Como os ICOs vão transformar o venture capital

Bruno Peroni
VC sem ego
Published in
6 min readAug 10, 2017

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Nas últimas semanas não postei novas análises de equity crowdfunding porque estive antenado nas mudanças da legislação e também estive estudando mais a fundo os ICOs.

Vou compartilhar um pouco do que aprendi nesses últimos meses de estudo e porque eu acredito que a tecnologia do blockchain irá transformar para sempre o capital de risco.

O que são ICOs?

ICO significa Initial Coin Offering, uma alteração do conhecido IPO (initial public offer), quando uma empresa abre o capital da sua empresa na bolsa de valores.

ICOs ou crowdsales são captações públicas de projetos e empresas, assim como o equity crowdfunding, mas ao invés de captarem dólares ou reais, captam recursos por meio de criptomoedas (geralmente Bitcoin e Ether) e ao invés de utilizarem uma plataforma de crowdfunding, utilizam uma blockchain como a plataforma.

Em troca, os apoiadores ou investidores recebem um outro ativo digital, chamado token.

Para quem é iniciante no assunto de blockchain e tokens, sugiro ler esse excelente artigo sobre tokens do Luis Otávio, fundador do Catarse e pioneiro do crowdfunding no Brasil. Vou inclusive pegar emprestado a definição de token utilizada por ele:

Token é um recurso digital que pode ser transferido, e não simplesmente copiado, entre duas partes através de internet sem o consentimento de nenhum outro participante.

Os tokens possuem uma utilidade, ou seja, servem para um propósito específico. Dessa forma, existem dois tipos de crowdsales no mercado, que já captaram juntos mais de US$1 bilhão.

  1. Crowdsales de protocolos e criptomoedas: esses são os principais ICOs sendo realizados atualmente. São captações de projetos que criam novos padrões baseados em tecnologias blockchain. No caso do Ethereum ou do Tezos (que captou US$200 milhões na maior captação até então) os usuários fornecem poder computacional utilizado para verificar transações (parecido com o modelo do Bitcoin) em troca de tokens. Outro caso é o Filecoin, que é um sistema de armazenamento distribuído, em que usuários fornecem espaço de memória em troca de tokens. São projetos extremamente técnicos, que competem para serem novos padrões que utilizam a tecnologia do blockchain. Os investidores, nesse caso, recebem tokens que flutuarão de preço conforme a adesão dessas tecnologias. Se a tecnologia for útil e pegar, o token aumentará de preço e poderá ser comercializado por um valor maior do que o adquirido. Se não funcionar ou não tiver adesão, o token não vale nada.
  2. Crowdsales de projetos/empresas: essa foi a segunda onda de ICOs e a que mais me interessa como investidor. Startups que estão criando soluções que utilizam a tecnologia de blockchain resolveram captar recursos dessa forma alternativa. Só que invés do token ter uma utilidade (poder computacional, armazenamento, etc.), nesses casos o token representa uma participação no negócio ou dá direito a uma parte das receitas. É uma operação exatamente igual a de um equity crowdfunding. Um exemplo é a Trueflip, uma loteria descentralizada baseada em blockchain que dará uma parte das receitas obtidas para seus investidores. Abaixo apresento um gráfico que compara o investimento de risco tradicional com os ICOs financiando startups de blockchain.
Fonte: CBInsights

Mas o que acontece quando qualquer empresa puder fazer um crowdsale?

Acredito que está por vir uma onda que vai mudar o mundo do capital de risco para sempre. Atualmente, é complicado para uma empresa emitir um token. Para isso, é necessário conhecimento técnico aprofundado das plataformas e protocolos existentes.

Mas o que enxergo no futuro próximo é que QUALQUER EMPRESA poderá fazer o seu crowdsale.

E isso já está acontecendo: existe o caso de um filme que captou US$1,7 milhões. Para viabilizar a crowdsale, fizeram uma parceria com empresa especializada em blockchain.

Mas isso é coisa de nerd ou de hacker, não?

Atualmente, para os empreendedores é bem complexo e difícil emitir tokens.

