Como é trabalhar como Front-End Developer, por Ricardo Junior

Ricardo Junior
Training Center
Published in
10 min readOct 9, 2017

Esse post é parte de uma série de entrevistas para o Training Center sobre o que um profissional pode dizer sobre sua área de atuação visando mostrar para outras pessoas como é trabalhar no que fazem, esclarecendo para algumas pessoas se elas se dariam bem trabalhando na área ou mesmo só para mostrar para outras pessoas como é trabalhar com isso.

Meetup CSS #20 no Reclame Aqui, pouco tempo após grandes mudanças…

Introdução

Eu sou Ricardo Junior, tenho 21 anos, trabalho como Front-End Developer na incrível empresa que é o Mercado Livre, mais especificamente na Melicidade em Óz.

Sou desenvolvedor desde Agosto de 2008, e eu não escolhi ser desenvolvedor, simplesmente aconteceu.

Comecei a me aventurar em desenvolvimento com Front-End, na época, eu usava o Notepad++ (pelo que eu lembro, na versão 4) e o FrontPage — Hahahahha! Ridículo! Porém era bom pra escolher cores e eu não tinha noção nenhuma de design. Customizava um Blogger, para escrever sobre “God Of War”, juntava detonados, escrevia truques. Era muito básico, muito básico mesmo e era divertido.

Pouco tempo depois, eu já tinha mais conhecimento em HTML e CSS e surgiam, então, as primeiras documentações do HTML5 e eu ficava em casa testando, brincando com recursos novos, elementos novos, testando propriedades do CSS3, navegando no site do Maujor (na série “teste o que você sabe”, ou coisa assim). Quando fui perceber e “cair na real”, eu já programava em várias linguagens (C/C++, C#, JavaScript, T-SQL, etc), e minha profissão já tinha me escolhido.

Como você conheceu a área de Desenvolvimento Front-End?

Eu simplesmente fui escolhido. Eu sabia algumas coisas de Front-End e meu chefe, no meu primeiro emprego, me deu um livro e me colocou para aprender lógica de programação e depois C#. Isso foi o que mudou totalmente minha carreira.

Lógica de programação em português estruturado, para mim, que estava começando e não conhecia a fundo uma linguagem qualquer, era muito foda! Fazia muito sentido, li e re-li o livro “Lógica de programação” de Henri Frederico Eberspacher várias vezes e cada vez ficava mais legal.

Então acho que esse é o ponto que faz toda a diferença para qualquer iniciante, comece pela lógica (eu sei que a vontade de correr antes de andar é grande, mas é muito importante mesmo). Depois veio a SQL, depois muito JavaScript, depois JavaScript no back-end, AWS, Dynamo, Redshift, ElasticSearch… Quando eu percebi, já era Full-Stack! Trabalhava com back-end, front-end, bigdata e um fanático por arquitetura de software.

Por que você escolheu ser Front-End Developer?

Eu trabalhei 7 anos e 1/2 (gosto de números exatos ;D) como full-stack, eu estava no momento atuando em projetos muito ligados a experiência e design e estava querendo um foco. Estava cansado de atuar em todos os níveis da aplicação. Queria fazer as coisas com uma perfeição e preocupação em detalhes aonde tocasse diretamente no usuário. Foi quando então eu vi uma missão importante para mim (chega a ser poético):

Você pode trabalhar com designers fodas, que desenham coisas fodas e criam sonhos. Só que só vai ser foda mesmo para o usuário final, se você reproduzir o que o designer pensou, rigorosamente com todos os detalhes, e então basicamente se o trabalho do designer é sonhar, o seu é começar numa ponta da aplicação a tornar tudo aquilo em realidade.

E isso era exatamente aonde eu queria estar, ligado a design, experiência de usuário, focado mesmo em fazer o que precisasse para que uma boa arte ficasse perfeita, e eram desafios novos o tempo inteiro, dos layouts malucos, as animações, performance, cross-browser e por ai vai.

É muito provável que isso só aconteceu por ter trabalhado com designers fodas e ver como eles trabalhavam, como eram detalhistas… Quando foquei em usabilidade, por uma série de coincidências da vida de novo, saí da HappyBiz (Ex N.O.C.P) e entrei na Huge.

