Interaction South America 2015 — 1/2

Introdução e primeiros dias.

Bernardo Lemgruber
VTEX Tech
7 min readDec 1, 2015

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Este ano a equipe de design da VTEX foi ao Interaction South America (ISA). Pra quem não sabe, o ISA é o evento mais importante de Design de Interação e Experiência do Usuário da América do Sul. Com sua programação itinerante, o evento já passou por algumas cidades brasileiras e no ano passado cruzou a fronteira para a Argentina. Esse ano o ISA aconteceu em Córdoba — na Argentina — cidade que nossa equipe de UX teve o prazer de chamar de casa por alguns dias.

Na Argentina o “v” tem um som muito parecido com o “b”. Mas em português o nome é com “b” mesmo.

Preparação

Parece muito intimidador ir para “o evento mais importante do continente” em seu campo de atuação… não só parece, como é — ainda mais para mim que sou um novato na área de UX.

Mas no fundo no fundo, não tem nada de mais: um caderno, uma pesquisa rápida sobre o clima da cidade (pra levar as roupas certas) e a burocracia de passagem + hospedagem + ingressos são as únicas coisas que você precisa se preocupar. O caderno é mais um capricho porque nesse tipo de evento o kit padrão inclui um caderno e uma caneta. Ah, fundamental também é ler o artigo do Rodrigo Muniz com 5 dicas para tirar melhor proveito de uma conferência!

O ISA é dividido em duas partes: os dois primeiros dias com workshops e palestras de apresentação de trabalhos profissionais e acadêmicos e os dois últimos foram de keynotes de profissionais renomados e autores da área. Pra ser sincero, fiquei bastante impressionado com o line-up dessa edição: Abby Covert, Russ Unger, Whitney Hess, Stephen P. Anderson, Jesse James Garret…

Uma curiosidade muito interessante sobre essa edição é que pela primeira vez ela foi colaborativa com um outro evento chamado CLIHC, a Conferência Latina de Interação Humano-Computador. Durante os dois primeiros dias, rolaram diversos talks científicos abordando questões das mais diversas: robôs, educação com games, realidade virtual, pesquisas e metodologias. Em geral, só por possibilitar essa integração entre o lado prático e o lado acadêmico do campo já valeu.

Dias 1 e 2

Os dois primeiros dias aconteceram numa universidade: IES Siglo 21. Eram várias salas com talks simultâneos e uma programação bem cheia em três línguas: português, espanhol e inglês. Dois dias. O dia inteiro.

Obviamente tinham algumas mais interessantes, outras menos... Acho normal para um evento desse tamanho. Dizia-se nos corredores que valeria a pena uma curadoria melhor por parte da organização. Eu até concordo, mas achei muito bravo por parte da organização juntar tanta gente, por quatro dias numa cidade tão distante — Córdoba é bem distante do eixo turístico Buenos Aires— e conseguir lotar.

Além disso: fica para nós, que achamos que parte do conteúdo poderia ser melhor, a responsabilidade de nos inscrever na próxima edição e apresentar também ;)

Bom, para não ficar só na organização e nos detalhes do evento, quero compartilhar take aways rápidos de alguns talks que assisti nos dois primeiros dias. Sem muito detalhe, por enquanto.

Se pintar algum tópico que a galera ache relevante podemos aprofundar o assunto!

Design Sprint na Prática

por Matina Moreira

Como nunca li muito sobre a metodologia, tudo era novidade, como por exemplo os cinco passos nos quais tudo se baseia:

  1. Entender: Todos os que vão participar do processo têm que estar presentes, pois é quando é definido o escopo do problema e as métricas de sucesso.
  2. Divergir: Começa a parte de prototipação, desenhos e fazer jornadas. Os participantes só saem da sala quando as paredes estiverem cobertas de possibilidades.
  3. Decidir: O foco dessa etapa deve estar na funcionalidade, não na ideia. A proposta é construir em cima do que foi produzido no dia anterior.
  4. Prototipar: Em geral, de acordo com a experiência da Matina, esse é o dia com maior evasão. Ficam só os designers e desenvolvedores. Mas é bom ter gente de todas as disciplinas e distribuir as tarefas de acordo com o skill-set de cada um!
  5. Testar: Nem sempre é possível testar com usuários finais reais (o que é o ideal, claro), mas pessoas que tem alguma identificação ou estão próximas do problema em algum nível são importantes para dar o feedback.

De acordo com os aprendizados da Matina aplicando essa metodologia há algum tempo, a entrega do processo deve ser o desenho da experiência, não o produto final. A noção de que o que for criado ali vai ser aprimorado depois é importante para deixar as soluções mais interessantes. Além disso, o processo é motivador para quem participa, principalmente para quem não é do campo do design.

