Guia para eventos acessíveis: como fazer apresentações (parte I)

Dicas úteis para deixar suas palestras mais acessíveis a um público diversificado.

Talita Pagani
Published in
5 min readJan 13, 2017

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Acessibilidade tem sido um tema cada vez mais frequente em em conferências de design e na UXConf de 2016 não foi diferente. Ministrei uma palestra sobre Acessibilidade Web para pessoas com Autismo e venho há alguns anos trabalhando e falando sobre o tema em outras conferências.

Assegurar que um dispositivo ou sistema interativo não apresente obstáculos de utilização a usuários com diferentes características, habilidades ou deficiências é um importante pilar de uma boa experiência de uso. Pensar em acessibilidade e design inclusivo traz questionamentos mais desafiadores para um bom projeto de UX.

Porém, quando nós, designers, falamos em acessibilidade, há a tendência em pensá-la em termos de produtos ou serviços que estão sendo projetados. E o quanto estamos pensando e praticando uma comunicação acessível em nossas palestras? Você já parou para pensar se suas palestras e seus slides são acessíveis a pessoas com deficiência visual, auditiva ou cognitiva?

Possivelmente não e eu também até algum tempo atrás! Mesmo palestrando sobre acessibilidade, eu cometia (e ainda cometo) algumas falhas que podem ser imperceptíveis para grande parte do público mas podem ser excludentes para algumas pessoas da plateia ou para quem irá consumir o conteúdo da palestra depois.

Vou compartilhar algumas dicas para tornar as apresentações mais acessíveis, independente se o seu tema for relacionado à acessibilidade. Neste primeiro artigo, irei abordar aspectos comportamentais como palestrante e, na parte 2, como preparar o conteúdo de forma mais acessível.

Descreva-se

Fale brevemente como você é: estatura, cor e estilo do cabelo, se está usando algum acessório, como é sua roupa, entre outros. Ajude pessoas a montar mentalmente a imagem de quem está no palco.

Esteja visível

Fique sob uma boa luz para que os participantes possam ver o seu rosto quando você fala, o que pode ajudar algumas pessoas a ouvir e entender melhor.

Tenha cuidado também para não se afastar do público para ler o material projetado, especialmente em apresentações onde não há microfone.

Cuidado com o “então, como vocês podem ver aqui…”

Este é um cacoete muito comum em apresentações. Frequentemente, quando apresentamos um gráfico, tabela ou qualquer imagem, assumimos que todos estão vendo e interpretando a informação da mesma forma.

As pessoas com deficiência visual total não estarão vendo o que está sendo mostrado na tela. Pessoas com baixa visão, miopia, estrabismo, glaucoma, entre outras condições visuais, poderão não captar todos os detalhes da informação. Pessoas com condições neurológicas ou de aprendizagem podem ter maior dificuldade em interpretar a informação e coordenar a concentração na visualização dos gráficos com sua fala.

Portanto, explique o que está sendo mostrado no slide e forneça sua interpretação sobre aquela informação para guiar as pessoas a acompanhar o seu raciocínio e “ver” o mesmo que você.

Linguagem

Tenha uma linguagem adequada ao seu público e também considere pessoas que podem ter alguma barreira cognitiva ou de aprendizagem. Para isso, revise sua apresentação e sua fala e pense sobre palavras ou termos complexos que podem ser simplificados sem afetar o sentido da mensagem.

Cuidado com o uso de siglas e acrônimos. Nossa área é imersa em uma “sopa de letrinhas” e às vezes estamos tão habituados a uma determinada sigla que esquecemos que ela pode não ser tão óbvia para a plateia. Quando possível, na primeira vez que mencionar a sigla, explique-a, por exemplo, “isto afeta os KPIs, Key Performance Indicators ou Indicadores-Chave de Desempenho”.

A tentação é forte em usarmos também a forma estrangeira de algumas palavras. Tirando algumas palavras que já estão incorporadas ao nosso vocabulário, procure utilizar, quando possível, os termos correspondentes em português a um conceito que você deseja explicar, caso exista o equivalente.

“Mas toda vez que eu falar UX eu preciso usar o termo experiência do usuário?”

Ok, se você estiver palestrando em uma conferência de UX como a UXConf, podemos assumir que as pessoas entendem o significado do termo. Sempre é preciso ter equilíbrio, para não tornar o conteúdo verboso desnecessariamente.

Caso você fique na dúvida se as pessoas entendem alguma sigla que você está mencionando, pergunte primeiro à plateia.

Ritmo de fala

Ok, este é um item que eu também preciso trabalhar bastante, pois falo muito rápido em apresentações.

É importante falar em um ritmo menos acelerado do que uma conversa, para permitir que as pessoas possam ouvir, processar e entender o que você está falando. Isto também beneficia os intérpretes de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), que conseguirão entender e traduzir melhor a sua fala.

Faça também uma pausa entre os tópicos, assim, você permite que pessoas com alguma deficiência cognitiva tenham tempo para processar sua fala. Considere também esta pausa ao perguntar à plateia se alguém tem alguma dúvida, pois pessoas com deficiência cognitiva podem precisar de um tempo extra para formar seus pensamentos em palavras.

Avise quando apresentar um vídeo

Tanto para a pessoa com deficiência visual quanto para a pessoa que apresenta condições como o Autismo, um vídeo que começa de forma inesperada gera um transtorno por interromper do fluxo normal da apresentação.

Isto pode causar desde uma confusão leve do tipo “espere, o que está acontecendo?” até um estresse e ansiedade desnecessários, especialmente para pessoas com alguma condição que afete cognição ou aprendizagem.

Avise que você irá reproduzir um vídeo, qual o assunto do vídeo e qual o idioma do conteúdo. Caso o vídeo não esteja em português e não possua legendas ou audiodescrição, explique o conteúdo. Quando aplicável, você pode explicar o conteúdo durante a exibição.

Caso o conteúdo multimídia seja um áudio, convém também avisar aos participantes que você estará reproduzindo o áudio.

Mais algumas dicas de postura que ajudam

O artigo do Thiago EsserGuia para palestrar em eventos da sua comunidade profissional” contém algumas dicas relacionadas à linguagem, uso de cores e tamanho das fontes que são muito importantes para que o conteúdo esteja acessível e apreensível às pessoas.

Em breve, teremos a parte 2 do artigo com dicas para a formatação do conteúdo em apresentações acessíveis!

Espero este ano ver mais pessoas falando sobre acessibilidade na UXConf BR 2017, então, se você tem algo bacana a falar sobre o assunto, submeta sua proposta de palestra para a UXConf BR!

Curioso para saber mais dicas como essas? Fique atento, seguindo a UXConf BR no Medium ou acompanhando a UXConf BR via Facebook e Twitter.

Referências

W3C. How to Make Presentations Accessible to All. 2012. https://www.w3.org/WAI/training/accessible

Queen’s University. Accessible PowerPoint Presentations Checklist. http://www.queensu.ca/accessibility/how-info/accessible-documents/accessible-powerpoint-presentations-checklist

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Artigos escritos pelo staff ou colaboradores da UXConf BR, a maior conferência sobre UX Design da comunidade brasileira.

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Written by Talita Pagani

Consultora de Acessibilidade na Utilizza | Neurodivergente | Mestre em Acessibilidade Web | GAIA — Autismo