She’s pilin’ boxes in front of the door

Cartas de um Flaneur — #007

Yves Hermínio
Unifei Finance Itabira
6 min readMay 14, 2020

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Quem gosta de fazer mudança? Sempre é algo complicado de se lidar, por mais que seja necessária em algumas ocasiões. Como filho de militar, já tive uma boa dose de mudanças na minha vida, seja de cidade, casa ou escola. Podemos ficar relutante de início, querendo manter a inércia do nosso atual estado, mas uma mudança sempre traz algo de bom, é nisso que devemos nos apegar. No meu caso, as mudanças eram por conta de promoções na patente do meu pai, ou seja, pelo menos eu tinha a certeza de que eu teria um quarto maior.

Com a data da mudança chegando, nos cabe arrumar algumas caixas e começar a guardar nossos pertences. Sempre achamos alguns tesouros nessas horas e, pode ter certeza, que essa caixa terá um carinho especial no momento de levar a mudança para o novo lugar.

Após a última carta, conhecemos o meio necessário para iniciar a mudança da nossa vida financeira. O acesso ao mundo dos produtos de investimentos se dá através de corretoras de valores. Agora que realmente começa a transformação. Temos que entender o que fazer e como fazer para cuidar dos nossos investimentos daqui pra frente.

A primeira coisa que temos que entender é, o que é um portfólio de investimentos? Nada mais é que uma carteira composta por várias classes de ativos, que possuem um propósito de estar compondo essa carteira. Não podemos pensar em nossos investimentos como ativos isolados, mas sim, se faz sentido dentro da alocação como um todo. Tudo tem que ter uma razão para estar lá.

Entendendo isso, passamos para a próxima pergunta, como construir esse portfólio? Voltando ao assunto das caixas, elas têm um papel fundamental nessa história toda. São elas que vão encher o caminhão dessa mudança de hábitos e formar o portfólio de investimentos. Essa carteira será construída ao longo do tempo, conforme seu nível de conhecimento, (espero te ajudar com isso), e capacidade de poupar dinheiro. Devemos nos atentar se ela possui todas as caixas abaixo:

1ª Caixa: Reserva de emergência e oportunidades;

2ª Caixa: Ativos locais;

3ª Caixa: Ativos globais e proteções;

4ª Caixa: Previdência.

Diferentemente da Hailie, devemos empilhar essas caixas, não para bloquear a passagem e impedir a mudança; mas sim para construir um bom portfólio de acordo com seus objetivos, sonhos e perspectivas. Assim, essa carteira será a responsável por te acompanhar durante toda sua jornada de investidor!

Enfim entramos no tema desta carta, vamos nos aprofundar na primeira das quatro caixas, a reserva de emergência e oportunidades.

Podemos considerar a reserva de emergência como aquele investimento obrigatório. É ela que vai ser a base do portfólio e vai proporcionar a segurança necessária para compor opções mais arriscadas e rentáveis no futuro. Ela também é importante no aspecto da disciplina, uma vez que estamos iniciando a nossa jornada como investidor e começando a mudar nossos hábitos financeiros. Por isso a relevância de seguir o planejamento traçado e assim construir esse primeiro investimento.

É importante também ressaltar algumas características que a reserva de emergência deve ter. Primeiramente, seu risco deve ser muito baixo, o menor possível. Lembre-se sempre dos três pilares básicos dos investimentos abordados em uma carta anterior, a ideia aqui não é buscar por rentabilidade, mas sim pela segurança. E por liquidez, que nada mais é que a capacidade de transforma esse ativo em dinheiro.

O objetivo da reserva de emergência é oferecer proteção exatamente contra emergências. Não sabemos quando vamos precisar desse dinheiro, mas ele tem que estar sempre disponível para eventuais situações. Seja a perda de um emprego cujo era a principal fonte de renda, seja um problema de saúde, ou um acidente de carro. Imprevistos acontecem, e exatamente por não conseguir prever quando eles ocorrerão que a reserva de emergência se faz importante.

Explorado esses pontos, quais instrumentos podemos utilizar para criar nossa reserva de emergência? Sugiro títulos pós fixados do Tesouro Direto, comumente chamados de LFTs ou Tesouro SELIC. O Felipe Lemos tratou do funcionamento e das particularidades desse investimento neste artigo, vale a pena conferir.

Existem alguns instrumentos que nos dão exposição à esses títulos, seja por meio do próprio Tesouro Direto ou por opções um pouco mais convenientes. Alguns bancos digitais possuem uma conta corrente remunerada diariamente pela taxa básica de juros, outros bancos já apresentam um CDB de liquidez diária que rende 100% do CDI.

Todas essas são boas opções para sua reserva de emergência, mas a que eu julgo a melhor é através de fundos DI simples com taxa zero de administração. É possível encontrar esses fundos disponíveis em algumas corretoras, e a principal vantagem deles em relação às outras opções apresentadas acima é a certeza de que estes títulos estão atrelados ao Tesouro Direto, cujo risco é soberano, ou seja, não há risco de crédito ou das instituições financeiras envolvido.

Gostaria de fazer um pequeno adendo a toda essa conversa. Diferentemente da reserva de emergência, que será usada apenas para momentos extremamente necessários, podemos usar dos mesmos instrumentos financeiros para formar nosso caixa de oportunidades. Não vamos misturas as coisas aqui, reserva de emergência é uma coisa, caixa de oportunidades é outra. Apesar de estarem alocados nos mesmos instrumentos, este disclaimer se faz necessário.

Em um momento onde o mercado ficar estressado e os preços caírem, podemos usar o dinheiro separado unicamente para este fim e aproveitar algumas oportunidades que o mercado está oferecendo. Por isso a importância da liquidez, ela dá margem para manobra dentro do seu portfólio, permitindo uma alocação dinâmica dos investimentos.

Por fim, quanto preciso para formar minha reserva de emergência? Depende. Temos que levar em consideração algumas coisas, mas principalmente a condição da nossa fonte de renda. Explico. Caso você seja um funcionário público, cujo emprego é estável e a renda é garantida, a sua reserva de emergência pode ser menor, em torno de três meses do seu custo mensal.

Já, se você for um micro empreendedor, cuja renda varia de acordo com seu trabalho, é necessário ter uma reserva de emergência um pouco mais robusta, talvez uns doze meses de seu custo mensal. No meu caso, um mero estudante ainda dependente dos pais, é bom ponderar quais riscos eu corro e qual o montante me deixaria seguro caso algo ocorresse. Pense no seu custo mensal e por quanto tempo conseguiria se manter sem sua principal fonte de renda, até recuperá-la de volta. É assim que decidimos quanto deixar na reserva de emergência.

De forma análoga, o quanto você vai disponibilizar para seu caixa de oportunidades se dará do quão confortável você está com os outros investimentos praticados. Caso esteja em um momento de indecisão ou de imprevisibilidade no mercado, o caixa tende a ficar mais alto. Da mesma forma, caso o cenário esteja mais positivo, o caixa será muito baixo, pois o dinheiro estará alocado nas suas convicções.

Espero ter abordados todos os pontos inerentes a essa primeira caixa. Este é o primeiro passo para sua construção patrimonial, não abra mão dele. O colchão de liquidez que vai te possibilitar dormir tranquilamente, pois sabemos que mudanças são bem cansativas.

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Yves Hermínio
Unifei Finance Itabira

Estudante de Engenharia de Controle e Automação e membro da UNIFEI Finance Itabira. https://medium.com/unifei-finance-itabira