Guia para submeter palestras em conferências da sua comunidade profissional
Nesse guia, mostro como você pode eliminar obstáculos e submeter apresentações super aderentes a eventos profissionais com foco em práticas de mercado.
No mês que passou, apresentei aquilo que chamei de uma meta-charla (ver slides), isto é, uma palestra sobre o ato de submeter e dar palestras em eventos como a UXConf BR, o Interaction South America ou o The Developers Conference, para citar alguns da nossa região (sul-americana).
Esses três eventos têm em comum o fato de serem eventos voltados para a comunidade de profissionais de tecnologia e design, e também por permitirem a submissão de palestras via call for papers, ou chamado para palestras.
Fiz a apresentação pensando no que aprendi com uma série de submissões minhas nos últimos anos, a maior parte delas sendo aprovada nas conferências (ver algumas).
Compartilho aqui cada um dos pontos que julgo relevantes para você ter a melhor das chances possível. Na mesma linha do que falei no guia sobre como palestrar, não tem nada aqui que poderá fazer mal a alguém, até em eventos de áreas diferentes às citadas antes.
(Antes de começar, um aviso. Todo ano a UXConf BR abre uma chamada para palestras. Atenção para anúncios no nosso site ou redes: www.uxconf.com.br)
Por que se dar o trabalho de submeter?
Porque é bom para a carreira. Simples.
Existem 3 razões principais para seu trabalho não ser aprovado numa chamada para propostas
1. Você pensou em submeter mas faltou coragem para escrever a proposta e/ou apertar o botão “enviar”.
Deixa disso! Se esse é o seu caso, eu tenho um palpite: essa é a famosa síndrome do impostor em ação. Você precisa entender que não se trata de mostrar a mais nova e original teoria sobre [qualquer coisa], e sim contar histórias de aprendizados seus no dia-a-dia de trabalho, projetos e iniciativas na área.
2. A descrição da ideia não ficou clara.
Aqui trata-se de entender que, muito mais do que expor suas dúvidas sobre o sentido da vida, o importante é: descrever alguma dificuldade que porventura tenha tido e, sobretudo, a forma como você se desenrolou diante dela. Esta última — qual sua ideia ou prática de melhoria para o mundo — é o que justifica a existência da palestra.
Papo reto: não viaje demais.
3. A sua ideia não chamou a atenção da banca avaliadora.
Acontece. Mas tem jeito, é só tentar de novo na próxima oportunidade :) E cuidar de mais uma série de detalhes que eu mostro na próxima seção do texto.
Como superar as 3 razões acima e enviar uma proposta matadora
Uma boa proposta é feita de algumas camadas.
Primeira camada: Estrutura. Uma boa proposta tem a) um início, que apresenta um problema ou uma situação tal e qual ela é (ou era até um tempo atrás), b) um meio, que representa a forma como você visualiza ou constrói um mundo melhor e c) um fim, que conclui o texto dizendo como você vai mostrar tudo isso e, se houver, algo que lhe autoriza a falar com propriedade sobre o assunto.
Segunda camada: Clareza. É uma questão tanto de usar um português claro quanto saber ordenar as ideias, organizar o pensamento. Use um método que não costuma falhar: mostre para pessoas envolvidas com o assunto, e depois peça para elas repetir o que entenderam. Faça ajustes se necessário.
Terceira camada: Concisão. É possível dar o recado em três parágrafos curtos? Normalmente sim, então não perca a oportunidade. Mas não precisa ser lacônico (como avaliador, já li submissões de uma ou duas frases… não é isso!). Alguns eventos permitem descrições de até 2.000 caracteres. Não é uma obrigação usar eles todos (1.000 são mais que suficientes, na minha opinião).
Papo reto: se a sua proposta for muito longa, corre o risco sério de não ser lida na sua integralidade.
Quarta camada: Ser atraente. O título é a primeira coisa que uma avaliadora vai ler, geralmente. Na medida do possível, faça o título brilhar. Também faça-o representar o que está por vir. Depois, o corpo do texto tem que manter a atenção e o interesse dessa avaliadora. Existe algum ponto polêmico que você irá abordar? O assunto de que está tratando é relevante para aquele contexto? Observar: tema do evento; enfoque das edições anteriores, se o tema atual não estiver explícito; assunto da trilha, se for divido assim.
Papo reto: eventos de comunidade, onde o foco principal é a troca de conhecimento entre pares, não são o melhor lugar para fazer jabá… isto é, só contar vantagem sobre as coisas que acontecem na sua empresa.
Quinta camada: Ter seu toque pessoal. Por fim, você pode optar por adicionar um toque pessoal, se estiver seguro de que seu ponto de vista é único. Essa camada traz o risco de não ser bem aceita, mas se você já passou por aquela fase da falta de coragem… (comente aqui, se o fizer!).
Resumindo
Em suma, o que mostrei aqui deve ajudá-lo a:
- Entender que essa movimentação de submeter trabalhos em eventos de comunidade pode lhe trazer novas oportunidades de trabalho e crescimento na carreira.
- Saber que existem algumas objeções comuns quando você tenta enviar propostas de palestra.
- Saber que, se você tem um recado para dar, as objeções do item 2 podem ser vencidas seguindo algumas orientações (obs.: são dicas, e não regras!).
Bônus: um exemplo prático
Para mostrar que isso tudo não é só teoria ou achismo, a minha palestra aprovada no ISA 16 foi formulada a partir dessas orientações (Inception total!). Eis o texto da submissão:
3 razões por que a sua palestra não foi aprovada nessa conferência, e a dela/dele foi
Você teve uma boa ideia de palestra, mas ela não passou nessa (ou em outra) conferência. Há no mínimo 3 razões para isso ter acontecido: 1) você não teve coragem de inscrevê-la (deixa disso!), 2) a descrição da sua palestra não ficou muito clara ou 3) você não conseguiu chamar a atenção do juri e ter um voto positivo dele.
Nessa palestra relâmpago, eu vou mostrar com superar o medo de mostrar as suas boas ideias e fazer uma "descrição do cacete" para sua palestra em alguns passos bem simples. Também vou mostrar como isso pode ser bom para sua carreira -- como designer, especialmente.
Eu já submeti palestras e fui aprovado nos últimos quatro Interaction South America, além do último Interaction, a conferência global do IxDA. Tenho experiência adicional na seleção de palestras em outras conferências.
Curioso para saber mais dicas como essas? Fique atento, seguindo a UXConf BR no Medium ou acompanhando a UXConf BR via Facebook, Twitter e Instagram.
Fotos: Charlene Cabral para UXConf BR 2016, Fanpage Interaction South America
Desenhos: imagens da apresentação por Thiago Esser (bit.ly/esser-isa16). Usá-las somente com citação da fonte e permissão do autor.