Como foi o seu primeiro trampo?

Meu primeiro trampo foi foda (não vou censurar, pq dessa vez merece mesmo), eu comecei na N.O.C.P, era basicamente uma cobaia, sabia pouca coisa de Front-End, algumas SPECS do que estava começando a surgir no HTML5 e CSS3, ganhei um livro de lógica no meu primeiro dia, uma máquina com Visual Studio, e uma lista de telas feitas em C# pra dar uma lida nos códigos e tentar entender alguma coisa.

Passei praticamente o meu 1º mês estudando, fazendo coisas simples e engatinhando (mesmo estudando pra c#r!$@o em casa). Comecei a desenvolver algumas telas em C#, fazer alguns scripts no T-SQL e fazer documentações dos projetos, padrões, etc. Com muito estudo e em pouco tempo, eu já tinha um bom conhecimento em C# e mais ainda em JavaScript.

Pouco tempo depois apareceu uma oportunidade para refazer a estrutura completa de um software que talvez me daria abertura para levar isso aos demais, montar um início de um framework para os softwares do trampo. Isso era muito importante para empresa e ainda mais para mim, era “A OPORTUNIDADE”.

E a ideia era simples: desacoplar o front-end do back-end (pouco se falava disso na época), deixar todo front orientado a objetos, e criar objetos inteligentes para montar as telas rapidamente.

Comecei a fazer isso em Dezembro, pra acabar no começo de Janeiro, logo após o recesso do fim de ano e foram os melhores dias de desenvolvedor pra mim, que em pouco tempo mudariam tudo.

Segunda a Segunda eu estava lá… Estudando arquiteturas, testando coisas, escrevendo código e refatorando. Foi mais que uma escola pra mim. Eu conhecia a antiga forma de trabalhar, conhecia as falhas, conhecia tudo que era improdutivo, tudo que podia ser refatorado, desacoplado e ganhar tempo no desenvolvimento.

E daí para frente, minha carreira em desenvolvimento engrenou, e a N.O.C.P nessa época viveu mudanças drásticas em seus produtos (de qualidade até entrega). Foram um conjunto de coincidências da vida, as coisas foram acontecendo, dando certo e foi (a metodologia era XGH, EXTREME GO HORSE — hahahaha).

Quais são as skills de quem trabalha nesta área?

Dedicação e Cuidado, são básicos.

Você tem que estar a fim de desafios, estudar o tempo todo e fazer o máximo possível para o bem do usuário. Você cuida dele, lembre-se também de quando você é o usuário e se ferra — falo isso porque às vezes uma falta de cuidado qualquer, gera um bug que prejudicará seus usuários, e muitas vezes você também reclama dos bugs dos outros.

Desafio você a gerar menos bugs do que ficar falando dos bugs nas aplicações alheias.

Não se apegue a ferramentas, bibliotecas, coisas hypes, modinha e blablabla… As coisas vêm e vão. No meu começo a galera crucificava single file’s, hoje tem gente voltando a fazer isso. A galera amava JQuery, hoje tem o “partido de oposição ao jQuery”.

As coisas vão do ódio ao amor, o tempo todo, chega a ser um pouco ingrato, mas você tem que estar disposto a mudar/estudar o tempo todo. Saber equilibrar o risco do projeto com o prazo e a stack que você irá utilizar.
Testar novas ferramentas/stacks/frameworks/arquiteturas é legal, mas, às vezes, realmente vale a pena um projeto entregue do que um cliente te massacrando.

Ser um Full-Stack certamente é um diferencial. Falo de saber back-end mesmo. Mesmo que você só faça front, além de te trazer um leque de possibilidades durante um projeto, pense que às vezes você poderá opinar muito mais em como um funcionalidade deve ser feita, visando as duas pontas, efeitos colaterais, possíveis problemas, inconsistências… Ou melhor ainda: pensa aquela sexta feira com deploy (o tinhoso na terra), um bug aparece, ninguém sabe se é no front ou no back. Saber as duas pontas te faz ir mais longe.

Quais são os principais desafios da área?

