O que é farmacogenômica. Esse bicho morde?

Fabricio Pamplona
Tudo Sobre Cannabis
3 min readNov 5, 2020

A farmacogenômica é a ciência que estuda a maneira como o nosso organismo reage aos princípios ativos dos medicamentos. A gente costuma prestar atenção à biologia da planta e “entender tudo” sobre os canabinoides, mas poucos refletem a respeito da biologia do paciente. Esse fator é determinante para uma série da aspectos, desde definição de dose, até identificar a suscetibilidade a efeitos adversos.

Afinal, do ponto de vista biológico, nós não somos iguais; pelo contrário, cada um de nós é único. No desenvolvimento de medicamentos é muito difícil levar essas variações individuais em consideração, então os medicamentos são desenvolvidos levando em consideração a média da população, mas na prática clínica a realidade é outra.

Com a farmacogenômica conseguimos identificar perfis de pacientes dentro de uma população heterogênea. Dentro de um mesmo grupo tratado com a mesma substância da mesma maneira, há aqueles que reagem bem, os que não reagem e os que reagem mal, dando um exemplo bem simplista. Isso é comum, acontece para a maioria dos pacientes e é uma das bases mais estruturantes da medicina personalizada.

Na medicina canabinoide é muito comum ouvirmos os médicos e os pacientes relatarem um ajuste de dose individualizado. Tome como exemplo o artigo principal que demonstrou o efeito do CBD na epilepsia, trecho retirado do artigo destacado abaixo:

Isso não é brincadeira, no paper que descreve o estudo observacional do CBD em epilepsia refratária em crianças, a diferença vai de 2 mg/kg a 25mg/kg, em casos raros até 50 mg/kg. Vamos colocar essa matemática no papel? Pra uma criança de 30 kg, é a diferença entre tomar 60 mg ou 1500 mg de CBD a cada dia. No primeiro caso, é um tratamento financeiramente viável, no segundo, é praticamente tomar um frasco a cada 2 dias. Ou seja, daí se tira uma ideia do impacto que isso tem no dia a dia do paciente.

A diferença de dose de tratamento vai de 2 mg/kg a 25mg/kg, em casos raros até 50 mg/kg. É uma diferença gritante de pelo menos 10 vezes na dose administrada diariamente. Até para medicamentos considerados “inofensivos”, uma diferença de dose de 10x pode ser a diferença entre um efeito terapêutico desejado e efeitos adversos intoleráveis.

O que está por trás da enorme variação de dose do CBD na epilepsia, dependendo do paciente é:

  1. O tipo do produto, e sua composição
  2. O metabolismo do paciente

Usando o exemplo acima, bons metabolizadores de CBD precisam de doses superiores aos pacientes que tem um metabolismo inibido. Se você pudesse ter esse tipo de informação a seu respeito, a chance de encontrar logo a dose certa aumentaria muito, ou ainda, dá subsídio para o seu médico considerar tratamentos complementares com outros canabinoides (trazendo a velha discussão do efeito entourage x CBD puro) ou fazer a combinação com tratamentos adicionais não canabinoides.

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Fabricio Pamplona
Tudo Sobre Cannabis

Neurocientista. Empreendedor. Muita história pra contar.