Resumão UX Conf 2019 - tudo o que rolou na sexta-feira 17 de maio

Marília Procópio
UX Globosat
Published in
11 min readMay 28, 2019

Desafios éticos na pesquisa com usuários: qual a conduta do design?

→ Vitória Silveira, 10 min | link da apresentação
Vitória começou posicionando UX designers como vigilantes. Vigilância se define pela geração de dados ou um saber sobre os vigiados. Hoje, a tendência é que as pessoas querem proteger seus dados. E aí? Qual nosso papel ético? Vitória destaca três cuidados:

  1. Nos perguntarmos 'E se fossemos cobrados $$ por cada informação que pedimos'?
  2. Informar como e para quê a informação será utilizada pelo produto
  3. Dar opção para os usuários editarem ou apagarem os dados a qualquer momento

Links legais
Privacy By Design: 7 Princípios fundamentais para garantir práticas justas. Criado pela iab.org.

The Tarot Cards of Tech: uma forma divertida de provocar reflexão sobre o impacto do seu produto na sociedade. Criado pela Artefact.

If Data Permission Catalogue: biblioteca de padrões de design para compartilhamento de informações.

Captura de tela do site The Tarot Cards of Tech. O card em destaque no centro contem as perguntas "Who or what disappears if your product is successful?", "Who loses their job?", "What other products or services are replaced?" e "What industries, institutions or policies would be affected?"

O Design centrado na experiência e desenvolvimento da mulher-atleta no futebol americano

→ Luana Marques, 10 min | link da apresentação
Luana contou como foi projetar a experiência para suas colegas do time feminino de futebol americano.

Projetando questionários inclusivos e diversos para pesquisas online

→ Thaly Sanches, 10 min | link da apresentação
Thaly falou sobre linguagem neutra inclusiva. Pontuou que 'trans' não é gênero, que palavras com finais com 'x' ou '@' não são lidas bem por leitores de tela e sugeriu a substituição por palavras neutras ou adaptação de finais em 'e'. Ou seja, "Fique à vontade" ou "Bem-vinde" ao invés de "Bem-vindx" ou "Bem-vind@". E vale lembrar que disléxicos costumam ler 'o' no lugar de 'e', então é importante escolher uma tipografia em que o 'e' não seja tão fechado.

Aconselhou também a mostrar a quantidade de passos e o progresso, ponto importante para todas as pessoas, e especialmente para aquelas com quadro de depressão.

O racismo institucional na construção de chatbots

→ Kenya Ortiz, 10 min | link da apresentação
Kenya falou sobre como a criação de personas e tom de voz de chatbots perpetuam o racismo institucional, estrutural e os vieses inconscientes da nossa sociedade. Por que assistentes virtuais costumam ser mulheres brancas, recatadas e do lar?

O que veio depois do Design Critique? Design Jam e como projetamos atingindo o potencial máximo do time

→ Leandro Novaes, 10 min | link da apresentação
Leandro explicou como funciona o Design Critique no Quinto Andar e posicionou o Design Jam como uma forma de lidar com problemas mais complexos, em um time em crescimento e estruturado em squads.

O Design Jam leva entre 2h e 3h, pode ser voltado tanto para definição (determinação do recorte de um problema) quanto para ideação.

Me pareceu beber bastante do Design Sprint, mas sem a dedicação de dias integrais, que não se adaptava à realidade da empresa.

Como pensar um aplicativo de relacionamento em um país islâmico? As barreiras culturais do UX

→ Fernanda Magalhães, 10 min | link da apresentação
Fernanda contou um pouco da cultura do Egito, como eles lidam com relacionamentos amorosos e sobre a realidade dos casamentos que movimentam 40 bilhões por ano.

Como desafios, ela citou:

  1. Envolver mais as mulheres na decisão do casamento, visto que ainda existem muitos casamentos arranjados.
  2. A resistência à tecnologia e ao fornecimento de dados
  3. Diferença entre preferências masculinas (quantidade de matches) e femininas (qualidade dos matches)

No final, eles criaram um aplicativo de relacionamento em que acontece apenas 1 match ou conversa por vez. Em vez de pedir fotos para o cadastro, eles fizeram um jogo de "Would you rather" perguntando sobre preferências pessoais como "praia ou montanha". Essas informações não eram visíveis nos perfis, evitando que os usuários se sentissem autoconscientes e funcionando para a sugestão de pareamento de casais.

