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11 min readSep 29, 2021

Dicas para você iniciar sua carreira no ramo criativo

Arte: Magui

Você provavelmente sabe que muitos dos artistas conhecidos mundialmente só foram obter reconhecimento após a morte, como o pintor Vincent van Gogh, a poetisa Emily Dickinson e, até mesmo, o escritor William Shakespeare.

Seja pelos obstáculos de se estabelecer como artista sendo uma mulher no século XIX ou pela dificuldade de alcançar pessoas fora da própria região, ou porque a sociedade não estava preparada para o que tinham a oferecer.

Uma das maiores exceções foi Leonardo da Vinci.

Da Vinci seguiu um dos caminhos mais comuns para a época (séculos XV e XVI): ser contratado por nobres e clérigos para produzir obras sob encomenda.

Um caminho feito também por Michelangelo ao pintar o teto da Capela Sistina, o seu trabalho mais conhecido.

Antigamente, o foco era produzir para uma elite compradora. A arte que era considerada de valor era muito limitada aos movimentos artísticos da época, principalmente ligados à pintura, escultura e música clássica.

Hoje, a competição é ainda maior, mas a diversidade de modalidades artísticas e a facilidade de alcançar o público desejado também.

Escolher seguir sua paixão em uma carreira na arte pode ser intimidante. Por isso, separei algumas dicas para te ajudar a começar com o pé direito e ter mais chances de sucesso — seja o que for que essa palavra signifique para você.

1. Desenvolva suas habilidades

Antes de encarar essa jornada e transformar seu talento em negócio, você precisa se sentir confiante em suas habilidades e ter embasamento — tanto prático quanto teórico.

Uma boa maneira de adquirir tal embasamento é participando de cursos ou workshops em sua área de interesse. A Domestika é um bom exemplo de plataforma com cursos diversos para o meio criativo — desenho, aquarela, bordado, joalheria com resina, e muitos outros.

Além disso, exponha seu trabalho para críticas de especialistas ou do público em geral. Críticas construtivas são ótimas para seu desenvolvimento artístico. Os especialistas te darão uma visão mais técnica e estilística e o público te dará uma visão de consumo.

Ter um mentor também é interessante pelo mesmo motivo. A mentoria de alguém que já está estabelecido e trabalhando no mesmo meio por mais tempo pode abrir os seus olhos para muitas coisas antes de você seguir seu próprio caminho. Artistas que te inspiram podem fazer esse papel de mentor, mas em uma escala menor.

Expandir seu repertório é outro jeito de desenvolver habilidades. Consuma arte, de todos os lugares e de todas as formas. Tudo pode contribuir para o seu processo criativo: músicas, arte clássica ou contemporânea, audiovisual, artes plásticas e literatura — ficcional ou não.

Há uma grande variedade de livros que tratam do fazer artístico e que podem te trazer boas reflexões.

Um dos bens mais preciosos de qualquer artista é o portfólio. Ter um portfólio atualizado, organizado e disponível para acesso público é crucial.

Você pode fotografar seus projetos e os compilar em uma das plataformas de portfólio online disponíveis ou criar um site próprio para expô-los.

Para obter experiência e incrementar seu portfólio, você pode se envolver em programas de voluntariado e elaborar seus próprios projetos independentes.

2. Planeje

A etapa do planejamento contém os passos mais importantes e os que irão servir de base para seu negócio prosperar. Como base, ele precisa ser sólido e muito bem pensado.

Estabeleça metas e expectativas realistas, dessa forma você conseguirá montar um plano de ação para realizá-las. Prefira trabalhar com metas mensuráveis.

  • O que você pretende alcançar a curto prazo? Número de vendas, encomendas ou peças produzidas, por exemplo.
  • O que você pretende alcançar a médio prazo? Crescimento nas redes, participação em eventos, aumentar os lugares onde os produtos estão disponíveis…
  • O que você pretende alcançar a longo prazo? Um espaço físico do negócio/um estúdio, aumentar em tantas vezes o lucro anual, um e-commerce próprio.

No começo, talvez você não consiga se manter apenas da venda da sua arte.

Arte: Magui

Considere criar um fundo de reserva para você se manter até que seu negócio esteja rendendo o suficiente, caso escolha não permanecer no seu emprego atual.

Muitos artistas também continuam em seus empregos e o conciliam com a carreira artística.

Outros perderam seus empregos e recorrem ao meio criativo como necessidade.

Seja seu objetivo usar a arte como renda principal ou como renda extra, as mesmas dicas valem. O planejamento financeiro pode evitar muitos problemas futuros.

Saiba o quanto você pode investir no negócio, sempre calcule gastos e perspectiva de lucro, trace estratégias de divulgação a partir do seu orçamento.

Participação em feiras e eventos costuma custar mais e requer mais planejamento do que o uso das redes sociais, mas também focam em resultados e precisam de um conjunto de ferramentas diferente.

Pesquisar o mercado que você vai integrar é indispensável. Você precisa entender onde está se metendo, o que funciona ou não. Converse com pessoas da área.

