Raio-x do usuário Buser: pesquisa revela perfil do público de fretamento colaborativo no Brasil

Buser Brasil
Transporte Colaborativo
11 min readApr 28, 2021

Plataforma entrevistou mais de 2.700 usuários entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021, revelando dados como perfil sociodemográfico, faixa etária e os principais motivos de viagem

O setor rodoviário regular de transporte coletivo interestadual vem observando uma redução no total de passageiros transportados entre 2013 e 2019. Uma das possíveis causas, conforme já citado nesta plataforma, pode ser a concentração de mercado e consequente falta de competitividade. A chegada do fretamento colaborativo, sendo a Buser atualmente o principal ator, mexe um pouco com a dinâmica do setor rodoviário e tem potencial de causar uma melhoria na oferta e nos serviços ao consumidor final. Situações parecidas ocorreram nos EUA e na Europa nas décadas passadas.

Mas quem são os usuários e as usuárias do fretamento colaborativo? Quais as razões que os fazem utilizar este serviço? Para tentar responder essa pergunta, a Buser realizou uma pesquisa entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021.

Ao todo foram obtidas 2.730 respostas, sendo 1.307 do estado de São Paulo, 757 de Minas Gerais e 268 do estado do Rio de Janeiro. O questionário foi enviado por meio digital (via push no aplicativo) durante ou imediatamente após uma viagem realizada. O envio foi feito em diversos estratos de usuários diferenciados entre si pela frequência de uso da plataforma, para evitar amostras com viés, e controlado através da Unidade da Federação de residência. Com nível de confiança de 95%, a margem de erro da pesquisa é de aproximadamente 2% para mais ou para menos.

Usuária em viagem pela plataforma Buser

Característica das usuárias e usuários

Gênero e Idade

A primeira pergunta dizia respeito ao gênero declarado pelos usuários e usuárias da plataforma Buser. Em números gerais, 52,2% se autodeclararam do gênero feminino, 47,3% do gênero masculino e 0,4% de gêneros não binários.

Outra importante análise foi a da caracterização do perfil de idade dos usuários e usuárias Buser. Mais da metade das pessoas - 54% - têm de 26 a 45 anos, 27,4% têm mais de 45 anos e 18,6% são jovens de até 25 anos de idade.

Ao se analisar os estrados por unidade da federação observam-se pequenas diferenças. O estado de Minas Gerais tem predominância de usuários até 35 anos, contabilizando cerca de 53%. Por outro lado, nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro a predominância, com mais da metade da amostra, são de pessoas entre 26 e 45 anos de idade, com porcentagens de 53,3% e 55,2%, respectivamente. O gráfico a seguir apresenta os dados estratificados das três principais unidades da federação - São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro - obtidos na pesquisa, cujos erros amostrais estratificados foram de 2,7%, 3,5% e 6%, respectivamente.

Proporção de faixas de idade por Unidade a Federação

Renda

O questionário enviado aos usuários e usuárias Buser também perguntou sobre o perfil de renda. Na questão sobre renda individual observou-se que 64,2% dos usuários da plataforma Buser recebem até 3 salários mínimos.

Dada a grande quantidade de pessoas jovens da amostra, torna-se importante conhecer também a característica familiar dos usuários e usuárias Buser. Foram feitas duas novas perguntas: uma a respeito da renda familiar e outra da quantidade de membros da família. Ao todo, 44% das pessoas têm renda familiar de até três salários mínimos e 21,7% têm de três a cinco salários mínimos, ou seja, cerca de 2/3 dos usuários e usuárias Buser compõem famílias de renda de até cinco salários mínimos. Ainda sobre o perfil das famílias, 39,6% são famílias com até duas pessoas, contabilizando a pessoa entrevistada, 23,5% são famílias compostas por três pessoas e 36,8% por quatro ou mais pessoas. O gráfico a seguir apresenta as proporções de faixas de renda nas diferentes dimensões de famílias.

Proporção de faixas de renda familiar por perfis de composição familiar

Posse de automóvel

Por fim, os usuários foram questionados em relação à posse de automóvel. Além de contribuir para a caracterização socioeconômica, essa informação também dá uma dimensão sobre a escolha da Buser por outros motivos além do econômico.

O fato de uma pessoa possuir automóvel e ainda assim optar pela viagem de ônibus traz à tona outros pontos positivos do fretamento colaborativo, pontos estes que vão além da oferta de preço. Em números gerais, aproximadamente metade dos usuários Buser - 51% - não possuem carro próprio. O gráfico a seguir apresenta os dados de posse de automóvel por grupos de renda individual.

Posse de automóvel por faixa de renda

Perfis comuns

Para as análises de viagens, além das estratificações por unidade da federação, podem ser consideradas também estratificações por perfis comuns de usuários e usuárias Buser. Observando as características do banco de dados, foram selecionados três tipos de usuário padrão da plataforma. São eles:

  • Perfil 1 - jovem independente: trata-se de um homem de até 40 anos de idade, com renda individual de até 5 salários mínimos e sem posse de automóvel. A família é composta por até duas pessoas, incluindo o usuário.
  • Perfil 2 - mulher madura: trata-se de uma mulher entre 25 e 45 anos, com renda familiar de até 5 salários mínimos e com posse de automóvel. A família é composta por duas a cinco pessoas, incluindo a usuária.
  • Perfil 3 - família de classe média alta: trata-se de uma pessoa com 40 anos ou mais, com renda familiar de 5 ou mais salários mínimos e com posse de automóvel. A família é composta por 3 ou mais pessoas, incluindo a entrevistada.

