Eu não sou, você não é, nós não somos

Beatriz Klimeck
transtornosalimentares
2 min readFeb 6, 2017

Para além do estigma, sempre.

Quando decidi começar com a página, a única coisa que eu sabia que queria era falar. Fazia algum tempo que tinha "saído do armário" no Facebook, para amigos. Muitos na minha família ainda não sabem, apesar de que, hoje, mil e oitocentas pessoas acompanham o que eu escrevo.

Eu queria a expressão bem ali: transtorno alimentar. Eu queria dar nome, que fosse o termo médico. Claro que não é o único assunto da página, mas eu não esqueço a que vim. Muitas mulheres gordas falam sobre a imensa dor de existirem nessa sociedade, e cabe a mim ampliar suas vozes enquanto posso e somar no discurso contra a gordofobia. Tem cada vez mais gente gritando pelo direito de ter o corpo que quiser, graças à Deusa… mas eu queria outra coisa.

Eu não tenho um diagnóstico. O mais próximo disso foi um médico da lista do plano de saúde para quem corri escondida quando achei que minha saúde estava prejudicada, e pra quem eu consegui dizer "eu… acho que tenho um transtorno alimentar…" — e que me assustou dizendo que teria que avisar ao meu plano (avisou. ninguém fica sabendo. respirem). Agora comecei a terapia — coisa que eu deveria "me envergonhar" de dizer, e não vou — e talvez em algum momento acene para um ou outro termo do catálogo.

Mas isso é o que menos importa.

Eu quero falar em transtorno alimentar até que não seja mais motivo de vergonha, até que não sejamos mais "a amiga bulímica" ou "o amigo anoréxico".

Eu quero falar em transtorno alimentar até que possamos falar abertamente sobre, até que admitir que precisamos de ajuda seja cada vez menos doloroso.

Eu quero falar em transtorno alimentar para que a gente possa desnaturalizar essa alimentação disfuncional vestida de "dieta", essa obsessão com o corpo plástico, essa glamourização da restrição.

Escrevo porque acredito na mudança, falo porque quero um mundo melhor para as gerações que estão chegando e sei que ainda podemos aliviar um pouquinho o peso da pressão estética e da gordofobia mesmo nas senhorinhas mais idosas. Essa página acredita que representatividade não basta, mas importa — e muito.

fala comigo! seutranstornoalimentar@gmail.com

--

--

Beatriz Klimeck
transtornosalimentares

na luta diária pela conscientização de que deixar de odiar o seu corpo é a maior revolução.