Transformação digital no setor público para virar o jogo

→ Ana Maria Nora Tannus, 10 min | link da apresentação
Ana usou o Mendonça e o Lineu de A Grande Família para frisar que há muito mais Lineus (pessoas dedicadas e que querem transformar o setor) do que Mendonças (pessoas acomodadas) no serviço público.

Ela elencou características da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e de empresas privadas, pontuando semelhanças e diferenças. Sobre as diferenças, ela atuou trazendo soluções do dia-a-dia do nosso mercado.

  1. Diferença: mudanças de gestão são muito mais impactantes
  • Encontros abertos (inclusive à comunidade) da SME para que todos possam compartilhar conhecimento
  • Modelo de documentação curta, rápida e constante (uma folha A4 / projeto)

2. Diferença: transparência no dia-a-dia é maior

  • Mapa de DES-empatia ❤
Mapa de DES-empatia usado para melhorias internas na Secretaria Municipal de Educação de SP. Áreas do mapa: "Se fosse para destruir algo no SGP seria:", "O que eu detesto no SGP", "Como eu uso o SGOp (truques)", "Conselhos para quem nunca usou o SGP", "Fraquezas", "Ganhos"

Como a lei de proteção de dados pode afetar o seu produto digital e prepare-se para interagir de forma inteligente (e não invasiva) com os seus usuários

→ Bianca Guerra, 10 min | link da apresentação
Bianca comentou sobre a Lei Geral de Proteção de Dados, sancionada em agosto de 2018 e que entra em vigor em 2020.

Explicou sobre os diferentes tipos de dados pessoais: identificáveis (nomes, números, códigos, endereços), sensíveis (etnia, gênero, convicção religiosa, opinião pública, dado genético entre outros) e anônimos(dados que não podem ser traçados de volta a um usuário).

Dicas

  1. Melhorar os primeiros passos (onboarding)
  2. Ser transparente ao captar dados e fazê-lo em contexto
  3. Cadastros mais enxutos, apenas com informações realmente necessárias (vale a mesma pergunta da Vitória "Se você fosse cobrado por cada dado que pede, deixaria de pedir algum?")
  4. Evitar opt-ins já preenchidos
  5. Pensar em fluxos de descadastramento. Afinal, a informação pertence ao usuário e não à Empresa. O aceite dele não deve ser vitalício.

Ética na pesquisa de UX design: Quando os achados comprometem os usuários

→ Rafaela de Souza, 10 min | link da apresentação
Rafaela abriu a palestra contando um caso. Uma pessoa queria achar o dono de um celular perdido. Usando o GPS do celular, foi identificado o endereço para devolução. Só que o dono do celular, um padre, tinha passado a noite na casa de uma viúva da sua paróquia. A quem pertence os dados de um celular perdido?

Rafaela seguiu contando situações reais que vivenciou na sua carreira e as decisões difíceis que teve que tomar. Fraudes, famílias agressoras, estímulo a rotas de vendas impossíveis de serem cumpridas. Para cada situação, uma solução que atendesse ao seu código de ética pessoal: denúncia anônima, respeitar NDA, reposicionamento da descoberta.

Pontuou o papel do pesquisador como filtro para não propagar achados que gerem ou estimulem injustiças.

Constrangimento positivo: uma reflexão sobre hábitos e acessibilidade

→ Ana Cuentro, 20 min | link da apresentação
Ana se apresentou como designer surda oralizada, advogada de acessibilidade. Deu um panorama sobre deficiência (permanente, temporária ou situacional), entrando mais na realidade dos surdos (80% dependem da língua de sinais, libras é uma língua brasileira reconhecida desde 2002).

Nos contou sobre a sua vivência e as dificuldades que tem que contornar.

  1. Filmes nacionais e animações dubladas
    Contornos: audiodescrições, libras e legendas descritivas
  2. Ligações
    Contorno: Pedius, um serviço telefônico para pessoas surdas
  3. Reuniões remotas
    Contorno: intérprete junto ou aplicativo de transcrição instatânea

Ana convocou a comunidade a pensar na experiência de todos, incluindo pessoas com deficiência. Por que podcasts e canais de youtube de UX não tem legenda/transcrição ou só tem em inglês? Por que eventos não contratam interpretes ou adiam para futuras edições essa 'melhoria'?

Design ágil na prática: construindo um marketplace de educação de sucesso sem as práticas convencionais de UX

→ Alvaro Rosa, 20 min | não tem link pra essa :(
Alvaro comentou sobre adquirir informações sobre o usuário atuando junto com outras áreas da empresa: marketing, relacionamento e BI. Comentou sobre um caso em que trabalhou com a equipe de marketing em uma campanha para que usuários mandassem vídeos sobre suas experiências de uso.

