VIL METAL — MELHORES ÁLBUNS DE 2016 (ou qualquer coisa assim)

Igor Natusch
VIL METAL
Published in
16 min readDec 31, 2016

Olá, humanos. Um pouco atrasado desta vez (vocês todos viram 2016, então vocês entendem os motivos), mas finalmente chegamos com a lista VIL METAL dos melhores álbuns de heavy metal do ano que passou. Foi um ano no geral bem interessante para o som pesado em geral: muitas novidades interessantes, bandas contemporâneas chegando ao auge, alguns medalhões voltando às boas com trabalhos capazes de revitalizar suas carreiras. Abaixo, tentamos dar uma resumida nisso tudo, sem nenhuma pretensão de esgotar o tema (o que é impossível), mas ao menos trazendo umas boas dicas para quem curte barulheira.

Este ano, o formato da coisa vai ser um pouco diferente. Ando cada vez mais descrente de listas de melhores, já que elas comparam coisas incomparáveis e têm um caráter pretensamente definitivo que simplesmente não é alcançável na prática. As listas que fiz para o VIL METAL em 2014 e 2015 seguem valendo, mas as relações dentro delas mudaram muito — tem coisa que hoje eu acho ainda melhor, tem CD que não entrou e eu acho que deveria ter entrado, tem alguma coisinha que entrou e talvez não merecesse tanto… Basta dizer que hoje, no comecinho de 2017, eu mudaria o número 1 das listas dos dois anos em que a fiz (colocaria Pallbearer no topo em 2014 e Elder na de 2015, para ser bem específico) — o que não é demérito de quem liderou na época em que fiz o negócio, já que os discos do Triptykon e Tribulation seguem sendo destruidores: apenas é uma mudança subjetiva na observação dos trabalhos musicais em questão. E como eu cada vez mais acho que subjetividade é mesmo a alma do negócio, resolvi fazer a coisa toda de forma bem mais subjetiva desta vez.

A seguir, uma pequena lista dos meus álbuns favoritos de 2016 — ou seja, aqueles que eu realmente ouvi com frequência, que mexeram efetivamente comigo e que eu acho (mesmo) que marcaram de forma especial o ano que passou. É o meu pódio, o meu top 5, se vocês preferem colocar assim. A partir daí, vou tecer comentários divididos em subgêneros, tentando comentar o que eu achei mais legal e/ou acima da média em cada um dos muitos nichos que formam o metal pesado em escala global. São sub-listas, digamos. Então, vocês podem considerar que os 5 primeiros são os melhores dos melhores para mim, de forma totalmente pessoal e subjetiva, e que os demais são os mais significativos dentro de cada subgênero — uma avaliação também subjetiva, claro, mas com um pouquinho mais de direcionamento. Em resumo, ouvimos tudo isso aí e esses discos merecem muita atenção, então prepare-se!

(ah, e fiz anteriormente uma lista de dez álbuns metálicos de 2016 com presença de mulheres na formação, que dá para conferir aqui. acho muito importante esse tipo de observação, pois nos ajuda a combater umas imbecilidades machistas/misóginas que infelizmente ainda existem no heavy metal. confiram essas sugestões também! \m/ )

MEUS CINCO ÁLBUNS FAVORITOS DE 2016 (em ordem alfabética)

ANTHRAX — For All Kings (Megaforce)

Não que os heróis do thrash metal norte-americano estivessem em decadência, mas talvez nem o mais empedernido dos fãs possa negar que há tempos o Anthrax vinha em marcha lenta, digamos assim. Worship Music, que marcou a volta de Joey Belladona aos vocais, já tinha sido um passo na direção correta — mas For All Kings consegue superar as expectativas, sendo o melhor momento de Scott Ian e cia. em uns bons vinte anos ou mais. Ainda que fiel ao passado e sem reinventar a roda, o Anthrax conseguiu um frescor em suas composições que revitaliza não só a própria banda, mas o cenário metálico como um todo. Novidades sempre são bem-vindas, mas ter a velha guarda dando diretrizes sempre ajuda — e ninguém fez isso melhor que o Anthrax em 2016. É bom tê-los de volta, altezas.

