Amor não enche barriga: como monetizar minha arte?

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5 min readMar 23, 2022

Como qualquer outro trabalho, a arte também deve ser paga

Arte: Magui

Quem nunca escutou as frases: “você poderia dar um descontinho?” “Acho que hoje não vou querer nada!” “Mas você trabalha?” e mais tantas outras que ressoam como mais uma forma de desvalorização do trabalho criativo.

Elas são verbalizadas há décadas e a na maioria das vezes o que fazemos como resposta é dar uma risada de desespero ou apenas um sorriso amarelo em meio a uma situação um tanto constrangedora e embaraçosa.

O fato é que vivemos em uma sociedade imersa dentro de um regime capitalista ferrenho e, obviamente, não podemos simplesmente escolher sair dele, é tudo muito mais profundo que isso, por isso nos adaptamos.

Um exemplo são as perguntas sobre quais profissões queremos seguir na fase adulta, pois culturalmente desvalorizamos muitas áreas que podemos exercer.

Carreiras como medicina, direito, engenharia e áreas correlatas nos são apresentadas como uma saída de sucesso e prestígio. Isso se deve ao que temos desde que o mundo é mundo em nossa sociedade: o utilitário e o estético.

O utilitário consiste em explorar as necessidades do ser humano, já o estético possui a questão atrelada a uma demanda secundária.

Arte: Magui

Nas humanidades, aprendemos que vivemos em uma realidade em que o ser humano tem a necessidade de ambos. Contudo, o utilitário sempre se faz mais presente pelo simples fato que o ser humano gosta de descartar o estético.

O estético tem diversos elementos do nosso cotidiano, mas quero especificar aqui um mais específico que vai abranger a cultura, criação, produção e muito mais.

Para exemplificar, vamos abrir um parênteses. A literatura é entendida como uma fonte que usa o utilitário e o estético em sua essência, pois faz o uso da verossimilhança, ou seja tem que ter conexão com o mundo real, quase como um reflexo no espelho.

No entanto, mesmo com características da realidade humana, esse tipo de arte emerge dos caminhos da criatividade e da produção estética.

E por que eu dei esse exemplo? Já parou pra pensar que quando falamos de ganhar dinheiro com arte tem gente que olha torto?

Pois é, tratamos a arte e a criatividade como a última coisa com que vamos investir nosso tempo e dinheiro.

Deixei em destaque a palavra investir, pois são incontáveis vezes que esquecemos de colocá-la em pauta. O termo gastar sempre é visto como algo extremamente negativo, enquanto investir traz uma ideia de troca e retorno positivo.

Talvez essa seja a nossa primeira dica para a arte e a criatividade de forma geral: elas são um investimento.

Não é sobre a fatura do cartão

Como eu disse anteriormente, se mudarmos o uso de uma palavra iniciamos uma corrente mais positiva de como vemos a arte e sua monetização. O investir é uma âncora para todes, mas principalmente, aos artistes e criatives LGBTQIA+.

Não discutimos sobre como nossas preciosas horas de criação e produção de trabalho valem dinheiro, ou seja, parece que todas as pessoas acreditam que vivemos de amor.

Mas o amor não paga as contas e muito menos a fatura do cartão.

É evidente que viver em um mundo em que a arte é facilmente descartada, torna-se desmotivador e isso aumenta ainda mais na comunidade LGBTQIA+.

Vender a nossa arte e criatividade é duro, porque uma das coisas que está atrelada ao empreender é o Pink Money. Para quem não sabe o que é Pink Money vou explicar rapidamente.

O Pink Money é a comercialização de produtos ligados à comunidade LGBTQIA+, ou seja, o capital de lucro não é retornado às pessoas LGBTQIA+. Sim, é um dinheiro que é ganho às nossas custas.

E agora entramos em uma questão muito importante: se você está vendendo a sua arte, sua criatividade, o seu trabalho, você está empreendendo de alguma forma.

Arte: Magui

Contudo, não nascemos sabendo como é empreender e como colocar o valor devido no nosso trabalho, pois ser artista é difícil.

Vamos de tutorial…

A precificação do trabalho autônomo e criativo pode ser um pouco complicada, mas instituições que estão ligadas ao empreendedorismo podem auxiliar nos estudos sobre custo, despesas e lucro.

O SEBRAE é uma das instituições que disponibiliza materiais para os primeiros passos para empreender, seja em qual área for.

Outra plataforma que auxilia é a Plugg.to, que calcula o valor final do seu produto. No Plugg.to você responde algumas perguntas obrigatórias e opcionais que vão mostrar o valor do seu trabalho. As opcionais vão depender do tipo de produto que você está oferecendo.

Ser MEI (Microempreendedor individual) é um desafio, pois normalmente as mesmas regras e valores trabalhados são diferentes de outros contratos de trabalho, como PJ, CLT ou até mesmo um contrato de estágio, que colocam mais segurança no valores mensais de salário.

Mas não se desespere com isso. Para te auxiliar um pouco nessa jornada pelo mundo do empreendedorismo, separei algumas dicas:

  • Saiba com o que você vai trabalhar: pode soar óbvio, mas para algumas pessoas há uma dificuldade de expor de forma clara o seu trabalho autônomo. Pesquise qual é a melhor forma de trabalhar com o que escolheu para aí começar as divulgações.
  • Separe o seu local de trabalho: é importante que o espaço que você vai fazer isso seja tranquilo para não atrapalhar o seu processo criativo.
  • Tenha um tempo de criação: assim como qualquer outro trabalho é necessário disponibilizar um tempo hábil para o que você deseja fazer. Além disso, você terá outras tarefas cotidianas que precisa executar, então deixe tudo organizado. Há algumas plataformas que podem ajudar: Notion, Trello, Google agenda,entre outras.
  • Mídias Sociais: atualmente, elas são umas das ferramentas que mais auxiliam na divulgação de perfis pessoais e de trabalho. Ter uma conta própria para o seu empreendimento ajuda para que outras pessoas descubram a sua arte e também facilita a interação com seus clientes. Para mais dicas sobre como utilizar as mídias digitais, leia o texto Marketing para Artistas: um guia inicial.
  • Contas Bancárias: ter uma conta separada da sua conta pessoal facilita na entrada de capital e no pagamento das contas.
  • Imprevistos: saiba que imprevistos podem surgir em meio aos seus trabalhos. Isso é normal, mas não perca a motivação. Para isso, faça pesquisas e converse com outras pessoas que trabalham no mesmo ramo que você, essas trocas enriquecem.

Um dos lugares em que essas trocas acontecem é a Valejo, onde há uma rede ampla de pessoas criativas compartilhando ideias, experiências e impulsionando seus negócios. Venha fazer parte, clique aqui e saiba mais.

Quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra…

Sim, trabalhar com arte e criatividade é um desafio diário. No entanto, há várias formas que auxiliam na divulgação e no trabalho artístico e criativo.

Com o devido planejamento, empreender com arte e criatividade pode ser rentável. Afinal, só amor não enche a barriga!

Escrito por: Giulia Pietra

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