Uma semana em Paris

Leonardo Pereira
Uma Pera
Published in
7 min readJan 7, 2016

Paris… ah, Paris. Que cidade, que clima, que atmosfera. Paris é demais: bonita, bem equipada, bem preparada, cheia de gente e lugares interessantes. E cara pra caramba.

Não vai dar pra fazer o mesmo tipo de post que eu fiz quando escrevi sobre Londres porque, se lá eu fiquei só três dias, em Paris eu passei uma semana. Ia ficar um saco pra escrever e outro pra ler, então vamos encurtar um pouco as coisas, beleza? Beleza.

Entramos na França por Orly, aeroporto que fica a meia hora do centro de Paris. A Ryanair não te deixa lá, mas fomos de Transavia, que saiu mais barato e mais confortável — pegue esta dica: mesmo se o preço estiver um pouco acima, compensa, porque a Ryanair só vai pelo Beauvais–Tillé, que fica a quase 100 km do centro, então o transporte lá na França pode sair mais caro que as passagens de avião. Ficamos hospedados no Marais, um bairro central que reúne a cena gay e os judeus da cidade. O apartamento tinha três quartos e só um banheiro cuja “porta” era uma cortina. Apesar do desconforto, um baita lugar charmoso e a dona gosta tanto do Brasil que até fala português (é este aqui).

Laís e eu visitamos um monte de rolê clichê: Torre Eiffel, Arco do Triunfo, Catedral de Notre Dame, Sacré-Cœur, Moulin Rouge, Jardim de Luxemburgo, Pont des Arts (a que tinha os cadeados), Museu do Louvre, Palácio e os Jardins de Versalhes, Estátua da Liberdade (tem pelo menos três em Paris, mas só vimos a principal), Cemitério Père-Lachaise e o Centre Georges Pompidou.

Entrar, mesmo, só entramos em alguns lugares. Usamos dois critérios pra decidir quais mereceriam ser vistos por dentro: a graça e o preço. Torre, por exemplo, não valia a pena porque é caro e porque, como bem lembrou a Laís, quando está dentro da torre você só consegue ver a paisagem parisiense sem ela, o que para nós não fazia muito sentido. Mas eu garanto que os excluídos foram muito apreciados, valeu a pena vê-los só por fora. Olha o arco, por exemplo:

Arco do Triunfo
Arco do Triunfo

Museu do Ipiranga (Palácio de Versalhes)

Talvez o lugar mais impressionante que eu visitei nessa viagem. Quando já estávamos em Paris, um amigo recomendou que fôssemos ver o palácio e disse que o Museu do Ipiranga foi inspirado nele. Foi mesmo, inclusive os jardins, mas as proporções são bizarramente diferentes. Dá uma olhada no mapa abaixo para ver como aquilo é gigante; a parte verde ocupa uma área de 800 hectares.

A entrada no palácio custa € 15, mas eu não precisei pagar (explico isso mais pra frente). Vale a pena ver os jardins primeiro, porque todo mundo faz o contrário, então você evita filas. Lá dentro tem ouro pra todo lado, todos os ambientes internos são decorados e boa parte da mobília real está lá preservada.

Amélie Poulain

Não foi à toa que visitamos a Sacré-Cœur. Ela tem um papel importante no filme preferido da Laís, então entrou no roteiro obrigatório. Antes de chegar lá, passamos pelo Café des 2 Moulins, o lugar onde a Amélie trabalhava; ele fica pertinho da basílica e é bem simpático, mas o café mesmo não tem nada demais. A área da basílica é muito bonita e conta com um dos vários carrosséis de Paris, mas se prepare para subir alguns degraus se quiser chegar ao topo. De lá fomos ao Canal Saint Martin, onde a Amélie fica tacando pedrinhas.

Père-Lachaise

Oscar Wilde, Jim Morrison, Édith Piaf, Frédéric Chopin, Allan Kardec e Marcel Proust são algumas das personalidades que estão enterradas nesse cemitério. O passeio é macabro para o período, já que o inverno derruba todas as folhas das árvores. Ajuda também o fato de que o lugar é cheio de corvos, mas é um cemitério bem bonito, o que pra mim é novidade — eu sei que há vários cemitérios bonitos pelo mundo, mas eu nunca saí por aí turistando neles.

Os Museus

Aqui vai mais uma dica preciosa: planeje visitar Paris de forma a passar o primeiro domingo do mês lá, porque é quando quase todos os museus da cidade têm entrada gratuita. Mas consulte antes, porque em alguns casos, como Louvre, isso só funciona na baixa temporada. Foi assim que pagamos zero euro para entrar lá e no Pompidou; em Versalhes não pagamos porque somos estudantes na Europa, só precisamos mostrar os passaportes.