Característica das viagens

Motivo da viagem

Para entender melhor o perfil dos viajantes e suas motivações, os usuários também foram questionados sobre o motivo do deslocamento. Para esse quesito foi utilizada a pesquisa auxiliar, realizada automaticamente no app após o embarque do usuário, cujo erro amostral geral calculado foi de 1,5% para mais ou para menos.

Nota-se a predominância dos motivos “família”, “lazer” e “trabalho”, representando 37%, 29% e 21%, respectivamente. Além destes, 4% realizam viagens pelo motivo “estudo” e o restante - 9% - por outros motivos.

Em análise estratificada por unidade da federação, foi possível entender o perfil de motivos das viagens nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Os erros amostrais dessas estratificações foram de 2,2%, 3,3% e 4,2%, respectivamente.

Cerca de 60% das viagens em São Paulo são realizadas segundo os motivos “lazer” e “família”, enquanto 23,1% pelo motivo “trabalho”. Os motivos “lazer” e “família” representam para Minas Gerais e Rio de Janeiro cerca de 71,5% e 69,8% das viagens, respectivamente, enquanto o motivo trabalho representa 18,3% e 19,4%.

Segurança

Em outra pesquisa recente, realizada em outubro de 2020, foi possível ter noção da importância da segurança na escolha da Buser para realização das viagens. Enquanto nas viagens por ônibus de rodoviária apenas 67,5% das pessoas se sentem seguras, nas viagens pela plataforma Buser esse índice é de 86%. Esse aumento na sensação de segurança é ainda mais marcante se observarmos por gênero. As viagens por ônibus de rodoviária são seguras apenas para 58% das mulheres e, por outro lado, são seguras para 81% dos homens. As viagens Buser, por sua vez, são seguras para 84% das mulheres e 89% dos homens. Nota-se o grande salto na sensação de segurança das mulheres, muito devido às condições do embarque e aos itens de segurança extras que a plataforma oferece.

Motivo da escolha pela Buser

Nesta pesquisa, procurou-se entender outras motivações decisivas na escolha dos usuários e usuárias pela Buser. A pergunta de múltipla escolha realizada foi “Qual principal motivo de você ter escolhido a Buser?” e as opções de resposta foram a respeito de preço, praticidade em utilizar o aplicativo, conforto, horário e local de embarque, e outros. Para 75% foi o preço oferecido a maior motivação de ter escolhido a Buser já que o auxílio da tecnologia contribui para que a Buser apresente reservas cerca 60% mais baratas que o transporte tradicional. Outros pontos como a praticidade, o conforto e o horário/local de embarque representam 10%, 8% e 4%, respectivamente.

Foi possível estratificar por unidade da federação. Nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro o preço é o principal motivo pela escolha da Buser para 78,3% e 77,1%, respectivamente, enquanto para Minas Gerais essa proporção é de 71,5%.

Analisando as respostas por perfil, nota-se que o preço é mais relevante para o Perfil 1, de um homem jovem não portador de automóvel do que para os demais perfis, cerca de 82%. Por outro lado, para o Perfil 3, de uma pessoa mais velha, portadora de automóvel e parte de uma família mais rica e numerosa, a predominância do motivo preço reduz, mesmo ainda sendo relativamente alta em cerca de 68%. Nesse perfil, a praticidade em comprar pelo app e o conforto têm um peso maior que os demais, somando mais de 25%.

Acesso ao embarque

A terceira pergunta sobre a viagem diz respeito ao acesso ao local de embarque. Essa informação é importante tanto para refinar a caracterização socioeconômica dos usuários e usuárias, quanto para entender como os locais de embarque da Buser estão acessíveis e estimulando a integração modal em área urbana. No geral 71,5% dos usuários foram até o local de embarque com automóvel, tanto de carona de automóveis da família ou de amigos, quanto através de aplicativos. Por outro lado, 26,9% utilizaram o transporte coletivo do município de origem, sendo ele ônibus, metrô ou trem.

Entre as unidades da federação há grandes diferenças. No estado de São Paulo, muito puxado pela capital, a proporção de acesso ao embarque por automóvel é de 62,4%, inferior a Minas Gerais e Rio de Janeiro que contabilizam 82,4% e 67,2%, respectivamente. Em relação ao acesso ao embarque por transporte coletivo, os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro contabilizam proporções de 36,0%, 15,6% e 31,3%, respectivamente. Nota-se que os mineiros e mineiras são mais dependentes do automóvel para acessar o embarque, em especial através de serviços de aplicativo. O gráfico a seguir apresenta as proporções de acesso de cada modo de transporte nos três estados.

