Branding para startups em estágio inicial: resolva problemas

Renato Galisteu
uncoolbr
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4 min readSep 12, 2023

Startups em estágios iniciais têm uma missão primordial: identificar e resolver um problema específico. Este não é apenas um processo de desenvolvimento de produto ou serviço, mas é, intrinsecamente, a essência da construção da marca. Se uma startup pode entregar uma solução eficaz, intuitiva, e ainda se destacar através de um atendimento ao cliente excepcional, ela já estará à frente de muitas outras no mercado.

Considere o caso do Nubank (NYSE: NU), a fintech brasileira que se tornou a maior do mundo, atendendo cerca de 85 milhões de clientes.

O seu sucesso não foi alcançado apenas por oferecer um cartão de crédito isento de tarifas mensais ou anuais. A real genialidade estava na maneira como lidavam com seus clientes.

Instituições bancárias, historicamente, tratam pessoas sem crédito e dinheiro como um número, uma despesa. O atendimento é sofrível. A experiência de uso detestável.

Em um mercado onde muitos consumidores se sentiam desvalorizados por instituições financeiras tradicionais, o Nubank surgiu como um oásis de empatia e compreensão. O simples ato de tratar o cliente como um ser humano, dando atenção às suas necessidades e preocupações, fez toda a diferença.

No Nubank, um atendimento excepcional catalisou o marketing boca a boca, transformando usuários satisfeitos em verdadeiros embaixadores da marca.

A empresa investiu em momentos “uau” que tocavam genuinamente os seus clientes. Situações como quando um cachorro mastigava o cartão de um cliente e o Nubank, além de enviar um cartão novo, mandava um osso de brinquedo (em sua característica cor roxa) para o cachorro.

Fonte: samaramedeiros, Instagram
O NuDog, o cartão de brinquedo de borracha do Nubank (fonte: Blog Nubank)

Esses momentos se tornaram emblemáticos, solidificando a associação da cor roxa com uma experiência bancária desburocratizada e centrada no cliente–e nos doguinhos.

Identidade cria reputação–e crescimento

No turbilhão do mundo das startups, onde o foco muitas vezes recai sobre MVPs (Produtos Mínimos Viáveis) e rodadas de investimento, o branding pode, equivocadamente, ser compreendido e empurrado para segundo plano.

O branding em startups early-stage, em sua essência, está em aplicar, de modo consistente, a visão, os valores e a missão da empresa em todas as frentes de contato do seu produto ou serviço com seus clientes.

Se uma de suas propostas de valor é “facilidade e acessibilidade”, tenha certeza que seu serviço seja verdadeiramente fácil e acessível. Parece bobo, mas, por vezes, fundadores tendem a querem encantar mais aos investidores do que aos clientes, negligenciando o objetivo do produto, criando complexidade para o time de tecnologia e, por ultimo, não conseguindo escalar.

A falta de recursos para campanhas de branding não significa negligenciar a construção de sua identidade de marca na forma como você presta serviços de atendimento, como constrói as respostas para as Perguntas Frequentes, como faz o seu CRM comunicar e engajar, e assim por diante.

Resumindo, tenha um guia de marca e aplique-o em todas as frentes de contato com o cliente. Campanhas de marketing extravagantes podem ser adiadas para fases mais avançadas da empresa. O núcleo do branding — a identidade e propósito da marca — deve ser uma prioridade desde o início.

Uma abordagem bem pensada ao branding pode não apenas fortalecer o relacionamento com os primeiros clientes, mas também estabelecer uma fundação sólida para o crescimento e escalabilidade futuros.

E lembre-se: branding se mede por satisfação do cliente, crescimento orgânico, Usuários Ativos Mensalmente e Diariamente (MAUs e DAUs) e tantas outras métricas. Não finja que isso não pode ser medido, ok?

Check List

  1. Território de marca: é fundamental ter clareza sobre o espaço que sua marca ocupa no mercado e como ali navega. Isso inclui entender o que a distingue dos concorrentes e a forma única com que atende às necessidades dos clientes.
  2. Valores, missão e visão: mesmo antes de ganhar tração no mercado, uma startup deve ter seus valores, missão e visão bem estabelecidos. Estes atuam como a bússola que guia todas as decisões e interações da empresa, garantindo coesão e consistência à medida que a empresa cresce (algo que será usado como compasso para o roadmap de produtos e serviços).
  3. Alavancagem através da identidade: investir tempo e energia para estabelecer uma identidade de marca clara no início pode atuar como uma alavanca de crescimento no futuro. Uma marca consistente pode aprimorar a retenção e lealdade do cliente, facilitar parcerias e, finalmente, criar uma reputação mais atrativa para potenciais investidores.
  4. Previsibilidade não é recorrência: o marketing de performance é previsível, ajuda a entender os gastos mensais em aquisição de usuários, mas não é duradouro. O que faz as pessoas ficarem não tem nada a ver com um melhor CPI ou CAC. Performance se paga mais rápido quando o branding opera em conjunto para gerar engajamento real com o novo usuário. Já falei sobre isso no artigo “Growth é cultura. Pare de falar somente de aquisição e performance”.

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Renato Galisteu
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Marketer and Comms Pro. Noah’s dad, coffee addicted. Startups, leadership and marketing related topics only.