Haddad, por favor, vá para o Facebook
Na manhã desta quarta-feira, 29, abri o Facebook e lá estava Romário Faria me dando um bom dia ironicamente chateado. De Genebra, na Suíça, o deputado acabara de descobrir que não era dono de alguns milhões atribuídos a ele pela revista Veja no último fim de semana. O bom dia, claro, não chegou só a mim, mas a boa parte dos 2 milhões de internautas que o seguem pelo Facebook.
Horas depois, Romário apareceu de novo para informar que um documento usado pela revista para comprovar sua publicação era falso. Mantendo o tom irônico, deu o nome dos que participaram da história e link para seus perfis no Facebook. Ao menos por ora, enterrou uma polêmica que poderia prejudicar a sua imagem.
Romário foi rápido e certeiro. Agindo com tranquilidade, bom humor e sagacidade, aposto que tocou uma porção dos que costumam acreditar em tudo o que é publicado pela Veja. Esse tipo de atitude é justamente o que falta ao prefeito de São Paulo.
Fernando Haddad apanha diariamente da grande imprensa, mas às vezes parece que ele não se importa — o que, na minha visão de eleitor, soa um tanto egoísta. Egoísta porque Haddad é a minha esperança de uma São Paulo mais humana e, se ele continuar agindo como se não se importasse com a opinião pública, dificilmente será reeleito em 2016. Ainda mais agora que o Datena, um personagem popular e reconhecidamente anti-Haddad, anunciou que entrará na disputa.
Quando a Veja São Paulo divulgou uma reportagem denunciando gastos exorbitantes da administração com a implementação de ciclovias, a Prefeitura soltou uma nota naquele seu site feio e burocrático enquanto Haddad lutava para se explicar na grande mídia. Coube ao pessoal do Vá de Bike elaborar um texto mais didático que contava direitinho por que a publicação não fazia sentido.
Recentemente, um vídeo sobre a assombração paulista chamada “indústria de multas” levantou a questão de que, sob a ponte das Bandeiras, na marginal Tietê, um radar aplica milhares de multas por ano. A Folha foi lá e publicou uma reportagem sobre a situação, confirmando que, nesse período, 375 mil multas foram aplicadas ali, sendo que mais de 370 mil delas por conversão proibida à direita. Pois a CET resgatou um vídeo para mostrar quão bem sinalizada é a região, que possui placas ao longo dos três quilômetros que antecedem o acesso.
São exemplos práticos de como se pode dialogar com a população sem depender da grande imprensa ou, pior, da imprensa a favor. Nesta semana o prefeito se encontrou com blogueiros e ativistas digitais para conversar (eu nem fui convidado); falou tudo aquilo que quem o defende gosta de ouvir, inclusive que o monotrilho do Geraldo Alckmin já custou uma fortuna e não chega a percorrer três quilômetros — repare bem: o monotrilho encabeçado pelo governador tem a mesma extensão que o percurso sinalizado da ponte das Bandeiras e ninguém reclama.
Mas e daí? Quem se importa com o que publicam veículos como DCM, Pragmatismo Político ou Brasil 24/7? Não me entendam mal, nada contra eles, mas são conhecidos por posições favoráveis ao Haddad, então quem é contra o prefeito não dá a mínima para o que essa galera publica, porque é um pessoal que não visita sites de esquerda, assim como quem é de esquerda não dá ideia para Veja e cia.
Fernando Haddad precisa urgentemente se ativar no Facebook. O prefeito, e não aquele mundo de perfis fakes que fazem sátira chapa branca. Sim, eu acompanho o Haddad Tranquilão e sou grato por eles terem ajudado meu texto sobre a paixão pelo cara bombar, mas eles não são o prefeito. Poxa, Haddad, a Folha diz que a sua administração fechou 2014 com um rombo de R$ 1,8 bilhão e você vai se defender pelo Twitter?!
Prefeito, é bem fácil: quando chegar em casa, à noite, bote o smartphone num tripé de mesa (custa bem pouco) e fale sobre o que deve ser respondido. Peça para alguém fazer uma edição simples, com cortes secos, e tá tudo certo. Um videozinho no Facebook para cada grande polêmica e eu garanto que vai ficar difícil sustentar essa pancadaria. Pegue o exemplo do Romário, aprenda com o pessoal do Vá de Bike e da CET, não se deixe abater calado.