Como começar a levar o design como cultura para dentro das empresas?

Alex Soares
Hub de Design TOTVS
5 min readJan 18, 2021

No mercado da tecnologia a grande maioria das pessoas que estão nele acabam exercendo suas profissões por causa de alguma reflexão pessoal que mostrou sua vocação, seja um “hard skill” que permitiu a pessoa notar que tinha uma certa facilidade com uma determinada atividade ou até mesmo paixão por uma disciplina onde ela enxergasse um propósito.

Quando entramos no universo do design isso não é diferente, já que é muito simples para um designer dizer uma lista de motivos que o fez ingressar na profissão, talvez as razões mais comuns seja o amor pela criatividade e a oportunidade de explorar o novo ou o simples fato de ajudar as pessoas a terem dias melhores tendo interações com produtos ou serviços.

Pensando nisso, sabemos também que a inovação consiste de uma junção de três pilares principais: Necessidade, Possibilidade e Viabilidade.

Para conseguirmos explorar esses três pilares, nós temos que trazer três abordagens básicas para nos ajudar: Design, Tecnologia e Negócio.

Os três pilares e abordagens citadas são muito importantes para trazer um entregável que realmente faça a diferença para quem vai interagir com nossas soluções, porém tudo isso só faz sentido se entendermos que a motivação deve nascer a partir de uma necessidade, ou seja, é muito interessante que o design esteja presente desde o início.

Como eu disse antes, todo esse conceito é uma junção dos pilares e não coisas separadas, então para que esse ecossistema de inovação funcione de uma melhor forma, não vale a pena os designers tratarem de design sozinhos, pessoas desenvolvedoras tratarem sozinhas de tecnologia e os product owners tratarem sozinhos de negócios. Todas essas pessoas devem estar na mesma página, ter um olhar holístico de toda essa jornada e exercitar a empatia durante toda concepção de um entregável que seja relevante.

Por uma série de fatores, durante anos o design foi e ainda é interligado com o conceito mais estético dos entregáveis, não é difícil a gente ver por aí alguém fazendo algum tipo de comentário como “Nossa você viu aquele novo carro que saiu? Ele tem um design muito bonito!”. Isso não está errado, afinal de contas a percepção estética faz sim parte de uma experiência, como o próprio Donald Norman diz: A experiência está em tudo!

Donald Norman falando sobre o termo UX

Mas como os designers ou para quem tem mais familiaridade com suas abordagens, podem mostrar que o design pode ir bem além da estética e ajudar nos três pilares mencionados anteriormente, principalmente quando falamos em necessidade?

Foi exatamente este desafio que me motivou a escrever esse artigo!

É um cenário muito comum você ver designers que são responsáveis por serem os divulgadores da cultura de design em suas empresas, quando saímos das capitais e olhamos para o interior dos estados do nosso país, é mais comum ainda.

Nesse sentido pode acontecer de tudo, o profissional esperar ser acionado por alguém para começar a mostrar o seu trabalho, também temos quem faça várias palestras ou bate-papos para mostrar o valor do design ou até mesmo os que desistem de tudo e passam a só fazer os entregáveis visuais sem ter engajado com o descobrimento do problema e a ideação de uma possível solução.

Eu sou um designer que veio da área gráfica e é muito comum você começar com um portfólio fictício para iniciar no mercado, você experimenta vários caminhos antes com peças que não vão ser veiculadas para que depois tenha algo para mostrar para os recrutadores, mostrando o valor do que você sabe fazer.

Por que não fazer o mesmo nas outras áreas que contempla o design?

Como também sou um designer que não atua na capital, a maturidade sobre essa cultura aqui é menor e eu passei e ainda passo por alguns daqueles cenários que relatei antes, porém esse “insight” do início do design gráfico me fez refletir que não só nós temos que experimentar o design antes de colocar a mão na massa, mas todas as pessoas envolvidas também, tanto para elas mostrarem o que sabem fazer quanto elas perceberem o que sabem fazer também.

Foi então que comecei a trajetória de reunir 5 tribos diferentes para fazer 5 workshops de Design Thinking com uma média de 24 participantes em cada um deles, sendo tudo feito remotamente por conta da pandemia.

Nestes workshops tinham vários tipos de perfis, como pessoas desenvolvedoras, product owners, people leaders, agile masters e analistas de QA, porém apenas eu de designer, isso me trouxe o desafio maior de falar sobre e facilitar dinâmicas de design para quem não era.

Nos dias das atividades, foi permitido que os participantes escolhessem e descobrissem os desafios que queriam trabalhar, isso deixou o ambiente mais confortável e convidativo para eles experimentarem o design, muitos pela primeira vez.

O propósito deste artigo não é falar sobre as ferramentas utilizadas durante estes dias de workshop, já que não é nada tão diferente do que o que o mercado já utiliza e vocês podem até ler um pouco sobre isso no artigo que escrevi sobre o primeiro encontro do Integra Design 2020.

A ideia é mostrar as motivações dessa ação, sendo que as falas das pessoas após workshop ajudaram a entender se fazia sentido:

“Nossa, eu não sabia que o design envolvia tudo isso!”

“Eu achava que era algo muito mais complexo!”

“Eu quero levar isso para o meu dia a dia!”

“Por onde eu começo a estudar mais sobre design?”

E mais do que falas, gerou também ações nos dias posteriores, como projetos de pesquisa e ideação com pessoas que nunca tinham interagido com o design antes dos workshops.

Claro que workshops de experimentação não vão solucionar todas as questões culturais de design dentro das organizações, mas se tiver uma estrutura que contemple reunir as pessoas por um determinado período para que elas conheçam as abordagens e coloquem a mão na massa, essas dinâmicas podem ser um boa alternativa, que pelo menos para mim, está funcionando bastante.

A maturidade em design não acontece sozinha, ela tem que ter autores que buscam fazer que ela aconteça e mais do que falar sobre todos os benefícios que o design pode proporcionar, talvez seja muito melhor apresentar isso para as pessoas, deixe que elas experimentem os benefícios que você enxerga e depois recolha as impressões delas.

Se a empatia é um dos pilares mais fortes da nossa profissão, antes de cobrar a percepção de valores do design, reflita e entenda se as pessoas sabem do que você está falando.

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