#TheDevConf 2017 — Trilha Acessibilidade: Acessibilidade como Compliance e a Abordagem Equivocada nas Empresas
Relato da palestra de Clécio Bachini na Trilha Acessibilidade do The Developer’s Conference São Paulo.
Este post faz parte da série de relatos sobre as palestras da Trilha Acessibilidade do TDC-SP 2017.
A palestra do Clécio foi de grande relevância para a trilha por ser uma crítica ácida e necessária sobre como empresas do setor público e privado têm lidado com a questão de acessibilidade digital após a implantação da Lei Brasileira de Inclusão. O assunto da palestra surgiu após uma discussão por e-mail na lista do grupo de Acessibilidade Web do W3C Brasil, onde o Clécio e demais membros, eu inclusive, partilhamos nossas ressalvas sobre como as empresas não estão de fato preocupadas com a acessibilidade, mas sim com o medo de serem processadas.
Clécio compartilhou primeiramente as definições de compliance versus empatia.
Compliance é o conjunto de disciplinas para fazer cumprir as normas legais e regulamentares, as políticas e as diretrizes estabelecidas para o negócio e para as atividades da instituição ou empresa, bem como evitar, detectar e tratar qualquer desvio ou inconformidade que possa ocorrer.
Empatia é a capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de compreender do modo como ela compreende etc.
Ou seja, as empresas estão sendo empáticas quando à acessibilidade ou estão preocupadas estritamente com o compliance? Logo veremos a resposta.
Revisitando a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), o Artigo 63 fala sobre a acessibilidade em sítios web “conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente”. O que seriam práticas e diretrizes adotadas internacionalmente? As mais conhecidas são as Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG), mantidas pelo W3C e existem desde 1999. A WCAG atualmente é o conjunto mais completo de recomendações de acessibilidade de conteúdos para a web.
Porém, o Clécio apontou alguns clientes que têm ignorado a WCAG e estão baseando acessibilidade web somente no eMAG — Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico. Dois erros nessa abordagem:
- O eMAG foi construído para atender a necessidade de sites governais, um contexto de uso muito específico;
- O próprio eMAG indica claramente que ele “não exclui qualquer boa prática de acessibilidade do WCAG”.
Em conversa com o Clécio, o Reinaldo Ferraz, uma das maiores referências em acessibilidade no Brasil, enfatizou que o eMAG é um resumo da WCAG.
Para você que está trabalhando com as equipes de desenvolvimento, você que é gerente de projetos, membro de diretoria ou membro do departamento jurídico: as diretrizes da WCAG são o melhor para compliance de acessibilidade, todos os caminhos apontar para a WCAG.
As empresas ainda entendem como acessibilidade como sendo a famigerada “barra de acessibilidade”, aquela que contém recursos assistivos para aumentar/diminuir fonte e alterar o contraste da página. Embora antigamente esta barra tenha tido uma grande utilidade, hoje é um recurso obsoleto, visto que os navegadores possuem recursos padrões para controlar o tamanho da fonte e há extensões para controlar o contraste, caso seja necessário. Um bom design poderia nem precisar de um modo de contraste.
Há empresas que estão usando a barra de acessibilidade para se resguardar quanto a processos baseados no não cumprimento da LBI. Além disso, algumas pessoas argumentam que estão se baseando em sites governamentais que usam o recurso, previsto em versões antigas do eMAG mas que já não é mais uma recomendação.
Ou seja, empresas estão buscando primeiramente uma solução com abordagem jurídica, que seja uma demonstração de boa vontade com a “causa”. Não há uma consciência real em projetar algo inclusivo e as empresas não entendem o que é um site acessível. Em minha experiência pessoal como consultora, pude ter a mesma percepção que o Clécio.
A barra de acessibilidade não garante a acessibilidade porque um projeto de acessibilidade envolve arquitetura de informação, design de interação e experiência do usuário. Envolve empatia, entender as pessoas e suas necessidades. E vou além, complementando a fala do Clécio, que envolve funcionalidades bem projetadas, textos bem escritos e de fácil compreensão. É um critério mandatório de qualidade, não é um adendo nem um diferencial.
Embora a LBI preveja punição para empresas que forem denunciadas por não seguir boas práticas de acessibilidade, adotar esta postura punitiva não é o caminho. A acessibilidade deve ser tratada com um processo natural e isso envolve uma mudança de cultura do mercado.
Clécio recomenda os seguintes passos para implementar uma abordagem que considere adequadamente acessibilidade:
- Todos os projetos novos devem seguir as boas práticas de acessibilidade e as Diretrizes da Lei Brasileira de Inclusão;
- Sempre que possível, os projetos legados devem ser adaptados para seguir as boas práticas de acessibilidade e as Diretrizes da Lei Brasileira de Inclusão;
- Caso não seja possível uma abordagem de adaptação, os projetos legados devem ter suas interfaces substituídas por novas soluções que sigam as boas práticas de acessibilidade e as Diretrizes da Lei Brasileira de Inclusão;
- Por último e o mais importante: ter empatia pelas pessoas, um valor que todos da equipe têm que ter!
Não adianta cumprir as leis e as normas sem acolher as pessoas.
— Clécio Bachini
E tenhamos dito! :)
Slides da palestra Acessibilidade como Compliance e a Abordagem Equivocada nas Empresas.
A Utilizza é uma empresa de design de interação e experiência do usuário focada em acessibilidade digital. Realiza avaliações de acessibilidade de websites, testes manuais exploratórios em aplicações nativas e web e treinamento de acessibilidade para equipes de desenvolvimento e testes/quality assurance (QA). Entre em contato através dos canais no Facebook, Twitter ou LinkedIn.