BLOOD CEREMONY — Lord of Misrule (Rise Above)

A coisa que acho mais fascinante em Lord of Misrule é a sua capacidade de conjurar um saudosismo acima de tudo hipotético, quase um passado metálico que, na verdade, nunca existiu de verdade. Em seu quarto e mais bem acabado CD, a banda canadense — que tem na vocalista, tecladista e flautista Alia O’Brien sua figura central — bebe de águas ainda anteriores ao Black Sabbath (grupos proto-metal como Coven e Black Widow são referências adequadas aqui), traz essas influências para o presente e cria um híbrido ao mesmo tempo evocativo e único, que cria atmosfera e encanto sem repetir as fórmulas fáceis de ninguém. Ser inovador e, ao mesmo tempo, um tributo ao passado: o Blood Ceremony consegue aqui o que parece quase impossível, e por isso Lord of Misrule é um dos pontos máximos do ano que passou.

KING GOAT — Conduit (Independente)

A cena doom metal inglesa é das mais interessantes há bastante tempo, mas estava faltando alguém capaz de questionar os cânones dela própria e, a partir daí, propor novas trilhas para o estilo. É exatamente o que fez o King Goat em seu magistral álbum de estreia. É um som cheio de riffs e da pegada sombria que o estilo exige, mas ao mesmo tempo traz várias ousadias sonoras e estruturais que aproximam o King Goat do prog e até do experimental. E o mais legal é que tudo soa bombástico e, acima de tudo, coeso: pode ter certeza que os caras não estão escrevendo uma tese em Conduit, e sim doom metal de altíssima qualidade. Um CD que deve aparecer em raras listas de melhores do ano (afinal, foi lançado de modo independente), mas que mereceria estar em todas elas. O King Goat tem tudo para ir muito longe.

KVELERTAK — Nattesferd (Indie Recordings)

A banda norueguesa é ignorada pela parcela mais tr00 dos headbangers — a Encyclopaedia Metallum, por ex, ainda insiste em não incluir a banda em suas páginas. Uma bobagem daquelas de concurso, pois o Kvelertak é maravilhoso e Nattesferd, seu terceiro CD, é uma das coisas mais empolgantes lançadas em 2016. O grupo adota uma base sonora entre o stoner e o hard / heavy setentista, ao mesmo tempo que mantém uma aura quase black metal em torno de si — e acrescenta no caldeirão referências que vão do crust ao rock alternativo, tudo de modo tão natural que essa explicação toda parece um exagero diante da fluência das composições. Soa familiar e, ao mesmo tempo, único: para virar fã da banda, basta ouvi-la de mente aberta. Nattesferd é, com folga, um dos álbuns de 2016 — azar dos tr00zões, que estão perdendo tempo.

VEKTOR — Terminal Redux (Earache)

Esses norte-americanos são geniais há tempos — basta ouvir “Outer Isolation”, seu CD anterior, para saber que os caras são a melhor banda thrash a surgir em uns bons 15 anos, por aí. Mas o que eles fizeram em Terminal Redux é de outro nível. É um álbum conceitual, sobre um general intergalático que sobe ao poder e constrói seu próprio império —uma temática grandiosa corroborada por uma massa sonora desafiadora, que leva o thrash técnico da banda a horizontes inesperados. Há muito de progressivo e avantgarde em Terminal Redux, mas o principal no Vektor é a disposição de pensar para a frente: cada música é uma aventura em si mesma, que se unem numa jornada longa (mais de 70mins), mas arrebatadora. HOJE, esse é o melhor CD metal de 2016 para mim. E que ninguém mais ouse tratar o Vektor como uma versão moderna do Voivod, pois eles abriram de vez sua própria trilha, rumo ao Universo. Resta saber quem terá coragem e competência para segui-los. Histórico.

O QUE DE MELHOR ACONTECEU EM 2016 NOS SUB-GÊNEROS DO METAL (divididos de forma aleatória e subjetiva)

DEATH / MELODIC DEATH / DEATHCORE

Não foi um ano em que eu tenha escutado tanto death metal e derivados assim — e acho que ao menos parte disso não é culpa minha, já que 2016 foi um ano consideravelmente modesto em grandes lançamentos nesse nicho. E muito disso tem a ver com a dificuldade cada vez maior em definir o que é de fato death metal, já que as fronteiras com black/thrash, por um lado, e metal melódico/hardcore, por outro, estão cada vez menos nítidas.

