#TheDevConf 2017 — Trilha Acessibilidade: Estamos projetando para todas as pessoas?

Relato da palestra de Beatriz Lonski na Trilha Acessibilidade do The Developer’s Conference São Paulo.

Talita Pagani
Utilizza
3 min readAug 8, 2017

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Beatriz no palco em frente à projeção com o título da palestra dela. Créditos da foto: Arquivo Pessoal da Beatriz.

Este post faz parte da série de relatos sobre as palestras da Trilha Acessibilidade do TDC-SP 2017.

A palestra seguinte foi realizada pela Beatriz Lonskis, UX Designer na Valor Econômico, e ocorreu no palco Stadium, sendo transmitida ao vivo e disponibilizada online. Ela já havia apresentado essa palestra inspiradora na UX Conf BR e pude acompanhar o desenvolvimento do conteúdo e aprender mais sobre acessibilidade com o material que ela preparou.

A Beatriz é surda e fez sua palestra em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) contando com o apoio das intérpretes para ser a “voz” dela durante a palestra.

A palestra da Beatriz trouxe informações que derrubam mitos sobre acessibilidade e o que é um projeto inclusivo. Um dos fatores que pouco consideramos é que a população mundial está envelhecendo cada vez mais, ou seja, há uma tendência de aumento da proporção de pessoas idosas. E o que isso tem a ver com acessibilidade? Tendemos a associar deficiência como condições permanentes desde o nascimento de uma pessoa, porém, determinadas deficiências podem aparecer com a idade avançada.

A Beatriz mostrou em um gráfico que 80% das pessoas com 80 anos ou mais possuem pelo menos uma deficiência, seja ela visual, auditiva, motora ou cognitiva. Ou seja, todos nós potencialmente poderemos apresentar alguma deficiência definitiva ou temporária com o tempo. A acessibilidade é uma questão social que afeta a todos.

Ela também comentou sobre o modelo médico da deficiência, onde a pessoa muitas vezes é vista como incapaz e como o problema a ser “consertado”. Particularmente falando, durante minha pesquisa de mestrado entrevistando familiares de pessoas com autismo, pude ouvir relatos destes familiares sobre essa visão que uma parcela da sociedade e da própria comunidade médica tem sobre a pessoa com deficiência. O alerta é que precisamos mudar para um modelo social de deficiência, onde a sociedade pense “vamos remover as barreiras de atitude e de ambiente e fornecer soluções múltiplas para você e para todos”.

Algo que precisamos entender também é que as deficiências podem ser permanentes, temporárias ou situacionais. Por exemplo, podemos ter o caso de uma pessoa que não possui um dos braços (condição definitiva), uma pessoa com braço engessado (condição temporária) ou uma pessoa segurando um bebê recém-nascido (condição situacional). Nestes três casos, as pessoas estariam impossibilitadas de realizar algo que dependesse do uso dos dois braços. Quando falamos de inclusão e design, devemos considerar diferentes situações, pois a acessibilidade não é somente com relação à deficiência.

E quando se fala em design inclusivo, temos inúmeros desafios e oportunidades nas áreas de comércio eletrônico, internet das coisas, healthcare, fintech, realidade aumentada e realidade virtual. O que essas áreas estão fazendo para serem inclusivas? A inovação que elas proporcionam consideram pessoas com múltiplas características e habilidades? São questionamentos a fazer para sair da zona de conforto.

O desafio do design é incluir, não excluir sem querer.

— do livro “Design for Inclusivity”

Como todas as pessoas envolvidas em projetos digitais podem contribuir com a acessibilidade:

  • Estudo e consulta das guidelines de acessibilidade;
  • Integrar a acessibilidade no início do projeto;
  • Utilização de personas inclusivas;
  • Pesquisa com usuários de diversas necessidades;
  • Testes de usabilidade com maior gama de usuários e com utilização de tecnologias assistivas como leitores de tela, por exemplo.

Fazer produtos acessíveis não é só atender aos padrões de acessibilidade, mas tornar as experiências verdadeiramente usáveis e abertas para todos.

— Beatriz Lonski

Foi uma palestra realmente inspiradora que trouxe vários questionamentos a considerar para as pessoas que trabalham com design digital.

Assista ao vídeo da palestra da Beatriz:

Slides da palestra Estamos projetando para todas as pessoas?

A Utilizza é uma empresa de design de interação e experiência do usuário focada em acessibilidade digital. Realiza avaliações de acessibilidade de websites, testes manuais exploratórios em aplicações nativas e web e treinamento de acessibilidade para equipes de desenvolvimento e testes/quality assurance (QA). Entre em contato através dos canais no Facebook, Twitter ou LinkedIn.

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Talita Pagani
Utilizza

Consultora de Acessibilidade na Utilizza | Neurodivergente | Mestre em Acessibilidade Web | GAIA — Autismo