Por que um corvo se parece com uma escrivaninha?

8 frases de Alice no País das Maravilhas que nos ensinam lições importantes sobre comparações e jornada pessoal.

Raquel Barbosa
UXMP
7 min readOct 25, 2021

--

“Uma régua para cada um, mas a minha é sempre a menor“

Com que régua você mede a si e aos outros? Você costuma se sentir pressionado ao ver postagens no Linkedin sobre pessoas sendo promovidas, finalizando o 84 º curso de fim de semana, ou recebendo premiação por trabalhos concluídos? Há alguns dias eu me deparei com uma postagem na rede vizinha em que o autor afirma que para você se diferenciar dos outros e se destacar na área de UX basta “estudar mais”. Essa afirmação me incomodou tanto que eu precisava escrever sobre.

Ilustração de um corvo se olhando no espelho com a seguinte frase “Você é patética”
“Exemplo de como NÃO refletir sobre si mesmo e sua jornada”

Constantemente nos vemos pressionados a ser mais, entregar mais, fazer mais. Vemos outras pessoas estudando freneticamente para alcançarem seus objetivos e ao compararmos com nosso próprio ritmo nos sentimos intimidados, fracassados ou atrasados. Será que eu cheguei tarde para a festa e todo mundo já tem uma posição em UX com nome em inglês no título do Linkedin menos eu? A área está saturada e eu preciso dedicar todo o meu tempo para aprender mais do que o necessário para estar sempre a frente dos outros? Aqui eu trago algumas frases de Alice que nos levam a algumas reflexões sobre essas perguntas.

“Nada se é conquistado com lágrimas”

Tenha o progresso e sucesso dos outros como inspiração e não como um gatilho para você se desesperar e tentar consumir a maior quantidade de conteúdo possível, ou pior, desistir e desanimar. Não me leve a mal. Eu também desanimo, eu choro, eu tenho crises existenciais, mas é importante continuar seguindo seu ritmo, aos pouquinhos você chega lá também. Mas enquanto esse dia não chega que tal parabenizar o coleguinha e se orgulhar pelo esforço e dedicação para ele ter chegado até ali? Sabemos o quão difícil é alcançar nossos objetivos, não podemos reduzir a conquista das pessoas a um simples post no Linkedin. E isso me leva a mais uma reflexão…

Ilustração de uma pessoa com pele amarela, cabelo preto curto, olhos pretos e lábios azuis. Há um fundo rosa e gotas de chuva azuis simbolizando lágrimas.
“Mood pós olhadinha rápida no linkedinho”

“Nada é o que é, porque tudo é o que não é.”

Muitas vezes deixamos de ter lazer, um momento com nossos pets, amigos e familiares só para terminar um curso, participar de uma conferência, dar um up no portfólio etc. Essas pequenas doses de conquista não são perceptíveis para quem está de fora da nossa realidade. Portanto, não repare na grama do vizinho e se sinta mal ou ache que a sua não está tão verdinha. Não sabemos o que está abaixo do que de fato podemos enxergar. Muitas vezes o que vem sob a camada do visível é dor, lágrimas, privação de sono, incentivos extras, e sabe-se lá o que mais.

Ilustração de um pop up de alerta escrito “tem certeza de que deseja começar um novo curso sem terminar o anterior?”, dois botões escrito “só mais um” e “cancelar”. Há um ponteiro de mouse indicando clicar no botão “só mais um”
“Só mais um não faz mal né (sqn)”

“Nós nunca descobriremos o que vem depois da escolha, se não tomarmos uma decisão”

Paradoxalmente, quanto mais escolhas mais difícil é a tomada de decisão. E após a decisão ainda podemos ter dúvidas se o caminho que tomamos é o certo para nós. Em relação aos estudos, a todo momento você será bombardeado com tópicos a serem estudados, um novo artigo, um novo livro, um novo case. Reduza a quantidade de conteúdo que você está consumindo e foque apenas no necessário. Você não precisa saber tudo se está apenas começando. Faça um lista dos assuntos que você precisa estudar, priorize os fundamentos e coloque tudo isso em um cronograma alinhando com suas metas e objetivos. E mais uma vez, se cada um tem metas e objetivos diferentes não tome decisões baseadas no que os outros estão fazendo.

“Se você não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve”

Descubra qual é sua motivação e seu objetivo final ao estudar UX. Como você chegou até essa área? Promessas de grandes salários? Decepção com outro ramo de atuação? Quer mudar o mundo resolvendo problemas complexos? Seja lá qual for sua motivação (ou motivações), pare um momento para refletir a que ponto você quer chegar daqui 1 ano, 2 anos, 5 anos, 10 anos. Assim você pode guiar seus estudos de uma forma mais assertiva. Lembre-se que cada pessoa tem uma motivação, uma trajetória e um background que a levou até ali. Se os porquês são diferentes não faz sentido você querer estar no mesmo lugar da outra pessoa. Descubra seu próprio caminho e aproveite o trajeto.