Os neozelandeses do Ulcerate, por exemplo, lançaram uma das pedradas mais efetivas do ano com Shrines of Paralysis, mas até que ponto estamos falando de death ou de black metal neste caso? Da mesma forma, a base do Witherscape (mais um dos inúmeros projetos do sueco Dan Swanö) é o death melódico, mas muitos poderão argumentar (e com bons motivos) que o excelente The Northern Sanctuary é um álbum bem mais próximo de Barren Earth ou de Opeth antigo do que de qualquer coisa efetivamente death metal. O Be’lakor, que lançou seu álbum mais efetivo este ano (o belíssimo Vessels), também já meio que transcendeu o death metal. Assim, o que nos resta?

Mesmo nesse cenário de indefinição, tem muita coisa acontecendo no death metal. Eu pelo menos achei que bandas como Wormed (Krighsu), Unfathomable Ruination (Finitude) e mesmo os brasileiros da Rebaelliun (The Hell’s Decrees) lançaram ótimos trabalhos no ano passado. Numa linha mais técnica/melódica/experimental, Inanimate Existence (Calling from a Dream), Black Crown Initiate (Selves We Cannot Forgive), Obscura (Akroásis) e mesmo Fleshgod Apocalypse (muitos amaram King, embora a mim ele não tenha atingido tanto assim) certamente mantiveram a coisa andando. E numa linha mais crust/grind, ouvi e gostei muito dos novos CDs de Bombs of Hades (Death Mask Replika) e Wormrot (Voices), embora quem conheça mais a fundo esses nichos certamente tenha contribuições mais significativas a fazer (seriam bem-vindas, aliás).

CINCO ÁLBUNS ESPECIALMENTE SIGNIFICATIVOS:
- WORMED — Krighsu (Season of Mist)
- WITHERSCAPE — The Northern Sanctuary (Century Media)
- ULCERATE — Shrines of Paralysis (Relapse)
- BE’LAKOR — Vessels (Napalm)
- BLACK CROWN INITIATE — Selves We Cannot Forgive (eOne)

BLACK METAL / AVANTGARDE / BLACKENED SLUDGE

Outra trilha na qual me movimento sem tanto conhecimento de causa, mas que claramente se trata de um ramo bem saudável na árvore metálica, com uma miríade de lançamentos com os quais talvez só os mais dedicados consigam se manter atualizados.

De tudo que ouvi (e não foi nem 1% do que saiu no ano dentro desse nicho, podem ter certeza), o que mais mexeu comigo foi o Cobalt, que lançou um maravilhoso CD duplo chamado Slow Forever, onde o black é mais uma postura e uma estética do que exatamente um delimitador de fronteiras musicais. O atual vocalista, Charlie Fell, cantava no Lord Mantis — que mistura black e sludge de forma doentia e fascinante, e que lançou um EP chamado NTW que também está entre as coisas que mais ouvi neste barulhento e confuso ano de 2016.

Fora isso, tivemos velhos guerreiros como Darkthrone (Arctic Thunder), Ihsahn (Arktis), Deathspell Omega (The Synarchy of Molten Bones) e Inquisition (Bloodshed Across the Empyrean Altar Beyond the Celestial Zenith) mantendo, em diferentes dimensões, os templates em torno dos quais todos os novatos devem se inspirar. O Alcest, que vinha forte com o Deafheaven na linha do post-black metal antes de se perder pelo caminho, deu um grande passo na direção correta com Kodama, e perseverantes guerreiros do underground como Saor (Guardians) e Oranssi Pazuzu (Värähtelijä) seguem entregando material instigante e desafiador. Há mais lá fora, certamente, aguardando pelos desbravadores.

CINCO ÁLBUNS ESPECIALMENTE SIGNIFICATIVOS:
- THRAWSUNBLAT — Metachthonia (Ignifera Records)
- COBALT — Slow Forever (Profound Lore)
- IHSAHN — Arktis (Candlelight)
- SAOR — Guardians (Northern Silence Prod.)
- ORANSSI PAZUZU — Värähtelijä (Svart Records)

PROG METAL / MELODIC METAL / FUSION

Foi um bom ano para os lados do metal progressivo, me parece. De cara, menciono o para mim apaixonante All that You Fear is Gone, segundo CD do projeto Headspace, que conta com Damian Wilson (vocalista do Threshold) e Adam Wakeman (tecladista, filho daquele mesmo que você está pensando e que também toca ao vivo com Ozzy Osbourne e Black Sabbath). Os veteranos do Fates Warning também trouxeram excelente música em Theories of Flight, enquanto Devin Townsend fez um dos seus melhores trabalhos em Transcendence, de modo que a velha guarda mostrou que ainda sabe colocar as engrenagens em movimento.

