Às vezes, precisamos de um suspiro

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4 min readMar 14, 2022

Como as pessoas trans lidam com estereótipos de gênero?

Arte: Magui

Se não me falha a memória, eu já discuti um pouco sobre estereótipos de gênero e sobre pessoas trans aqui no Medium (pode ler aqui e aqui).

Pode ser um pouco repetitivo, mas considero este um assunto complexo que não se esgota e pode ser abordado de diversas formas.

Se esse texto tivesse palavras-chave, seria algo como: pessoas trans, estereótipos de gênero, mídia.

Sim, vamos falar de BBB

Calma! Segura essa pedra…

Sim, esse assunto já está batido, ninguém fala mais dessa polêmica, esfriou essa pauta, etc.

Mas, comecei a pensar nesse texto a partir do caso da Linn da Quebrada. Vocês já devem estar a par do assunto, mas sempre tem uma pessoa mais lerda no meio( eu não te julgo, também estou no time dos lerdos).

De forma resumida, Linn é uma cantora travesti que utiliza pronomes femininos, com um grande ELA tatuado na testa pra ninguém errar seu pronome. Contudo, pessoas cisgênero adoram fazer close errado, e trocam os pronomes da Linn incontáveis vezes, a tratando no masculino.

Me recuso a entrar no assunto do porquê chamar pessoas trans pelo pronome errado é ruim, pois este é um debate que deveria ser óbvio até aqui.

Acredito que ninguém parou para questionar o porquê de Linn ter seus pronomes desrespeitados diversas vezes. Acho que tenho uma resposta para isso (ou ao menos uma pista): apesar da cantora ter silicone, vestir roupas “femininas”, e performar a tal da feminilidade, ela não tem aquela “aparência de trans” que a cisgeneridade reconhece.

O corpo da Linn incomoda as pessoas cisque tem suas mentes presas em uma caixinha. É como se desse tela azul na Matrix binária.

Error 404.

Quem são as pessoas trans que aparecem na mídia?

Você já reparou nas representações de pessoas trans que temos nas mídias?

Na televisão, em filmes e séries, e até nas redes sociais, existe uma preferência bem clara sobre as transgerindades que são aceitas

O primeiro ponto é que as pessoas não binárias são completamente esquecidas. Claro que existem bons exemplos de representatividade, mas estou falando das mídias tradicionais.

Arte: Magui

O dia que eu ver um James Bond da vida sendo não binárie, eu juro que solto fogos de artifício. Mas, atualmente, nem conseguimos um 007 gay.

Continuando, Hunter Schafer, Indya Moore, MJ Rodrigues, Gabriela Loran, Tarso Brant. Todas essas pessoas têm algo em comum: elas correspondem aos estereótipos do gênero criados socialmente. Brant nunca foi visto de vestido, Schafer nunca deixará a barba crescer.

Isso não é uma crítica a essas pessoas, nem de longe, e sim aos tipos de corpos trans que a mídia reforça.

E dá para ir mais fundo ainda. Pouquíssimos desses nomes que citei fizeram o papel de um personagem cis, sempre tiveram/tem que representar aquilo que são na vida. Isso limita as oportunidades dessas pessoas, além de ser bem cansativo fazer praticamente o mesmo papel toda a vez.

Contudo, apesar de ser problemático, isso não é errado.

Não são as pessoas trans que estão erradas

Vamos partir do princípio que pessoas trans não reforçam os estereótipos de gênero.

Elas se apropriam deles? Sim, como vimos nos exemplos anteriores. Mas elas não fazem isso para ditar o que é feminino e o que é masculino (o que cis fizeram por secúlos), mas sim para serem levadas a sério.

Uma das minhas maiores frustrações atuais é que eu não consigo usar roupas “femininas” tanto como eu gostaria.

Por exemplo, eu amo aquela moda de garotos usando saia, realmente acho muito bonito. Entretanto, se visto uma saia… pronto, já vão questionar minha transgeneridade.

No entano, se um homem cis coloca uma saia, é quase inexistente o o questionanamento ao seu gênero No máximo será questionada a sua sexualidade, mas mesmo assim ainda será um garoto de saia.

Essa é uma das razões que explicam o porquê das pessoas trans se apropriarem dos estereótipos: elas precisam sobreviver.

O problema não são essas pessoas, mas a sociedade como um todo que ainda tem regras de gênero muito rígidas. Até mesmo quem se diz mais “liberal”, cainessas regras.

O suspiro

É doloroso ser um contorcionista para entrar numa caixinha tão pequena. Alguns têm mais facilidade, mesmo que tenham que fazer sacrifícios no meio do caminho.

Você pode escolher a caixinha que quiser, mas ninguém deveria ganhar uma hérnia para continuar naquele lugar.

Com tanta pressão, é muito bom dar um suspiro.

Escrito por: Alex Gaeta

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