Para mim são 2 desafios épicos:

  • o maior na minha opinião é manutenção/escalabilidade que é diretamente ligado aquele assunto que eu amo: arquitetura de software
  • o segundo desafio é manter de forma saudável e equilibrada a sua vida pessoal, seus estudos e seu trabalho (fora os freelas) — enesse segundo, sendo bem sincero, apanho até hoje

Da uma olhada nessa trhead sobre o assunto equilíbrio profissional/pessoal.

Quais são as principais recompensas da área?

Eu acho muito foda mesmo, como você consegue atingir diretamente a vida das pessoas, através de um serviço bem feito, seja app, site, software, o que quer que seja e transformar o dia de seus usuários para melhor (lembrando que, você também pode transformar para pior — tome cuidado pra você não criar às vezes o pior dia da vida de um usuário).

Eu geralmente tenho um apego de pensar como eu gostaria de usar aquilo que estou fazendo, pensando sempre como a primeira vez de um usuário, entendendo melhor sua curva de aprendizado.

Outra “recompensa” muito boa, é que tem muito espaço para crescer no mercado, faltam profissionais (muitos mesmo). E sério, isso vale muito para os mais novos, que podiam começar mas tem um monte de receios… Um deles poderia ter sido eu, inclusive, por muito tempo foi literalmente eu.

Então arrisque, pra quem está começando, no máximo você vai errar cedo (e então recomeçar).

Sorte do dia: Estamos cheios de vagas no Mercado Livre.

E por último, vou usar uma frase que sempre teve muito a ver comigo, que eu sempre ouço do @lfeh (Felipe Fialho):

Você vai ganhar dinheiro para fazer uma coisa extremamente divertida

E isso é bem o que acontece comigo. As vezes passo o tempo desenvolvendo ou fazendo alguma coisa e não vejo a hora passar, quando estou sem nada para fazer vou desenvolver ou testar alguma coisa, trabalho mais do que eu precisaria num dia, só porque aquela task estava muito foda. E com isso eu sou incansável.

Você pensa em mudar de área?

Todo dia eu penso em fazer algo diferente, mas sem sair do desenvolvimento.

Eu sou apaixonado por Arquitetura e por Processos do conceito a prática, passo muito tempo querendo testar novas coisas, ou criar.

Sendo bem sincero, de vez em quando bate uma saudade de trabalhar como Full-Stack, de fazer um select da hora, escrever um serviço foda, um Big-Data, ML, AI...

Mas hoje, ainda continuo com meu apego a ponta do iceberg, é como estar lado a lado com o usuário o tempo todo e isso é demais ❤.

Por que alguém deveria se tornar Front-End Developer?

Se aquilo que eu falei sobre transformar o sonho dos designers em realidade, porque você está querendo mudar alguma coisa na vida dos seus usuários te mover de alguma forma, você deve pelo menos experimentar um pouco, a vida de ser Front-End Developer.

Um recado para jovens e iniciantes

Não se intimide pelo que você conhece e principalmente pela sua idade.

Minha maior dificuldade no começo era o medo de saber como os outros me enxergavam (tipo: Trabalho infantil, o que é essa criança aí desenvolvendo, entre outras frases hilárias).

E sobre seu conhecimento: uma coisa é certa, a verdade de todo mundo é diferente, o conhecimento de todo mundo é diferente, você pode saber alguma coisa que uma pessoa muito experiente e vivida não saiba, não ouviu falar ou não leu sobre. Isso não deve ser problema para ninguém. Nosso mercado é muito dinâmico mesmo, você só deve se preocupar em se manter atualizado.

Experiência é ótimo (é muito foda mesmo), salva muito, em muitos momentos (na grande maioria deles). Maaaaaaas se o mundo dependesse somente da experiência de pessoas passadas acreditaríamos até hoje que a terra é quadrada. Então teste suas ideias, coloque-as em prática, cometa erros e acertos e tente de novo, e de novo, e de novo…

E por último, “baby steps”, tem um caminho, siga ele, não pule etapas. E se você, iniciante ou não, quiser conversar, bater um papo, é muito fácil falar comigo: ricardojr.com.br, lá tem todos os meus contatos possíveis, mas também pode morse, fumaça… Menos SMS.

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