Mas, acima de tudo, preste atenção. O que as pessoas estão criando? Qual o público para esse tipo de arte? Qual a faixa de preço de outros artistas? Como eles geralmente se comunicam?

Documente e analise tudo, para depois começar a traçar a estratégia que você deseja adotar.

É nesse momento que se deve pensar mais profundamente na logística.

Por qual meio você irá vender sua arte?

  • Através de mediadores ou plataformas coletivas. Artistas ou outros empreendedores que vendem em um mesmo lugar se beneficiam da facilidade de implementação da loja, do grande tráfego de consumidores e da autoridade que a empresa carrega.

Por outro lado, você não consegue colocar a sua cara no site e todos cobram algum tipo de taxa — geralmente, em cima de cada venda. Alguns exemplos de mediadores são a Amazon, o Elo7, o Mercado Livre e a Valejo.

  • Em um site próprio, você consegue determinar cada detalhe da identidade visual, da usabilidade e dar um ar mais profissional ao negócio. Porém, essa opção costuma ser mais cara e você não se beneficiará da popularidade dos mediadores.
  • Por meio das redes sociais. É comum que artistas escolham vender seus produtos exclusivamente pelas redes sociais, principalmente se grande parte das vendas decorrem de encomendas personalizadas.

Você pode divulgar os tipos de produtos no Instagram e receber os pedidos de encomenda pelo WhatsApp, por exemplo, ao colocar um link na bio direcionando para o envio de mensagem.

Essa pode ser uma das maneiras mais simples e baratas de venda, mas você terá que responder pessoalmente a cada pedido e combinar o método de pagamento. Organização é ainda mais imprescindível nesse caso.

  • De forma física. Você pode optar por vender seus produtos também em lugares físicos: em loja própria, feiras, eventos ou a partir de licenciamento para outras lojas. O contato mais próximo com o cliente, maiores chances de atrair o consumidor e uma atenção mais direcionada dele ao produto são boas vantagens.

Porém, a maioria das formas de vender em ambientes físicos precisa de um investimento mais alto. Uma loja própria pode ser mais desafiadora de administrar, principalmente no começo do negócio, quando não temos perspectivas claras de lucros e gastos.

Não é recomendado que esse seja o seu único ponto de venda. Se fizer sentido para o seu empreendimento ter uma loja física ou vender em feiras e eventos (mesmo que ocasionais), considere oferecer seus produtos também por um dos meios digitais.

Como você irá precificar seu trabalho?

Vai variar dependendo do projeto, por horas trabalhadas, nível de dificuldade ou terá preços mais padronizados? Não tem certo ou errado, apenas o que funciona para cada artista.

Lembre-se de ter uma planilha sempre atualizada com todos os seus gastos para basear sua margem de lucro desejada. Os gastos com luz, espaço, materiais, internet, envio, embalagens devem estar incluídos de forma diluída no preço do produto.

É necessário pensar na maneira e na embalagem em que o produto será entregue ao comprador. Se será enviado pelos Correios, por transportadora contratada ou se terá a opção de ser entregue em mãos, por exemplo.

Cada obra tem sua especificidade na hora do envio para garantir sua integridade e a embalagem deve ser cuidadosamente pensada para certificar a segurança da peça.

Outra dica é verificar a possibilidade de fazer um seguro para cada produto enviado, para obter proteção em caso de extravio ou danos.

Pelo mesmo motivo da segurança, mantenha registro de tudo — transações financeiras, notas fiscais, e-mails de clientes, contratos. Preserve sua tranquilidade e tenha provas de todas as ações do negócio.

Se você sentir que a parte financeira ou administrativa é muito para lidar, avalie se o seu orçamento permite a terceirização de certos processos — contratando um contador ou pessoa especializada na área gerencial.

3. Crie uma rede de apoio

Ter um negócio criativo pode ser física e mentalmente exaustivo. Por isso, construir uma rede de apoio pode te ajudar nos momentos difíceis.

Familiares, amigos e psicólogos são bons aliados nessa jornada — nem sempre é fácil, críticas irão surgir e você precisará lidar com elas de alguma forma. Conversar com quem confia é uma ótima forma para externalizar seus sentimentos, receber apoio e sugestões de soluções para determinado problema.

Pode parecer um caminho solitário, mas você pode tentar torná-lo mais colaborativo.

Faça amigos (de verdade) no meio artístico, na mesma área e em áreas diferentes. Se existem pessoas que entendem sua situação são outros artistas independentes.

Eles podem te auxiliar e te dar dicas valiosas do que fazer — e especialmente do que não fazer.

E lembre-se sempre: ajude as pessoas com vontade, sempre que puder — você também pode aprender muito ensinando e contribuindo com o próximo. É um mercado onde a troca é constante e intensa.

As oportunidades estão onde menos se espera.

4. Divulgue seu trabalho

Um dos passos essenciais para estabelecer seu negócio no mercado é divulgá-lo.

Com tantas possibilidades disponíveis, é comum se sentir um pouco perdido: são muitas plataformas, detalhes e, claro, esforço.

Com toda a carga de trabalho de criação e gerenciamento, pensar em divulgação parece demais. Mas vamos simplificar.

