempenhar e uma fácil migração para elas, lá possui desenvolvimento back-end, front-end, mobile, baixo nível e outros, então se surgir alguma curiosidade, necessidade ou fizer sentido para o produto, me vejo explorando novas tecnologias e responsabilidades sim, acho interessante essas oportunidades.

Seguindo nessa linha, eu não acho que um(a) profissional deveria se tornar um(a) dev back-end, acho que um(a) dev deve procurar a função que mais lhe agrada e proporciona uma satisfação profissional, talvez se permitir conhecer novas coisas e então escolher, oportunidade para todas as áreas que eu citei não faltam.

Estudando e evoluindo fica bem tranquilo essa questão de experimentar novas responsabilidades, eu por exemplo não me sinto muito a vontade trabalhando como desenvolvedor front-end no momento pois sinto que não tenho as skills necessárias agora.

Finalizando…

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Brazilian Programmer, caught between the black screen and rock n' roll 🤘 — Senior software Engineer