Dicas

  1. Don't go for "wow!", go for "of course": fazer o básico primeiro, com entregas rápidas e envolvendo outras áreas
  2. Escuta ativa: ouvir o usuário por quaisquer canais (e equipes) possíveis
  3. Evangelizar = ajudar os outros a serem designers, e entender a realidade dos outros também

Texturas: como o Bradesco enxerga UX

→ Marcelo Salgado e Patrícia Sarro, 20 min | link para apresentação
Marcelo e Patrícia usaram 'textura' para falar daqueles pedidos às vezes abstratos tipo "Queria algo com mais textura", "Dá pra ficar mais wow", "E se fizéssemos algo mais dinâmico?".

Foram na etimologia pra buscar o "tecer experiências" e mostrar que à sua maneira, as pessoas tem intenção no que dizem. Falaram sobre a organização interna e a forma de trabalho no Bradesco.

Panorama UX 2019: um retrato de quem trabalha com UX no Brasil

→ Carolina Leslie, 20 min | link para apresentação
Carolina trouxe o panorama do nosso mercado, dessa vez com o foco na diversidade. Faça um favor a você mesmo e confira o trabalho dela na íntegra. Não dá pra resumir essa.

Existe pesquisa sem relação de poder?

→ Cláudia Dipolitto de Oliveira Sciré, 20 min | link para apresentação
Não, não existe. Cláudia definiu poder como a capacidade de influenciar o comportamento de outra pessoa. Em um nível simbólico, como produção de sentido ou construção da realidade. Ela relacionou isso ao trabalho de pesquisa, pois observamos uma realidade e criamos classificações, categorias e significados. Ela passou pela história da pesquisa com foco na antropologia (ela é socióloga) e trouxe o Foucault para falar que saber = poder e que poder não é bom nem mau, apenas é.

3 premissas do trabalho de campo:

  1. Distanciamento. Para perdermos a noção de nós mesmos e nos camuflarmos na outra realidade.
  2. Tornar estranho aquilo que aos entrevistados é familiar. Ou seja, se posicionar como leigo com interesse em aprender. Perguntar sem medo de parecer ignorante. Nesse contexto ignorância pode ser elogio "Ah é?" "Me conta mais" "Não sabia, pode me explicar?"
  3. Abandonar a própria lógica e tentar usar a do outro. Trouxe as definições de empatia (usa lógica própria pra julgar) x alteridade (esquece própria lógica e tenta explicar a lógica do outro)

No final, Cláudia destacou nossa responsabilidade de mostrar aos participantes de pesquisa os saberes construídos a partir da interação com eles, dando chance de eles discordarem da verdade que criamos.

Pelo fim da liderança acidental em design

→ Letícia Pires, 20 min | link para apresentação
Letícia falou sobre sua experiência pessoal com liderança e trouxe 7 ensinamentos.

  1. Liderança ≠ Gestão. Liderança é um comportamento que não depende de função. Gestores precisam ser conscientes da própria liderança.
  2. Definir ≠ facilitar definição. Não é porque assumiu um cargo de liderança que você é obrigado a tomar todas as decisões. O time pode, deve (e gosta) de ajudar. Comentou inclusive sobre a inclusão do time nos processos seletivos da empresa.
  3. Você está bem no meio, se tornando uma ponte da sua área e time com os maiores stakeholders da empresa. Parte do trabalho é fazer as informações circularem de todos os lados.
  4. Você nunca está pronto. Gestores também erram e são pessoas normais.
  5. Você continua designer. Mesmo que as tarefas mudem, você pode usar as mesmas metodologias.
  6. Conversar com as pessoas é fundamental. A liderança precisa ser próxima do time e trocar no mercado sobre como é desempenhar esse papel
  7. Maturidade do design. Metodologias de design podem ser usadas para construir as melhores ferramentas e processos de gestão de pessoas. Ou seja, identificar o que não funciona >> pensar em alternativas >> comunicar iniciativas >> testar >> entender como as iniciativas foram percebidas.

Link legal
A Letícia postou sobre o tema dela aqui no Medium!

Escrita para interface: UX writing e o impacto do conteúdo para os negócios

→ Cristina Luckner, 20 min | link para apresentação
Cristina falou sobre a importância do conteúdo para a experiência do usuário. Sobre a emergência do UX writing / Content Strategist / UX copywriter / Content designer e a ironia de não se chegar a um nome da posição. De forma divertida, nos contou como é trabalhar com isso hoje e as dificuldades que tem.

