Venture Capital deveria ser para todos (mas não é)

Bruno Peroni
VC sem ego
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4 min readApr 26, 2017

Uma das minhas principais motivações para começar a investir e a escrever é a de democratizar o acesso ao investimento em novos negócios.

A pergunta que fica é:

Por que investir em empresas privadas e novos negócios não é tão fácil quanto investir em empresas abertas (aquelas com ações na bolsa)?

A resposta tem duas partes: regulação e risco. Atualmente, no Brasil, apenas empresas com altos níveis de governança podem vender suas ações em bolsa para captar recursos. Quem regula esse mercado é a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Como parte desse processo de preparação para se tornar uma empresa aberta, a empresa tem que ser uma sociedade anônima (modelo jurídico que protege e permite mais acionistas e investidores não executivos), precisa auditar suas contas e fazer diversos outros registros e obrigações.

Mas o principal argumento de toda essa regulação é que investir em empresas é muito arriscado e o governo deve proteger as pessoas de fraudes e de perderem todo o seu dinheiro. Eu, como alguém que acredito nas liberdades individuais, acredito que se o dinheiro é meu, posso fazer o que quiser com ele, inclusive investir quantidades desproporcionais em empresas arriscadas. Isso é o que empreendedores fazem todos os dias…

Risco e regulação fazem com que o mercado de investimento em novos negócios, ou negócios privados, seja restrito a pouquíssimos atores: fundos de investimento, bancos de investimento e grandes investidores pessoa física, entre outros.

Mas por que não posso começar pequeno?

A recomendação geral é de investir até 5% do seu patrimônio em novos negócios, pois possuem alto potencial de retorno e altíssimo risco.

Mas sempre me perguntei: por que não posso investir pouco? Por que não posso começar com R$500?

Porque até pouco tempo, esse investimento não poderia ser feito online. Qualquer investidor pessoa física deveria conhecer os empreendedores que estavam fazendo uma oferta. Além disso, os custos de transação e o tempo de análise deixam esse processo inviável para pequenos investidores.

Como a tecnologia vem mudando os investimentos em novos negócios

No meu último artigo, comentei das grandes tendências que vem mudando o investimento em VC no mundo. Uma delas é a democratização, a minha preferida. E a grande responsável por isso é a tecnologia.

A convergência de diversas tecnologias, como pagamentos online mais seguros, o avanço de criptomoedas e instrumentos de privacidade como blockchain, aliadas ao movimento cultural do crowdfunding, vide Kickstarter e Catarse, fez com que uma nova forma de investir surgisse: o crowdinvesting.

Mapa das finanças alternativas mostra como o setor está mudando. Fonte.

O crowdinvesting junta diversas formas de investir online em negócios. Diferentemente do crowdfunding tradicional, onde se investe em um projeto em troca de recompensas, aqui se investe buscando retorno financeiro. Mas também de forma distribuída. Esse movimento está mudando diversos setores, como a construção civil (ver Urbe.me) e a de bancos (ver Biva e Nexoos).

Mas a que mais me interessa é a de venture capital. Por meio do equity crowdfunding, centenas de investidores podem participar de um deal, investindo em um negócio inicial em troca de participação.

No mundo, segundo dados da Massolution, o volume de recursos aportados via equity crowdfunding chegou a US$2,5 bilhões. E existem especialistas que acreditam que esse volume vai ultrapassar toda a indústria de venture capital em 2020.

Mas e no Brasil?

Devido a uma exceção na regulação, a CVM permite que pequenas empresas captem até R$2,4 milhões por ano online. Isso fez com que a primeira captação desse tipo acontecesse em 2014.

Existem três plataformas ativas de equity crowdfunding no país, que já realizaram mais de 40 deals. A principal plataforma chama-se Broota. Lá, você pode começar investindo R$2.500 em um novo negócio agora. Nas próximas semanas vou começar a publicar as análises de todos os negócios disponíveis para investimento nestas plataformas.

O equity crowdfunding têm democratizado o acesso de pequenos investidores a investimento de risco e também aberto a porta desse mercado para negócios que antes nunca seriam investíveis da forma tradicional. Existe um processo de regulamentação desse mercado em andamento, o que serve para deixar as regras mais claras.

Em breve, vou divulgar um pequeno estudo que estou fazendo sobre o equity crowdfunding no Brasil, com mais dados!

Mas esse é só o começo

Esse movimento de equity crowdfunding é bastante novo no mundo e ainda precisa de muita validação. E novos modelos surgem todos os dias. Sou um grande entusiasta dessas mudanças e acredito que vão gerar grande impacto na maneira como as empresas são financiadas.

Uma das coisas que ainda quero ver acontecer é a captação de um fundo completamente online, de milhares investidores comuns de todo o mundo, permitindo inclusive liquidez dos valores antes do final do fundo.

Alguém já fez isso. Em março desse ano, a Blockchain Capital, gestora focada no setor de criptomoedas e blockchain, captou um fundo de US$10 milhões de mil investidores em menos de 24 horas! (Mais infos aqui). Para isso, utilizaram tokens digitais que poderão ser comercializados online em breve para outros investidores. Sim, ESTÁ ACONTECENDO.

Pelo menos ainda posso ser o pioneiro na América Latina. :)

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Bruno Peroni
VC sem ego

Venture Capital, Inovação e Startups; VC @ Astella ; Host @ A Virada Podcast