Meu primeiro emprego em UX — a saga

Em Janeiro, ouvi pela primeira vez o termo “UX”. Em Agosto, consegui meu primeiro emprego como UX Designer.

Moreno Lennertz
UX Collective 🇧🇷

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Fotografia: Johannes Plenio

A sensação de que algo me faltava

Início de Janeiro de 2018. Estava com a minha esposa em um boteco perto de casa, quando ela disse: “Você tem que fazer UX Design. É a sua cara.”

Respondi, parafraseando Zeca Pagodinho: “Nunca vi, nem comi. E nem ouço falar.”

Eu, prestes a completar 34 anos, estava lamentando sobre como aproveitava mal meu potencial e sentia que podia ser mais útil pro mundo. Mesmo depois de empreender duas vezes com ótimos resultados e com muitas coisas já conquistadas na vida, apesar da idade, ainda não estava feliz e sabia que faltava algo. E fui comentando sobre todos os pontos da minha carreira que me fizeram mais feliz.

Minha esposa percebeu o que eu nunca havia percebido: eu era feliz quando fazia a diferença na vida das pessoas.

Quando tive um restaurante, os dois pontos mais marcantes foram quando ofereci um cursinho de hambúrguer para crianças e quando converti uma reclamação de 1 estrela para 5 estrelas de uma cliente revoltada no facebook.

E, assim, o papo no boteco foi se esticando e quando voltamos pra casa, comecei a pesquisar sobre UX: foi amor à primeira vista.

Comecei a estudar e fiz meu primeiro post sobre isso aqui no Medium.

Defini o meu caminho:

Estudar > Aprender > Montar o portfolio > Pedir opiniões > Melhorar portfolio > Procurar emprego

Colocando a cara à tapa

Com o portfolio montado, corri atrás de feedbacks e recebi dicas e mentorias valiosas, principalmente do Fabricio Teixeira e do Fabiano Souza. E esse momento é uma grande chance para avaliar, não só o seu trabalho, mas também a sua postura como designer e profissional. Quando as críticas chegam, você abraça ou se esquiva?

No meu caso, depois de ouvir e corrigir vários pontos, considerei que meu portfolio estava razoável para apresentar nas aplicações de vagas.

Comecei a procurar ativamente em todos os sites de emprego. Dos mais famosos, como o LinkedIn, Glassdoor, AngelList e Indeed, até os menores, como TopTal, Revelo, Impulso, Jobbatical, Brazil Startup Jobs, Landing Jobs, UX Switch, EU-Startups e Expatica. Também entrei em dois grandes grupos de whastapp de vagas em UX.

Como não sou estudante, não poderia ocupar vaga de estágio. Então, foquei nas vagas de junior e apliquei para empresas de Amsterdam, Nova Iorque, Vancouver e poucas no Rio de Janeiro, pois as vagas de UX aqui são escassas.

A cada 20 aplicações, 10 empresas me respondiam e somente 1 me chamava para conversar.

O primeiro não

A primeira vez que senti o gostinho do mercado foi quando uma gigante brasileira de cloud commerce me chamou para uma entrevista para a vaga de Product Designer. Não passei, mas recebi um feedback incrível dos designers e aprendi muito no processo seletivo.

A busca continua.

A segunda vez que bati na trave foi para uma vaga de UX Designer em uma pequena startup em Amsterdam. Também não consegui a vaga. Mas, novamente, aprendi muito e fiz coisas que nem eu sabia que era capaz. Conversei em inglês com a recruta francesa, conversei em inglês com o CEO holandês e, para um pequeno teste, fiz algumas ilustrações no Adobe XD, pois eu já tinha esquecido tudo o que sabia de Illustrator.

Ainda em Julho, a terceira chance apareceu. Uma startup especializada em formação de times me achou através da plataforma Revelo e eles me queriam para uma vaga de UX Designer em São Paulo na maior varejista de moda do Brasil. Fiquei radiante, pois meu perfil foi aprovado pela startup e pelo cliente deles, a varejista. O pessoal da startup analisou o meu perfil, conversou comigo por telefone e no dia seguinte recebi a proposta oficial por e-mail.