O Oceans of Slumber flutua por inúmeras paisagens sonoras no ótimo Winter, primeiro CD com a fantástica vocalista Cammie Gilbert, e outras bandas mais novatas como Anciients (Voice of the Void) e Haken (Affinity) trouxeram ótimas contribuições. O Periphery, um dos queridinhos daquele que vos digita, talvez tenha forçado ligeiramente a barra com Periphery III: Select Difficulty, mas continua sendo uma das audições mais interessantes do som pesado atual. E encerro com uma menção ao Myrath, banda da Tunísia que lançou Legacy, uma união de prog metal melódico com influências sonoras do Oriente Médio absolutamente coesa e encantadora. Não saiu por nenhuma major, mas merece muito a audição dos mais curiosos.

CINCO ÁLBUNS ESPECIALMENTE SIGNIFICATIVOS:
- HEADSPACE — All that You Fear is Gone (InsideOut)
- OCEANS OF SLUMBER — Winter (Century Media)
- DEVIN TOWNSEND PROJECT — Transcendence (HevyDevy Records)
- MYRATH — Legacy (King Records)
- FATES WARNING — Theories of Flight (InsideOut)

EXPERIMENTAL / POST-METAL / BORDERLINE

Aqui as coisas admitidamente deixam de fazer sentido. Na verdade, eu precisava desse espaço para alguns álbuns especialmente disparatados, que fogem dos cânones do metal rumo ao novo e ao experimental. E isso acontece tanto no crossover de heavy metal e cultura pop japonesa do Babymetal (Metal Resistance) quanto na mistura de doom metal, indie rock à Explosions in the Sky e sonoridades atmosféricas do power trio feminino Eight Bells (Landless), mesmo que essas duas bandas não se pareçam nada uma com a outra!

Do mesmo modo, o Purson não é e jamais pretendeu ser uma banda de heavy metal — mas quem poderá negar que o rock psicodélico cheio de nuances e atmosferas de Desire’s Magic Theatre tem enorme potencial para agradar headbangers menos radicais? E o som maluco do Thy Catafalque é metal, mas de um jeito que ninguém vai conseguir explicar direito, por mais que tente — e Meta é mais um passo genial na carreira inclassificável do húngaro Tamás Kátai, um dos mais ousados compositores metálicos por aí. Em suma, nem me dei ao trabalho de colocar uma lista completa aqui, porque essa subdivisão só existe para encaixar esses quatro álbuns que não cabem à perfeição em nenhum outro lugar, mas que eu não me sentiria bem se não mencionasse nesse post. Desafiem a si mesmos e ouçam todos eles!

QUATRO ÁLBUNS ESPECIALMENTE SIGNIFICATIVOS:
- BABYMETAL — Metal Resistance (earMusic)
- EIGHT BELLS — Landless (Battleground Records)
- PURSON — Desire’s Magic Theatre (Spinefarm)
- THY CATAFALQUE — Meta (Season of Mist)

DOOM / STONER / SLUDGE / GOTHIC / FUNERAL DOOM

A boa fase do doom metal em escala global segue inabalável — de tal forma que fica até difícil apontar tudo de bom que vem sendo lançado, e qualquer lista de melhores do estilo em 2016 vai ter muitas diferenças para as demais. O Witchcraft manteve sua sequência de bons álbuns com Nucleus, talvez o mais sombrio de sua carreira, os italianos do Novembre retomaram seu caminho de álbuns encantadores com Ursa, The Body conjurou o desgracento No One Deserves Happiness e The Order of Israfel quebrou tudo com o psicodélico (mas ainda assim carregado e musculoso) Red Robes. E ainda estamos apenas arranhando a superfície!

