A importância da colaboração e diversidade na rotina de design

Bianca Rosa
UXMP
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10 min readNov 11, 2022

De que forma podemos tornar o processo colaborativo mais produtivo

4 pessoas em volta de um notebook conversando, onde um deles está digitando

Quando estamos fazendo um curso de ux para migrar, sempre ouvimos que a colaboração é uma das práticas mais importantes para o profissional, independente do da senioridade. Se você é um estagiário ou júnior vai precisar colaborar com designers mais seniors e com desenvolvedores e product owner da sua equipe, se você é um designer mais sênior aí o desafio é ainda maior, sendo necessário colaborar com gerentes de produtos, líderes técnicos e cada pessoa tem uma visão completamente diferente do produto/serviço.

O processo de colaboração se torna mais complexo surgindo atritos no processo colaborativo. Assim sendo não podemos deixar de atuar em importantes elementos do processo:

  • Comunicação — a base da colaboração, sem comunicação entre participantes e facilitadores não há cooperação e consequentemente inovação
  • Compartilhamento — todos precisam ter acesso às mesmas informações e todos devem ser incentivados a compartilharem conhecimento
  • Diversidade — quanto mais pessoas com vivências e habilidades diferentes mais rico se tornará o processo
  • Confiança — as pessoas devem se sentir seguras em compartilhar suas ideias e pontos de vista

Unindo o melhor dos dois mundos: comunicação síncrona vs comunicação assíncrona

Assim como a discussão de qual é o melhor modelo de trabalho, temos a discussão de qual é a melhor maneira de colaborar e não existe resposta certa. O dia a dia do profissional, cultura da empresa, recursos, disponibilidade de tempo e propósito vão ajudar a tomar a melhor decisão. Tanto na comunicação síncrona quanto na assíncrona é possível colaborar, decidir, documentar e aprender, o importante é adaptar a forma em que vai ser feito para todos os envolvidos participarem no tempo que dispõem.

múltiplos ícones de ferramentas colaborativas como o Miro, Figma, One Drive, Powerpoint, Excel, Slack, etc.
imagem adaptada do Microsoft Teams

Um modelo que está sendo muito utilizado nas empresas é a comunicação híbrida. Você pode utilizar o assíncrono para a documentação e aprendizagem, enriquecendo o processo e nivelando o conhecimento de todos os participantes, utilizando ferramentas como o Miro para compilar todas as informações cedidas pelas áreas, e utilizar o chat em grupo do Slack, Teams, para lembrá-los da atualização da documentação e como é necessária para o encontro síncrono, motivando assim a aprendizagem de todo o grupo.

Só tenha cuidado com o tempo, que é um dos maiores desafios da comunicação síncrona.

Utilize a comunicação síncrona para a decisão e colaboração. Você pode optar pela votação para todos opinarem e depois aproveitar para debater os pontos priorizados e aprimorar as ideias.

Aproveite os primeiros minutos do encontro síncrono para nivelar o conhecimento e passar pelos pontos mais importantes que foram documentados até o momento. Nem todos vão conseguir consultar materiais previamente, então o momento de nivelamento contribui para a comunicação ao longo do encontro. Só tenha cuidado com o tempo, que é um dos maiores desafios da comunicação síncrona.

Como fugir do design elitista

Personagem Dwight da série The Office virando para a câmera usando uma peruca ruiva demonstrando seriedade
Cuidado para não se confundir

O ato de colaborar vai além de reuniões contínuas de alinhamento com várias áreas diferentes. É necessário praticar a alteridade, enxergar a diferença do outro e trazer essa diversidade para a colaboração. Uma das formas de alcançar a diversidade é exercer o Design Participativo.

O Design Participativo é uma prática que visa a inclusão de pessoas não designers para um propósito e assim atingir resultados mais efetivos. Você pode aplicar na criação ou melhoria de um produto; serviço ou funcionalidade; na priorização de soluções; e idealização de soluções a serem testadas com os clientes.

E com todo esse planejamento de tornar o processo de design mais diverso, surge um ponto importante que às vezes podemos esquecer: nem todos ali são profissionais acostumados a participarem de ritos colaborativos. Nós designers somos muito presos a metodologias. Não se apegue a nomes de frameworks, se concentre em explicar o propósito das atividades e como devem ser feitas. Não adianta ter um grupo diverso de participantes se a sua comunicação não é acessível sendo compreendida apenas por outros designers e profissionais de inovação. Torne o ambiente acolhedor e construa a confiança e liberdade para que todos possam colaborar.