Investir em tokens também não é trivial e boa parte do dinheiro atraído é especulativo.

Mas eu acredito que isso vai mudar logo e muito rapidamente.

Acredito que em menos de dois anos existirá pelo menos uma plataforma oferecendo a emissão de tokens como um serviço para qualquer projeto. Será tão fácil fazer uma quanto criar um projeto no Catarse ou Kickstarter.

Para entender como esse mercado crescendo maneira assustadora, mostro abaixo o gráfico com o valor acumulado já captado em ICOs.

Fonte: Coindesk ICO Tracker

Dá para enxergar claramente um ponto de inflexão em maio de 2017. Em maio, os mercado de ICOs era de US$300 milhões. Em apenas 3 meses, o mercado chegou a US$1.7 bilhões.

Isso mostra uma gigante demanda reprimida por investimento de risco, atualmente dificultada pelos reguladores.

Por que os ICOs vão mudar o venture capital

Quando qualquer empresa puder captar recursos online por meio de crowdsales, o investimento de risco irá sofrer grandes mudanças. Eis os motivos:

Liquidez: O mais incrível de um token é que ele possui liquidez. Basta o empreendedor fechar uma parceria para listar o seu token em uma exchange (espécie de bolsa de tokens) e aí qualquer pessoa pode comprar e vender aquele token. E isso no futuro será automatizado. Isso é uma revolução gigante no investimento de risco. Mesmo como as facilidades do equity crowdfunding, muita gente fica de fora de investimentos de risco devido ao longo prazo de retorno, que vai de 7 a 10 anos. No caso de crypto equity, o retorno pode ser muito mais rápido e caso o investidor queira sair do barco, basta vender seus tokens no mercado.

Captação global: para participar em um crowdsale, basta depositar criptomoedas em um endereço na blockchain. Qualquer investidor do mundo pode participar. Isso abre muito capital disponível e torna toda e qualquer captação global.

Descentralização: com a popularização dos crowdsales, essa modalidade vai competir com empréstimos, com capital de risco tradicional e com o equity crowdfunding. Isso dá mais poder para os empreendedores escolherem qual é a melhor forma de captar recursos para o seu projeto e para os investidores, porque realmente democratiza o acesso às oportunidades de investimento.

Isso cria uma bolsa de valores global e descentralizada, independente de governos, onde qualquer pessoa pode comprar e vender ativos de quaisquer empresas e projetos.

E a regulação?

A CVM recém regulamentou o equity crowdfunding por aqui e vai demorar até pensar em tokens e ICOs. A SEC (equivalente nos EUA) já se posicionou dizendo que tokens são uma security, ou seja, um valor mobiliário. Nesse caso, quando se dá em troca equity ou parte dos resultados da empresa deve se passar pelo mesmo processo que uma empresa abrindo capital.

Mas quem disse que os empreendedores e investidores farão isso?
Na blockchain, as transações são anônimas e os contratos são inteligentes (smart contracts).

Devido a esse posicionamento, a maioria dos crowdsales são proibidos para investidores americanos.

Será que os EUA vão perder o protagonismo nessa nova onda tecnológica? Se você olha os times e os responsáveis pelos projetos principais de criptomoedas, temos muito poucos americanos. Russos, ucranianos e chineses são a maioria.

Já investi em alguns projetos via ICO, como forma de aprender sobre essa modalidade porque acredito que será revolucionário. Pretendo também analizar algumas oportunidades desse tipo.

Estou também criando um grupo interessado em investir e aprender juntos sobre crowdsales. Quem tiver interesse em participar, basta clicar aqui para acessar o convite.

Importante: se você tem interesse em investir em crowdsales/ICOs, deve ter cuidado com a avaliação dos projetos porque não existe nenhum tipo de proteção caso os empreendedores captem recursos e sumam com o dinheiro. Especialmente em casos que não envolvem participação.

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Bruno Peroni
VC sem ego

Venture Capital, Inovação e Startups; VC @ Astella ; Host @ A Virada Podcast