Faça diferente, faça do seu jeito. Você não precisa desenvolver nada muito complexo, se não se sentir confortável ou se não for viável no momento, principalmente quando estiver começando.

Se inspirar em pessoas que você admira é válido, mas encontre a sua forma de divulgar. Encontre sua marca, sua assinatura. Há mais chances de você se destacar ao usar de sua autenticidade. Os outros já existem.

Para facilitar, estabeleça eixos de publicação. Selecionar categorias de produção de conteúdo para as redes sociais ajuda a organizar suas ideias e tornar a divulgação mais rápida e dinâmica.

Alguns eixos podem ser: artes finalizadas para a venda ou encomendas; artes em execução; vídeos mostrando o processo de criação; depoimentos de clientes; indicações diversas (de artistas de outros nichos, por exemplo); falar um pouco de você, suas paixões, sua história com a arte; fotos visitando lugares criativos (como museus, exposições, feiras).

Comente sobre tópicos da área ou sobre assuntos que te movem — mostre ao mundo quem você realmente é. Isso cria uma conexão real com as pessoas.

Elas passam a admirar não só a arte, mas o artista também.

Pense em quais plataformas utilizar. Você não precisa estar em todas e é melhor que não esteja. Quanto mais redes para gerenciar, mais tempo é investido. Preocupe-se com a qualidade, e não com a quantidade.

Analise onde seu público está mais presente, qual plataforma oferece melhores oportunidades — de clientes em potencial e crescimento de marca — e foque naquele espaço.

Também é importante que interaja com seus seguidores. Responda os comentários e as mensagens diretas que conseguir e mostre interesse. As pessoas se sentem ouvidas e acolhidas.

Arte: Magui

A interação, além de ajudar no aumento de alcance do perfil, incentiva mais pessoas a engajarem com suas publicações.

Considere parcerias com outros artistas. Ao trabalhar em projetos com profissionais, ligados ou não ao seu tipo de trabalho, pode ser uma ótima maneira de outras pessoas conhecerem sua arte. E você ainda pode criar algo diferente e fora da sua zona de conforto.

Por exemplo, se associar a um músico e usar suas pinturas para montar um videoclipe. Ou incorporar cerâmicas artesanais em um ensaio fotográfico.

Sempre que puder, estude sobre marketing — inclusive marketing pessoal. Assim você estará sempre desenvolvendo seu jeito de fazer.

A Rock Content tem vários conteúdos interessantes sobre o assunto, inclusive esse artigo sobre como desenvolver uma boa estratégia de marketing nas redes sociais.

Outros pontos para ter em mente:

  • Aprenda a se manter motivado. É quase certo que desafios virão e você não pode deixar que isso te desespere e te impeça de seguir fazendo aquilo que ama e acredita.
  • Estabeleça um horário de trabalho que funcione para sua vida e não despreze seu tempo livre — dê espaço para relaxar e criar fora do negócio. Isso ajudará a manter sua paixão e, possivelmente, trará novas ideias.
  • Não se compare com os outros. Temos a tendência de comparar nossos resultados com os de outras pessoas. Tê-las como inspiração e meta a ser atingida pode ser saudável, mas tome cuidado para que não trave o seu processo, deixe de lado a sua forma única de produção ou faça você se sentir mal.
  • Você não precisa seguir todas as tendências. É ótimo quando certa tendência de mercado ou das redes sociais se encaixa com o trabalho que fazemos, já que pode ajudar no aumento do alcance e da procura pela nossa marca.

Porém, quando incorporamos tendências apenas com esse objetivo, o risco de uma imagem pouco autêntica é grande. Pense no seu público e no que faz sentido para suas criações e divulgação.

  • Diversifique seu trabalho. Para enriquecer ainda mais o seu negócio, considere disponibilizar diferentes opções para seu consumidor, se sua modalidade permitir.

Em um ramo de desenho digital, você pode oferecer impressões emolduradas, pôsteres, estampas da arte em outros produtos (como ecobags), vender o arquivo digital com a obra, e até mesmo licenciar seu trabalho para vendê-lo em outros lugares.

Para se inspirar

Há vários exemplos legais de gente que faz bem para você admirar.

Lune é artista trans não-binárie que faz ilustrações e pinturas em aquarela. Em seu perfil no Instagram, expõe seus projetos finalizados, vídeos de todas as etapas do trabalho e conteúdo diverso sobre arte e a comunidade LGBTQIA+.

A Nathallya Faria cria obras maravilhosas com foco na potência ancestral do povo negro e vende suas artes em diversos materiais e produtos: quadros, papel, mdf, capa de caderno personalizada e até marcadores de página. Ela também tem uma loja focada em acessórios criativos artesanais, a Nathallya Faria Artesanato.

Camila Albuquerque mostra seus trabalhos e experimentações artísticas em seu perfil. Se autodenomina uma artista plural e cria peças em cerâmica, além de pinturas e ilustrações lindas.

Todes são criatives aqui na Valejo e seus trabalhos estão disponíveis em nosso site. Confere lá!

Escrito por: Natacha Moreira

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