Um pouco sobre workshops

Workshops são reuniões práticas focadas em realizar diversas atividades para chegar a um objetivo. Todos os convidados devem participar ativamente e possuem espaço para contribuir. Não há uma pessoa líder, e sim um facilitador que fica responsável pela organização, aplicação e alcance dos objetivos.

O workshop pode ser utilizado em várias situações, dentre elas:

  • Desenvolvimento de modelo de negócios
  • Melhorias em produtos, serviços e funcionalidades
  • Construção de identidade e marcas
  • Identificação de forças e análise de riscos

O conhecimento dos profissionais que lidavam diretamente com os clientes, e sabiam das dores dos consumidores não chegavam aos decisores

O workshop caminha para um movimento contrário do caminho tradicional que as empresas tinham. Antes as empresas se concentravam no ambiente interno, analisando o produto/serviço que poderiam oferecer, e no ambiente externo, avaliando a competitividade com os concorrentes de mercado. E geralmente essas decisões eram feitas somente por pessoas com maior influência da empresa (muitas vezes pela Highest Paid Person’s Opinion, os HIPPOS) levando em consideração apenas o conhecimento e experiência delas.

O conhecimento dos profissionais que lidavam diretamente com os clientes, e sabiam das dores dos consumidores não chegavam aos decisores. Somente depois do produto/serviço estar pronto que as necessidades e desejos dos clientes eram analisadas, diante deste cenário as empresas precisavam buscar quais eram os clientes que se encaixavam ao produto/serviço oferecido por elas.

Tipos de workshops

Tabela comparando o Design Sprint com a Lean Inception. As diferenças são exemplificadas nos próximos parágrafos
Comparação do Design Sprint com a Lean Inception

Alguns dos workshops mais conhecidos são o Lean Inception e o Design Sprint. Ambos são dinâmicas que visam solucionar problemas complexos através da colaboração de pessoas de diversas áreas.As diferenças estão presentes principalmente no entregável ao final do workshop e as atividades práticas.

Design Sprint

O design sprint é uma metodologia desenvolvida pelo Google. Originalmente seguia a agenda de uma semana, onde em cada dia era trabalhada uma etapa da sprint:

Dia 1 — Entendimento: identificação das oportunidades e escolha de qual problema específico a ser atacado

Dia 2 — Divergência: idealização de possíveis soluções, com atividades individuais e em grupo

Dia 3 — Definição: refinamento e priorização das soluções

Dia 4 — Prototipação: construção do protótipo

Dia 5 — Teste: teste com os usuários

Agenda do Design Sprint onde mostra o que é feito em cada dia. A descrição das atividades foi feita nos parágrafos anteriores
Agenda do Design Sprint 1.0

Com o tempo a metodologia foi refinada e passou a existir o Design Sprint 2.0. Com a mudança, as atividades do dia 1 e dia 2 se uniram, reduzindo em 4 dias a duração do método. Então ao final do workshop você vai ter resultados do que funciona e do que não funciona para as necessidades dos cliente, economizando tempo e dinheiro para investir em algo que traga retorno para os negócios e tenha valor para o usuário. É uma metodologia mais focada na experimentação, por isso que geralmente é executada por um responsável de design ou inovação.

Lean Inception

O Lean Inception foi criado por Paulo Caroli, autor do livro Lean Inception: Como alinhar pessoas e construir o produto certo. Este workshop também tem a duração de uma semana, mas o foco dela é mais na construção do MVP (Produto Viável Mínimo), fechando todos os detalhes daquele produto. Geralmente esse workshop é executado por profissionais de Produtos, como os Product Managers. As etapas contempladas são:

Dia 1 — Kickoff: Visão e objetivos do produto

Dia 2 — Personas e brainstorming de funcionalidades

Dia 3 — Revisão de Negócios e Ux e jornada do usuário

Dia 4 — Levantamento de funcionalidades e elaboração de plano de entrega

Dia 5 — Canvas MVP: documentação da visão de produto, métricas, hipóteses, etc; e Showcase, uma espécie de revisão de tudo o que foi trabalhado no workshop.

Agenda da Lean Inception

E afinal qual é melhor?

Depende da sua necessidade, podendo até ser utilizada como ferramentas complementares. Eu já tive a experiência de participar de um Design Sprint que ajudou a priorizar a solução com maior valor para o cliente e com esses insumos seguir para a Lean Inception reduzida para o refinamento do MVP.