Era fantástico! Salário de UX pleno com um monte de benefícios.

Recusei.

No mesmo dia em que recebi a proposta oficial por e-mail, meu pai começava a passar por um complicado problema de saúde. Expliquei a situação e me surpreendi ao ouvir que eles apoiavam a minha decisão de ficar no Rio para cuidar da família e que estavam dispostos a abrir uma nova vaga caso eu topasse ir pra São Paulo futuramente.

Meu coração ficou apertado.

Perdi o meu primeiro emprego em UX, mas não me arrependi da decisão.
Eu ainda não sabia, mas a minha presença no Rio foi essencial para ganhar uma grande briga com o plano de saúde do meu pai.

Ousadia, por que não?

Navegando pelo LinkedIn, vi uma postagem do Bernard De Luna, Head de Produtos do site QConcursos, sobre uma vaga de estágio em UX.

Sem pensar duas vezes, enviei uma mensagem para o RH dizendo que eu não poderia ser estagiário, mas que gostaria de ser considerado para uma vaga de junior, quando houvesse. Mandei meu CV, meu portfolio e contei um pouco da minha história no e-mail.

Exatamente no mesmo dia, ao chegar no curso de Design Thinking, vi uma mochila da QConcursos na minha mesa. Perguntei de quem era e, para a minha surpresa, era de um colega de grupo, um dos caras mais legais do curso, que é CFO da QConcursos e eu nem sabia. Comentei sobre a vaga de estágio e ele disse que, apesar de não poder endossar minhas competências profissionais, iria reforçar sobre o meu interesse na vaga.

No dia seguinte, às 15h, meu celular toca e era o Bernard De Luna. Depois de 15 minutos de conversa, ele perguntou quando eu poderia dar um pulo na empresa para conversar um pouco mais:

- Agora!

Saí de casa na mesma hora e, sentado no metrô, dei mais uma olhada no LinkedIn:

Será?

Cheguei lá às 16h e, ao invés de uma entrevista, o que rolou foi foi uma conversa muito legal sobre as nossas experiências, o que tínhamos em comum e os desafios da vaga. Pouco mais de uma hora depois, ouvi que eu não tinha o perfil para a vaga de estágio e que minha experiência também não era de UX Designer junior. O que eu poderia ocupar seria uma vaga de UX Designer pleno, que ele havia acabado de criar, e arrematou:

- Tá dentro.

Confesso. Dei sorte.

Entrei para uma empresa com 10 anos de mercado que está se renovando a cada dia e utilizando uma estrutura de time e de processo totalmente voltada para UX, focada em métricas e resultados.

Agora eu começo uma nova jornada.

E foi assim, com a tal da ousadia e muita vontade de aprender, que cheguei em Agosto, seis meses depois de ouvir o termo "UX" pela primeira vez, e me tornei oficialmente um UX Designer.

O que aprendi no caminho:

  • Escrever no Medium me deu visibilidade: Meus cases de UX publicados renderam muitos feedbacks (em um deles, refiz a interface para atender ao daltonismo), aprendizados e boas conexões no LinkedIn.
  • Procurar vagas fora do Brasil foi ótimo para treinar e nivelar minha experiência e meu inglês.
  • Ser realista ao escolher para qual vaga aplicar certamente me poupou tempo e frustração. Seja um otimista com o pé no chão.
  • Ir aos eventos, pequenos e grandes, me ensinou muito. Se você aprender uma palavra nova ou conhecer alguém, já valeu o investimento.
  • Ao ser recusado para uma vaga, procure saber qual ponto você pode melhorar para ter mais chances no futuro.
  • LinkedIn is the new Facebook.

Quando eu comecei a minha jornada, esse tipo de história me inspirava, me dava energia, esperança e confiança. Espero que a minha história também possa inspirar outras pessoas.

Hoje, 10/08/18, no exato momento em que escrevo esse artigo, meu pai teve alta do hospital e eu sou oficialmente um UX Designer.

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