Os quase veteranos do Graves at Sea (que até então só tinham lançado splits e EPs) estrearam nos grandes formatos com o perturbador The Curse that is, um trago amargo ao qual só os mais fortes sobrevivem sem sequelas. Direto dos EUA, o Khemmis foi brilhante em uma abordagem mais tradicional do doom em Hunted, enquanto o projeto Trees of Eternity trouxe o envolvente Hour of the Nightingale. Horizon of the Mute (Trobar Clus) e Mizmor (Yodh) são grandes acréscimos no drone, enquanto o sensacional Obscure Sphinx deveria ser muito mais conhecido fora de sua Polônia natal, já que Epitaphs é uma audição ousada e que merece atenção muito cuidadosa.

Entre os novatos, além do sensacional King Goat que mencionamos acima, vale lembrar o stoner/doom lovecraftiano do Vokonis (Olde One Ascending) e o ótimo grupo italiano Messa (Belfry). O Cough não é tão novato (Still They Pray é seu terceiro álbum), mas ressaltou-se forte na multidão, e o Inter Arma (que puxa mais para o sludge e o post metal, mas tem a morbidez doom em seu pedigree) nos deu Paradise Gallows, uma das audições mais perturbadoras e grandiosas de 2016. Vá atrás sem pensar duas vezes.

CINCO ÁLBUNS ESPECIALMENTE SIGNIFICATIVOS
- THE BODY — No One Deserves Happiness (Daymare Recordings)
- OBSCURE SPHINX — Epitaphs (Independente)
- KHEMMIS — Hunted (20 Buck Spin)
- GRAVES AT SEA — The Curse that is (Relapse)
- INTER ARMA — Paradise Gallows (Relapse)

THRASH / SPEED METAL

A verdade, amigos e amigas, precisa ser dita: o retro thrash já está há um bom tempo dando sinais de esgotamento. Não apenas aquelas bandas todas que gravam como se ainda estivéssemos em 1987 ficam pálidas em comparação a grupos realmente ousados e inovadores como o Vektor (ver acima); elas estão começando a apanhar dos medalhões do estilo também — já que vieram dos vovôs do speed/thrash muito dos melhores álbuns gravados no ano que acabou de acabar. E não apenas pelo Metallica, que voltou com seu melhor trabalho desde o black album (Hardwired… To Self Destruct), o que já é um acontecimento em si mesmo.

A lista de veteranos mandando bem é longa. Tivemos CDs de Death Angel (The Evil Divide), Artillery (Penalty By Perception), Testament (Brotherhood of the Snake), Megadeth (Dystopia) e, já mais na fronteira entre estilos, Flotsam and Jetsam (Flotsam and Jetsam) e Metal Church (XI). Todos eles (e mais o Anthrax, mencionado no começo do post) lançaram álbuns de boa qualidade no ano que passou — alguns genéricos demais para um lugar entre os melhores (estou falando com você, Testament), mas ainda assim capazes de entortar pescoços sem grande esforço.

A volta do Watchtower, talvez a maior novela do thrash norte-americano, começa a se concretizar com o empolgante EP Concepts of Math: Book One. E no cenário europeu também tivemos alguns veteranos mandando bem, com especial destaque para o Exumer, que fez em The Raging Tides o thrash retrô que muitos novatos passarão a vida tentando, sem sucesso. Vou acabar colocando aqui também o Meshuggah — que nunca foi uma banda thrash, mas que influencia até hoje inúmeros novatos no estilo e lançou um ótimo novo CD em The Violent Sleep of Reason, mostrando uma vez mais como se faz um djent de derrubar paredes. E ano que vem o Coroner deve lançar disco novo, então já se preparem.

Fora isso, o que nos resta? O Destroyer 666 segue comandando o speed metal, e talvez tenha feito seu melhor trabalho em Wildfire, enquanto os ingleses do Beholder gravaram o ótimo Reflections — que será ignorado nas listas mundo afora, já que saiu por uma gravadora pequena, mas é uma das melhores uniões entre oitentismo e modernidade do ano que passou. Tivemos trabalhos bem razoáveis do Mortillery (Shapeshifter) e de dois grupos brasileiros, Nervosa (Agony) e Woslom (A Near Life Experience). Mas está faltando um pouco de ousadia ao thrash metal, pessoal. Sério mesmo.