Desafios? Claro que tem vários. Mas acredito que o desafio mais universal é o de “como convencer as pessoas a parar o trabalho normal por uma semana”. Depois de conseguir isso, começam as preocupações de como reconhecer os participantes, multiplicar esse processo e trabalhar com times mais enxutos.

Embracing the Culture of the Unknown

por Paul Farla

Paul questionou a expectativa do mercado de que os designers têm que saber tudo, têm que chegar com as respostas. Para ele, a magia do design é exatamente o oposto:

“We are hired because we know what questions to make and how to get the answers”

Impossível discordar.

Sobre o processo e validação de ideias, ele apontou que toda decisão de design é uma hipótese não testada. Afinal, se você tem um bom processo de design, você vai saber quando e pra onde voltar pra validar o que ficou em aberto. Como referência, citou esse artigo do Jared Spool sobre “o botão de U$300M”.

Como take away final ele discutiu a mentalidade que nós, como UX designers, temos de “deliverables” em contraponto ao processo. De vez em quando a gente se perde tentando chegar no MVP, tentando colocar em produção, tentando trabalhar naquela feature nova e acaba esquecendo coisas básicas do processo de design. A dica dele foi: “focus on the process, the deliverables will follow”.

Esse com a mão no queixo é o Paul, assistindo a outro talk. :)

Buscando os métodos mais eficientes para revelar emoções

por Amyris Fernandez

Apresentação da sua pesquisa de pós-doutorado sobre como detectar emoções e como elas influenciam no processo de compra online. Segundo os estudos que ela apresentou, os homens têm um fluxo de compra absolutamente racional, até a hora de comprar de fato. Ficam ponderando, comparando, vendo cada detalhe — mas mesmo assim, eventualmente, a compra acontece por impulso, num piscar de olhos. As mulheres são mais emocionais durante o processo todo, do desejo à compra.

Destaco três pontos desse talk especialmente para quem tem relação com o mercado de e-commerce:

  1. Mulheres compram imaginando situações de uso. Não adianta colocar o produto num fundo branco, assim você está perdendo uma oportunidade de gerar identificação com os consumidores.
  2. Somos narcisistas. Pra vender roupa, não funciona mostrar a foto em still (fundo branco, sem modelo). Quando estamos buscando comprar uma roupa, ficamos o tempo todo tentando nos reconhecer na foto. É como se nos buscássemos no espelho.
  3. No catálogo de produtos, o que fica na primeira posição da coluna 1 é, disparado, o mais olhado. Ela até brincou que chama essa posição de desova. “Se você tiver um produto encalhado, coloca ali que vai vender” — afirmou ela com convicção.

Confessions of an ex-unicorn

por Amanda Lacey e Rachel Daniel

Embora exista toda a mística do unicórnio e a eterna polêmica envolvendo ser um generalista vs. ser um especialista, as designers desse talk deram uma visão de quem já esteve lá com muita propriedade. No geral a opinião delas, hoje, é de que:

“UX is meant to be a team sport”

Na verdade, elas apresentaram dois cenários e apontaram que em cada um, as necessidades são diferentes: no caso de empresas grandes, com equipes grandes, é mais interessante ter especialistas que são excepcionais em uma coisa só. Em contra-partida, para startups e empresas pequenas, muitas vezes não faz sentido contratar 8 pessoas — neste caso, contratar generalistas é o ideal. E, realmente, se você pensar em contexto, os dois lados da moeda são igualmente importantes.

Dito isso, elas deram algumas dicas para quem estiver indo pelo caminho do unicórnio:

  • Encontre outros unicórnios;
  • Reconheça suas fraquezas e peça ajuda;
  • Fique atento para não se comprometer além da sua capacidade e conheça suas limitações.

E também deram dicas para especialistas:

  • Entenda os benefícios de um time diverso;
  • Evangelize o poder de um time multidisciplinar;
  • Confie nos pontos fortes das outras pessoas;
  • Não se mate e saiba o seu valor.
Workshop.

Os dois primeiros dias foram intensos, com muito conteúdo. A nossa estratégia — como time — foi nos dividir entre as talks para podermos absorver ao máximo e depois compartilhar esse conteúdo. Além disso, foi muito útil para fazer contatos. Nos dias seguintes, já conhecíamos mais gente então as trocas em intervalos e happy hours foram muito mais interessantes.

Coffee Break.

A parte 2 deste artigo já foi publicada. Clique aqui para saber como foram os últimos dias do evento!

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Bernardo Lemgruber
VTEX Tech

Brand and Culture at VTEX & Host at CreativeMornings Rio.