Muito além dos unicórnios: boas notícias para investidores de risco no Brasil

Bruno Peroni
VC sem ego
Published in
4 min readOct 28, 2019

No último artigo, falei de como crowdfunding de investimento para estágios mais iniciais está se consolidando como uma alternativa interessante. Agora, trago dados que demonstram o crescimento do mercado de VC no Brasil, que são rodadas geralmente a partir de R$10 milhões.

O ambiente econômico brasileiro nunca esteve tão atrativo para investidores de Venture Capital. Pelo menos é o que se vê do último relatório InsideVC 2019, feito pela APEX em parceria com a ABVCAP (Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity)

Apesar da turbulência do período eleitoral, o ano de 2018 foi marcado por um número recorde de startups brasileiras atingindo o status de unicórnio, isto é, valendo na faixa de 1 bilhão de dólares.

Isso demonstra muito apetite de investidores internacionais em investir no país, pois, ainda que valuation seja só um número, é um indicador da busca por tomada de risco.

Em 2019, esse movimento parece ter se perpetuado, com outros mega-rounds do Gympass e da Loggi, que atingiram o status de unicórnio, e o Nubank, que se destacou como o primeiro decacórnio brasileiro, avaliado em US$ 10 bilhões.

Mas não são só os unicórnios que mostram essa robustez do mercado. Em 2018, o capital total da indústria de venture capital no país somou 16,6 bilhões de reais. No front dos investimentos, o volume total chegou na casa dos R$ 6 bilhões, mais de seis vezes o montante registrado em 2017. Fortes sinais que o amadurecimento do ecossistema brasileiro de startups tem atraído cada vez mais investidores estrangeiros, principais responsáveis por esse aumento significativo.

Esse crescimento se observou principalmente nas áreas de fintech/insurtech e transporte/mobilidade, com deals bastante concentrados.

Fintechs se consolidam no país das taxas de juros

No primeiro caso, estamos falando de 40 companhias, que representam 19% das 211 empresas investidas por fundos de VC em 2018. No segundo, são 29 organizações, ou 14% do total.

É possível que essa concentração tenha relação com algumas características particulares do país. A grande concentração e os altos custos dos serviços bancários oferecidos no Brasil certamente oferecem uma oportunidade para empresas que apostam na tecnologia para operações dissociadas dos grandes bancos, trabalhando para aumentar a inclusão financeira. Tem muito espaço para disrupção e provavelmente outros unicórnios no forno.

O marco regulatório da Lei 12.865, de 2013, que colocou o Banco Central como controlador e introduziu conceitos como arranjo e contas de pagamento, foi um marco importante que tem contribuído para a criação de um ambiente mais competitivo, com mais flexibilidade e liberdade de escolha e proteção para os consumidores.

Num país de tamanho continental, com forte potencial de crescimento econômico e presença ainda tímida de tecnologias que possam facilitar as transações e estimular o empreendedorismo, investimentos nesse ramo são vistos como particularmente promissores.

A chinês Tencent, por exemplo, investiu US$ 180 milhões no Nubank, seguido pela última rodada, liderada pelo TCV, que avaliou a empresa em mais de US$10 bilhões. Já a Creditas, empresa de empréstimo online, recebeu US$ 200 milhões em investimentos do SoftBank, mais US$ 31 milhões de outros fundos parceiros.

Mobilidade urbana inovadora nas metrópoles brasileiras

No setor de transportes e mobilidade, o investimento baixo no país em soluções criativas e menos custosas contribuiu para um grande aumento da quantidade de automóveis e uma precarização da mobilidade como um todo. Segundo o Inrix, São Paulo é a quinta cidade com mais congestionamentos do mundo, enquanto o Rio de Janeiro está em sexto colocado.

Esse ambiente caótico é particularmente propício para a criação de soluções de mobilidade que consumam menos recursos e economizem o tempo das pessoas. Não é à toa que a primeira saída bilionária do Brasil tenha sido da 99. E falando de saídas, o estudo também viu um volume maior de exits de VCs, chegando a 14 em 2018.

Para se ter uma ideia de quão promissor é esse mercado, basta saber que a Grow, holding criada neste ano, fruto da fusão entre a Yellow, empresa brasileira de bicicletas sem estações e patinetes elétricos, e a Grin, empresa mexicana de patinetes elétricos, já recebeu aportes de US$ 150 milhões só em 2019.

Tenho certeza que esse movimento de aumento dos investimento estrangeiros em VC e não apenas em empresas consolidadas está só começando e que ele é fundamental para gerarmos valor em escala como país.

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Bruno Peroni
VC sem ego

Venture Capital, Inovação e Startups; VC @ Astella ; Host @ A Virada Podcast