Bom, o Louvre é fantástico, eu sei que nem precisava escrever isso porque vocês viram no Código Da Vinci. A Mona Lisa, devo dizer, não está entre minhas peças de arte favoritas, tanto que fui até ela única e exclusivamente para ver se era verdade que um monte de gente se acotovelava pra tirar foto do quadro do meu xará. Valeu a pena:

O Louvre é dividido por áreas de interesse. Pelo que eu entendi, são quatro alas gigantes. Cada uma é separada em vários andares e cada andar tem pelo menos dois temas em exposição. Visitamos apenas duas dessas alas e cansamos demais, tem muita coisa ali. A parte que eu menos gostei foi justamente a da Mona Lisa (lá identificada como Gioconda), porque é onde fica aquele monte de quadros religiosos e pra qualquer lugar que se olhe tem alguém sendo esfaqueado, gente sofrendo, apanhando, além das centenas de jesuses. Não curto.

As duas exposições permanentes mais bacanas que eu vi são as esculturas gregas e a ala egípcia, onde tem múmia até de gato. Vimos também uma exposição temporária forçadíssima sobre a formação de mitos. Se chama “Founding Myths. From Hercules to Darth Vader”. Foi o que eles fizeram para enfiar Star Wars no museu, mas a única coisa interessante sobre o Anakin pós-Lado Negro da Força é o seu capacete original, da década de 1970.

No mesmo dia, à noite, fomos enfrentar uma fila com chuva para entrar no Centre Pompidou, que está recheado de Matisse, Picasso, Kandinsky, Dalí… e o que me deixou mais feliz: Duchamp. Minha obra de arte favorita é justamente o famoso urinol e ele está em exposição no Pompidou. Bem, na verdade o que está lá não é o original, de 1917, porque aquele se perdeu, mas sim um outro feito em 1964 por Arturo Schwarz sob supervisão do próprio Duchamp.

O Pompidou também foi o melhor lugar para comprar cartões postais. Falo com certa propriedade por ter olhado modelos e preços durante toda a viagem. O museu tem uma infinidade de postais, um mais bonito que o outro, e os preços são camaradas.

Centre Georges Pompidou
Centre Georges Pompidou

As dicas

Já falei do aeroporto e dos museus, mas tem outras coisas que é legal saber antes de viajar a Paris. Uma é que, embora, muita gente fale inglês por lá, vale a pena aprender o basicão do francês para não soar arrogante, coisa que eu fiz em um dia com a ajuda de listinhas com esta.

Outra coisa: se for passar cerca de uma semana, compre o Navigo, o bilhete único local, para sete dias. Custa € 21,25 e permite rodar de metrô e RER (tipo CPTM) à vontade. Quanto à alimentação, encontre a Picard mais próxima da sua hospedagem; é uma rede de lojas de comidas congeladas de alta qualidade e preços baixos — o combo prato, sobremesa e bebida sai por € 5. Ah, visite a região da Rue de La Harpe, que é bem charmosa e onde há vários restaurantes com preços bacanas.

Vinho? Nos mercados tem até de € 1 e pelo menos os de € 3,50 que eu comprei eram muito bons. E faça farofa à vontade, todo mundo faz isso na Europa, ninguém liga! Eu carreguei lanchinhos enrolados em papel alumínio pra todo lado, inclusive comi pão com mortadela dentro do Louvre.

Faça o que puder para evitar gastos porque, embora os blogs parisienses tentem desmentir isso, a fama de cidade careira é real. Laís gastou uns € 2 numa pasta de dentes menor que aquelas de viagem, sendo que aqui em Dublin eu compro o tubo gigante por € 1,50. Esqueci minha manteiga de cacau em casa e fiquei com a boca zoada por me recusar a pagar € 6 em uma de Paris. E uma pint de Guinness, que eu compro por € 5 em Dublin, chega a custar € 11 por lá.

Por fim, se puder, veja Paris numa temporada mais colorida. Como estamos no inverno, os jardins estavam totalmente desfolhados e as fontes da cidade, desligadas, o que tira um pouco da magia local. Mas se não tiver jeito, tudo bem, os músicos espalhados pelo metrô e pelos pontos turísticos se encarregam de te manter no clima. Isso e as plaquinhas engraçadas que estão por todo canto.

--

--