Modos de transporte no acesso ao embarque por estado

Analisando as diferenças por perfis comuns, nota-se que a posse de automóvel e o tamanho da família são fundamentais na escolha por modais coletivos ou automóvel próprio. O uso de aplicativos de ridesharing mostra ter forte relação com a renda familiar mais alta, uma vez que há um destaque no Perfil 3. O gráfico a seguir apresenta a proporção considerando o modal e o tipo de perfil de usuário Buser.

Modos de transporte no acesso ao embarque por perfil

Geração de viagem e fomento à economia

Por fim, perguntou-se se a viagem pela plataforma substituiu um trajeto que já aconteceria de qualquer forma por outro meio de transporte ou se não substituiu nenhuma, sendo gerada por promoções apresentadas pela Buser.

Ao todo, cerca de 20% das viagens Buser são deslocamentos que a princípio não existiriam, ou seja, são trajetos incentivados pela plataforma. Se nos meses de dezembro de 2020, janeiro e fevereiro de 2021 cerca de 800 mil viagens ocorreram na plataforma, isso significa dizer que 160 mil viagens surgiram pela presença da Buser, ou seja, até 160 mil pessoas passaram a viajar, se hospedar e consumir em seus destinos.

Trata-se de um atividade que fomenta a economia do país, tanto diretamente, por meio do emprego gerado pela viagem em si, quanto indiretamente, com o consumo dos novos milhares de viajantes em diversas partes do Brasil.

Conclusões

Pesquisas de caracterização são de extrema importância para entender melhor os impactos de um serviço de transporte rodoviário na economia e no turismo do Brasil. E por se tratar de um serviço novo - o fretamento colaborativo - pesquisas como esta são ainda mais importantes. Além de entender os impactos, os resultados ajudam a desmistificar alguns senso comuns que não condizem com a realidade.

A caracterização socioeconômica dos usuários aqui apresentada tem grande importância pois desmistifica a ideia de que só jovens e mais ricos utilizam a plataforma. De fato a faixa de idade de maior relevância é de 26 a 35 anos, porém faixas superiores são representativas na amostra. Metade dos usuários e usuárias Buser tem 36 anos ou mais. Sobre renda, cerca de 82% das pessoas têm renda individual de até 5 salários mínimos. Pouco mais da metade não possuem automóvel.

O principal motivo das viagens é “lazer e família” que juntos representam 66% das viagens, mostrando o grande potencial que a Buser tem de impactar positivamente no turismo. De qualquer forma, o motivo “trabalho” não é desprezível, totalizando 21% das viagens.

A segurança é o ponto forte da Buser, com avaliação positiva muito superior ao sistema de transporte rodoviário tradicional, principalmente entre as mulheres. Entre os demais motivos que atraem usuários à plataforma, o preço é o grande motivador em 75% das viagens. A praticidade em comprar pelo App e o conforto dos ônibus vêm na sequência, com valores inferiores porém não desprezíveis. Nota-se que há maior atratividade pelo preço no perfil 1 de um jovem com salário de até cinco salários mínimos e sem posse de automóvel. Para uma pessoa mais velha, integrante de família mais numerosa e rica, o preço tem menor importância, apesar de ainda ser o item mais relevante.

O acesso ao embarque se dá em sua maioria pelo modo automóvel, porém em 1/4 dos casos o transporte coletivo urbano é a opção. O estado de São Paulo, provavelmente puxado pelos municípios da região metropolitana da capital, é o menos dependente do automóvel por aplicativo, e surpreende sendo - por diferença pequena - o principal em automóvel próprio. O transporte coletivo, por sua vez, tem a mesma relevância do automóvel por aplicativos. Minas Gerais é o estado com maior dependência do automóvel no acesso ao embarque, muito puxado pelos aplicativos de ridesharing. Os perfis comuns têm o acesso extremamente ligado à posse de automóvel e ao tamanho da família. Enquanto o perfil 1 tem destaque entre os perfis no transporte coletivo, os perfis 2 e 3 se destacam no acesso com automóvel próprio. O uso de aplicativos de ridesharing têm ligação à renda mais alta, sendo destaque o perfil 3.

Aproximadamente 20% das viagens Buser são viagens geradas pela plataforma, ou seja, viagens que não ocorreriam com os outros modos de transporte disponíveis e só aconteceram pela promoção gerada pela Buser. Trata-se de um enorme potencial de alavancar a economia e o turismo no Brasil. Espera-se que o poder público trabalhe para construir uma regulação atrativa ao setor, garantindo as condições necessárias para evolução e aumento de competitividade do setor.

Esta pesquisa é de extrema importância para subsidiar uma regulação saudável ao setor rodoviário. É possível reverter as constantes perdas de passageiros do setor rodoviário no Brasil, como já foi feito em muitos países mundo afora.

A Buser pretende continuar realizando essa pesquisa regularmente, em outras épocas do ano, para entender cada vez mais e de forma mais aprofundada as características do fretamento colaborativo, contribuindo para questões regulatórias e de acesso e direito ao transporte.

Download: banco de dados

--

--

Buser Brasil
Transporte Colaborativo

A Buser é uma plataforma que faz intermediação de viagens de ônibus, conectando pessoas interessadas em viajar e empresas de fretamento.