Algumas dicas práticas:

  1. Considerar o conteúdo desde o início (nada de chegar para a pessoa de conteúdo lá no final e pedir para escrever o suficiente para preencher os parágrafos do layout)
  2. Sentimento conta
  3. Diminua o esforço cognitivo: hierarquia da informação, palavras simples, evitar jargões, usar humor com moderação
  4. Consciência é importante. Criar e usar o manual de tom de voz. Fazer auditoria para medir a saúde do conteúdo e realimentar esse manual.
  5. Testar o conteúdo. Reaction cards, Cloze test, colecionar palavras dos usuários...
Frase de um slide da apresentação da Cristina: "O conteúdo é a experiência do usuário" por Ginny Redish, autora do livro "Letting go of the words"

Otras realidades posibles: metodologías de diseño feministas para la generación de experiencias digitales

→ Beatriz Leal Ramos, 20 min | link para apresentação
Beatriz falou sobre feminismo e como ele é entendido na sociedade. O tratou como uma abordagem crítica e um compromisso com a ação. Mostrou a contribuição dele para outras disciplinas e como ele se entrelaçou com o design no passado (Donna Haraway, Judy Attfield, Cheryl Buckley, Pat Kirkham). Falou sobre o trabalho da designer Shaowen Bardzell que promove a interseção do feminismo com o design de interação e focou bastante no papel do design como ferramenta política.

Link interessante: Feminist HCI: taking stock and outlining an agenda for design, por Shaowen Bardzell

Transcreación | Cuando el texto encuentra el contexto

→ Daniele Franco, 20 min | link para apresentação
Daniele é italiano, mora na Argentina e deu a palestra em português, o que jogou a favor do tema e de quebra conquistou a simpatia imediata da galera. Seu ponto era que traduzir não é o suficiente, ainda mais para um produto como o Despegar que vende pacotes de viagem. É preciso entender os detalhes culturais de cada mercado para criar conteúdos autênticos e de maior relevância para o contexto do usuário.

Daniele mostrou exemplos práticos de como mudaram textos que vendiam pacotes de viagem de acordo com o imaginário coletivo de cada localidade. Falou sobre o trabalho de pesquisa para identificar essas especificidades e como foi defender a importância desse trabalho internamente na empresa.

Exemplo prático da palestra do Daniele: o mesmo artigo vendendo Buenos Aires em espanhol diz "También conocida como la ciudad de la furia", já em português brasileiro "Conhecida também como a Paris da América Latina"

Link legal: Medium da equipe de UX do Despegar.com

Empatia seletiva e invisibilidade conveniente

→ Clécio Bachini, 20 min | link para apresentação
Clécio criticou os limites da empatia usando Guimarães Rosa e mensagens escondidas em música de rodapé. ❤

Falou sobre projetar para quem quer comprar, não para quem queremos vender. Usou exemplo de um aplicativo para surdos que é premiado, mas não é utilizado pelo público-alvo. Falou sobre discursos vazios e a questão de aliviar consciência X de fato resolver problemas.

"Empatia não é se colocar no lugar do outro. É ser você com respeito pelo outro."

Design at scale - lições aprendidas ao conectar design em uma empresa global

→ Érico Fileno, 20 min | link para apresentação
Érico contou sua experiência saindo do mercado de consultoria para se tornar colaborador de uma grande empresa (Visa).

Ele usou os 6 primeiros meses para mapear o terreno e as relações dentro da empresa para então criar o núcleo de inovação de forma mais assertiva.
Os 5 maiores aprendizados dele foram:

  1. Priorizar projetos
  2. Definir escopos
  3. Engajar e selecionar times
  4. Empresas não conhecem seus clientes
  5. Design Sprint não vai salvar a sua empresa

Processo de diseño y co-creación de la primera comunidad de mujeres UX en Latinoamérica

→ Mariana Valenzuela e Carolina Sepúlveda, 20 min | link para apresentação
Mariana e Carolina contaram sobre como foi criar a iniciativa Más Mujeres, que visa promover encontros e compartilhamento entre mulheres que trabalham com UX. O mercado ainda é majoritariamente masculino e, segundo elas, se mantivermos o ritmo atual de avanços só alcançaríamos a igualdade em 2219.

Conheça o site do projeto: Mas Mujeres en UX

Veja o que rolou no Sábado, 18 de Maio! ⬇️

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