“Se você conhecesse o Tempo tão bem quanto eu, falaria dele com mais respeito.”

O tempo é relativo e cada pessoa caminha no seu próprio ritmo. Não seja a aquele que quer correr uma maratona para chegar mais rápido ou alcançar quem já deu a largada muito antes. Respeite o seu tempo. Não tem problema sentir que às vezes não está indo a lugar algum, porque em certo ponto todos nós sentimos um pouco de estagnação. Quando perceber que não está saindo do lugar dê um tempo ao tempo, respire, faça outra atividade e quando se sentir melhor volte aos estudos. Ao invés de gastar tempo se preocupando se você vai demorar para chegar lá, gaste esse tempo fazendo o que você mais ama e as tarefas você tem que cumprir para alcançar seus objetivos.

“Eu não sou louco. É só a minha realidade que é diferente da sua”

Estamos o tempo todo ocupados tentando ter empatia e entender o modelo mental dos usuários, que esquecemos de entender a nós mesmos. Nossa realidade, tanto a exterior quanto a que criamos na nossa mente é única. Por mais que estejamos todos sob o mesmo guarda-chuva ainda enxergaremos as coisas diferentes e com um outro olhar. E esse é um dos requisitos para ser UX Designer. Compreender que tudo o que passa pelas minhas lentes e tudo o que eu vivencio é só meu, é único. Portanto não compare sua realidade com a de outra pessoa, afinal, ela pode estar em um degrau mais alto do que você na escadinha do privilégio (ou o contrário).

Dois guarda-chuvas azuis, com fundos diferentes. Um dos fundos é amarelo e o outro fundo é rosa.
“O mesmo guarda-chuva, olhares e experiências diferentes”

‘Aprecio o que tenho’ é a mesma coisa que ‘tenho o que aprecio’! acrescentou a Lebre de Março

Batendo na mesma tecla da grama do vizinho ser mais verde, constantemente vejo pessoas preocupadas por não terem formação certa ou as experiências de trabalho certas. Não desvalorize o que você tem, seus cursos, suas vivências, seu conhecimento. Aprecie a sua bagagem e aproveite para conectar essas experiências anteriores com a área que você está estudando agora. Aqui e aqui tem dois relatos que podem te ajudar com isso.

“Por que um corvo se parece com uma escrivaninha?”

Se você pensou “por que alguém iria comparar um corvo a uma escrivaninha? Não faz sentido” você chegou ao ponto certo. Comparações desnecessárias não nos levam a lugar algum, a não ser a tortura psicológica. Não faça isso com você e nem com os outros, é injusto e um tanto cruel. Assim como Alice retrucou para a Lebre e o Chapeleiro, quero deixar uma última mensagem:

“Acho que vocês poderiam fazer alguma coisa melhor com o tempo, do que gastá-lo com adivinhações que não têm resposta.”

Ilustração de um corvo preto com 3 interrogações amarelas flutuando sobre sua cabeça.
“Será que você não está focando nas perguntas erradas?”

Se você quer ser diferente, seja apenas você. O mundo vai girar mais depressa se cada um cuidar do seu trabalho sem se comparar com os outros. Parafraseando Austin Kleon: tudo está mudando em um ritmo tão acelerado que estamos nos tornando amadores. Não adianta correr para aprender mais e se desesperar, porque todos nós somos eternos aprendizes.

Sempre terá algo a mais a ser descoberto, aprendido e descontinuado. Os estudos são importantes, claro, mas não entre numa busca desenfreada por conhecimento pelos motivos errados. Não compare corvos e escrivaninhas, compare o seu eu de ontem e o seu eu de hoje.

🂱 frase que inspirou o título desse artigo é uma das primeiras falas do Chapeleiro no livro “Alice no País das Maravilhas” e até hoje é um mistério. Ao longo dos anos criaram-se várias teorias sobre o significado da charada, mas nem mesmo o autor nos deixou uma resposta concreta e que faça sentido.

Leiturinhas Recomendadas

Afinal, por que um corvo se parece com uma escrivaninha? — Alice e o Ocultismo (Higor Gonçalves)

Alíce no País das Maravilhas (Lewis Carrol)

Mostre Seu Trabalho — 10 maneiras de compartilhas sua criatividade e ser descoberto (Austin Kleon)

Ilustrações

♥ Raquel Barbosa (feito com Figma)

--

--