Métodos mais utilizados

Post its de várias cores com vários desenhos rabiscados
Exemplo de Crazy8 feito no modelo remoto

Existem várias atividades que podem ser aplicadas em cada etapa do workshop e elas podem ser adaptadas para o seu público e tempo disponível:

Aquecimento — antes de começar a colocar a mão na massa é interessante aplicar uma atividade rápida de quebra gelo e para isso você pode aplicar os seguintes métodos:

Duas verdades e uma mentira: a pessoa conta três fatos interessantes relacionadas à ela e os demais precisam descobrir qual é a mentira

Superpoder: Cada participante escolhe um superpoder que gostaria de ter, então peça para explicar o porquê

Perguntas: Você pode fazer perguntas para todos como “Quando criança, o que você queria ser na vida?”, “Você tem algum talento secreto?”, “qual comida você menos gosta?”. Naturalmente vai haver uma interação entre o grupo.

Abertura — se inicia o entendimento sobre os principais objetivos e necessidades

Matriz CSD — Reúna todas as certezas, suposições e dúvidas relacionadas ao tema do workshop.

How Might We/Como poderíamos — em uma frase descreva quais desafios a equipe deve resolver como por exemplo “como poderíamos reduzir o tempo de atendimento do nosso chat”.

Exploração — momento de gerar soluções

Jornada do usuário — representação da trajetória do cliente desde o surgimento da necessidade até o pós-venda do produto/serviço.

Canvas de proposta de valor — mapeamento do valor do produto/serviço alinhado às dores e necessidades dos clientes a serem atendidas

Crazy8 — a proposta é realizar 8 esboços da solução em 8 minutos para exercitar formas diferentes de abordagem e não parar na primeira sugestão. Se os participantes não tiverem familiaridade com o método, você pode reduzir a quantidade de esboços.

Fechamento — priorizar o que faz mais sentido naquele momento para o negócio e o cliente

Dot voting/Votação — separar uma certa quantidade de pontos que podem ser distribuídos para as pessoas votarem

Matriz de Impacto x Esforço — matriz de priorização onde as soluções mais votadas serão analisadas em como impactam o negócio e serão mensuradas a dimensão do esforço para a entrega.

Detalhes importantes antes da facilitação

Duas mãos unindo a metade de um alvo
Planejamento é a chave do sucesso de qualquer workshop

Antes de puxar um workshop é de extrema importância se organizar e deixar tudo certo para os participantes colocarem a mão na massa. Para te ajudar você pode trabalhar com um checklist:

  • Escolha de temas e objetivos: Lembre-se que o workshop só é feito com propósito então deixe bem claro qual será o tema e quais resultados você e a equipe esperam obter
  • Formato e métodos: Pense em como é a agenda dos participantes para adaptar à realidade deles. Mesmo as metodologias sejam conhecidas por terem a duração de uma semana, muitas vezes no dia a dia da empresa você não vai ter mais que algumas horas por dia para aplicar
  • Planejamento das sessões: Programe cada etapa e quais serão as atividades necessárias para chegar ao resultado esperado. Calcule quantos minutos serão necessários para cada tarefa e para as pausas. Sempre deixe minutos sobrando, pois sempre ocorrem atrasos e imprevistos.
  • Organize quais pessoas participarão: quanto mais enxuto e diverso o grupo mais efetivos serão os resultados. Pense em quem realmente será necessário e agregará valor ao processo.
  • Recursos e facilitação: de acordo com o modelo de aplicação (presencial, remoto ou híbrido) deixe tudo organizado e principalmente no caso do híbrido, conte com um cofacilitador para te ajudar. Defina como vai ser conduzido e quem poderá te ajudar na aplicação

Aprenda um pouco mais sobre facilitação

Se você gostaria de aprender mais sobre facilitação e workshops eu recomendo o curso Colabora! Um curso sobre cocriação e tomada de decisão da Wildtech + Uzzer. Foi graças a uma bolsa de estudos do UX para Minas Pretas que eu tive a oportunidade de fazer a 1ª edição deste curso💜

Além do curso recomendo a leitura do livro Sprint: O Método Usado no Google Para Testar e Aplicar Novas Ideias Em Apenas Cinco Dias que tem uma leitura amigável para os iniciantes no tema.

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Bianca Rosa
UXMP
Writer for

Sou apaixonada pela criatividade na resolução de problemas complexos através de soluções simples. Pencils before pixels ✏️