CINCO ÁLBUNS ESPECIALMENTE SIGNIFICATIVOS
- EXUMER — The Raging Tides (Metal Blade)
- DESTRÖYER 666 — Wildfire (Season of Mist)
- METALLICA — Hardwired… To Self Destruct (Blackened Recordings)
- BEHOLDER — Reflections (Razorline Music)
- WATCHTOWER — Concepts of Math: Book One (ep) (Prosthetic Records)

METAL TRADICIONAL / POWER METAL / METAL MELÓDICO

Não foi um ano muito fácil para o classic metal e suas subdivisões, também. O nicho anda precisando de renovação há bastante tempo — e as bandas de sangue novo, capazes de pegar as fórmulas básicas do metal e construir carreiras sólidas a partir daí, ainda não deram muito as caras em 2016. Num ano bem medíocre, restou ao Sumerlands, com seu CD auto-intitulado, a honra de ser o mais novo em uma lista que, fora isso, depende dos veteranos competentes para se completar. Mesmo totalmente fiel à velha escola, o grupo dos EUA conseguiu criar um CD refinado e honesto, que não remete diretamente a ninguém e nos dá boas esperanças de grandes novidades pelo caminho.

Antes de chegarmos à seção “e fora isso, o que teve de bom?”, é importante mencionar o batalhador Helstar, que lançou o excelente Vampiro — uma continuação do seu clássico LP oitentista Nosferatu que conseguiu ser tão boa quanto o próprio, certamente o melhor CD da banda desde os anos 1980. Também gostei bastante de Infinite Entanglement, primeiro álbum de uma trilogia onde o velho Blaze Bayley pretende explorar as temáticas filosófico-científicas que tanto o agradam. O ex-Iron Maiden poderia ter produzido melhor esse trabalho, mas o entusiasmo é genuíno e as composições são em geral muito boas, de forma que acaba sendo um gás novo para esse batalhador do metal.

Agora sim: e fora isso, o que teve de bom? Os mais fanáticos pelo power metal (e pelos universos de Robert E. Howard e Michael Moorcock) podem se divertir muito com o Eternal Champion (The Armor of Ire); os espanhóis do Wurdalak lançaram um charmoso CD de metal melódico com letras em sua língua pátria (Como Si No Hubiese Un Mañana); o Exmortus perdeu terreno (Ride Forth é menos empolgante que o anterior Slave to the Sword), mas segue relevante; e o novo álbum do Dark Forest (Beyond the Veil) é interessante também. Na briga particular entre o Sabaton (The Last Stand) e os “desertores” do Civil War (The Last Full Measure), o segundo pelotão sai ganhando, uma vez que seu CD é bem mais dinâmico e criativo e “Savannah” é uma das músicas do ano, fácil. O Rage voltou a gravar um disco interessante depois de muitos anos (The Devil Strikes Again), e o recém saído Victor Smolski gravou um muito bom álbum sob o nome Almanac (Tsar). Mas eu, como fã da NWOBHM que sou, gostaria de fazer uma menção especial (e emocionada) ao Oxym, um grupo obscuro da Inglaterra oitentista que lançou de forma independente Passing Through Gateways — um CD onde quase todas as músicas esperaram mais de 30 anos para sair. É totalmente saudosista, claro, mas são as melhores músicas saudosistas que você escutará nesse começo de ano novo. Vão por mim!

CINCO ÁLBUNS ESPECIALMENTE SIGNIFICATIVOS
- SUMERLANDS — Sumerlands (Relapse)
- HELSTAR — Vampiro (Ellefson Music Prod.)
- CIVIL WAR — The Last Full Measure (Napalm)
- BLAZE BAYLEY — Infinite Entanglement (Blaze Bayley Recordings)
- OXYM — Passing Through Gateways (Independente)

(Por fim, só para vocês ficarem ruminando isso: o Avenged Sevenfold também lançou um ótimo — isso mesmo, ótimo — disco de heavy metal — isso mesmo, heavy metal — com The Stand. Merece ser ouvido. Eu garanto!)

O programa VIL METAL vai ao ar todas as segundas (a partir das 21h30) e quintas-feiras (meia noite), sempre na Rádio Estação Web. Dá para nos seguir no Facebook para ficar atento às novidades, e qualquer coisa é só mandar um e-mail. Metal é saúde, pratique! \m/

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Igor Natusch
VIL METAL

Jornalista. Ser humano. Testemunha ocular do fim do mundo.