#TheDevConf 2017 — Trilha Acessibilidade: A jornada de um programador Daltônico

Relato da palestra de Airton Zanon na Trilha Acessibilidade do The Developer’s Conference São Paulo.

Talita Pagani
Utilizza
3 min readAug 8, 2017

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Aiton Zanon falando sobre o problema de contraste de um site de compra de ingressos para cinema, com a tela do site projetada atrás dele. Crédito da foto: The Developer’s Conference.

Este post faz parte da série de relatos sobre as palestras da Trilha Acessibilidade do TDC-SP 2017.

Airton Zanon é programador PHP, faz parte da comunidade PHP-SP, também foi coordenador de trilha no TDC e é daltônico, porém, demorou alguns anos para ele descobrir. Tudo começou na infância, onde há um estímulo muito grande com relação às cores na escola. Amigos, familiares e professores acabam sendo muito orientados a cores (“usem agora o lápis verde-água”, “pegue aquele livro rosa para mim?”, etc.) e ele muitas vezes se confundia nessas orientações pois ainda não sabia que tinha uma anomalia com relação a cores. Isto chegou a prejudicar até mesmo as notas de Airton na escola e, depois de anos, ele descobriu que tinha uma anomalia.

Teste de Ishihara: pessoas com daltonismo não enxergam o número 74 na imagem. Pessoas com determinadas anomalias podem enxergar o número 21. E você, que número vê? Fonte: Acessibilidade para Daltônicos na Web

Muitas pessoas não sabem que existem quatro tipos de deficiências ou anomalias de cores:

  • Cores vermelhas: protanomalia e protanotopia;
  • Cores verdes: deuteranomalia e deuteranotopia;
  • Cores azuis: tritanomalia e tritanotopia;
  • Somente tons de cinza: monocromia.

Airton relatou diversos problemas que já enfrentou:

  • Com relação a cursos online, em que usam somente as cores verde ou vermelha para indicar a resposta correta;
  • Em palestras, onde gráficos estatísticos podem apresentar cores muito semelhantes que impedem interpretar os dados e muitas vezes são explicados somente com relação a cores (“a barra azul indica…”);
  • Ainda em palestras, imagens de conteúdo que também possuem baixo contraste;
  • Ao compras ingressos de cinema em que usam as cores verde e vermelho para diferenciar poltronas livres e ocupadas, respectivamente (essas cores acabam sendo idênticas em certos tipos de daltonismo);
  • Semáforos, que mesmo tendo posições fixas que facilitam identificar, poderiam fazer uso de formas também, uma vez que a maioria dos semáforos já usam LEDs;
  • Uso de variações de uma mesma cor (tonalidades), que algumas pessoas recomendam como sendo benéfico para quem tem daltonismo, mas na realidade não é;
  • Uso somente de cores em ferramentas de desenvolvimento, que o impedem como programador de ter certeza que algo está com erro, se é somente um aviso, etc.

Airton citou que as coisas já estão mudando com as diretrizes do W3C e a Convenção Interamericana Para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência.

Alguns exemplos de aplicações amigáveis a pessoas com daltonismo:

  • O Trello, que permite usar texturas nos rótulos coloridos (labels) associados aos cartões. Assim, pode-se ter, por exemplo, rótulo verde com bolinhas, vermelho com listras diagonais, amarelo com listas verticais, entre outros, permitindo que a pessoa com daltonismo possa identificar os rótulos pela textura;
  • iPhone e celulares com Android possuem modo de contraste;
  • E até mesmo jogos como World of Warcraft e League of Legends possuem modo de daltonismo para o jogadores.

Por fim, Airton deixa algumas dicas sobre deixar algo acessível para daltônicos:

  • Sempre usar ícones ou descrição para os controles de formulários (campos requeridos, campos com erro, campos válidos) e alertas. Complemento que é preciso verificar também se os textos, ícones e cores das mensagens possuem um bom contraste com o plano de fundo;
  • Para gráficos, rótulos, entre outros: tudo que usar uma cor sólida para indicar algo, deve apresentar também uma textura. Em gráficos de linha, escolher linhas de estilos diferentes para cada cor, por exemplo: traçada, pontilhada, linha mais fina;
  • Ser cuidado(a) e procurar uma combinação adequada de cores. Utilize sites como o ColorSafe para gerar combinações acessíveis.

Slides da palestra A jornada de um programador Daltônico.

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Talita Pagani
Utilizza

Consultora de Acessibilidade na Utilizza | Neurodivergente | Mestre em Acessibilidade Web | GAIA — Autismo