Interaction South America 2015 — 2/2

Keynotes e conclusão.

Bernardo Lemgruber
8 min readDec 4, 2015

Os dois últimos dias do evento foram num campus universitário maior e um pouco mais distante da área central da cidade. O que acabou sendo uma excelente escolha, pois havia um auditório enorme para os keynotes e uma área externa onde ocorreram os coffee breaks. Muito mais agradável do que nos primeiros dias — tanto o auditório quanto essa área externa:

Com relação aos conteúdos, a grande maioria dos speakers foi incrível. Compartilho a seguir momentos de dois talks que achei bem interessantes (espero que todos sejam disponibilizados online depois).

Being Integral: Developing You

por Whitney Hess

A Whitney é coach, escritora e speaker e veio ao ISA falar sobre inteligência emocional, mindfulness e qual o papel deles na relação entre nós e o nosso trabalho.

Um dos slides mais simbólicos foi quando ela separou mente, coração e corpo, explicando que a maioria dos trabalhos (e ambientes de trabalho) ignoram nossas emoções e nosso corpo. Tudo o que importa é a mente, o intelecto… quem nunca passou pela situação de estar super concentrado, produtivo, morrendo de vontade de ir ao banheiro e ficar segurando para não perder o flow? Isso é ignorar o seu corpo, seus instintos. Ser integral é alinhar pensamento, sentimento e sentidos — mente, coração e corpo.

Em seguida ela apontou quatro características da nossa inteligência social e emocional, deixando algumas dicas sobre como desenvolver cada uma e perguntas para uma reflexão pessoal. Essas características eram:

1. Presença (no sentido de estar presente, de self-awareness)

  • Dicas para desenvolver presença: escrever uma página toda manhã, observar seus pensamentos e parar para respirar. Uma técnica mundialmente conhecida é a da meditação que, na prática budista, nos ensina e estar sempre no momento presente.
  • Perguntas para uma reflexão pessoal: pense na sua experiência no trabalho. Que tipo de situações despertam uma reação emocional em mim? Porque essas situações me afetam? Onde essas emoções se manifestam no meu corpo? Quais sensações sinto quando essas emoções são despertadas?

2. Adaptabilidade

  • Dicas para desenvolver adaptabilidade: buscar alternativas ao brainstorming, observar suas próprias reações e jogar fora seu trabalho antigo.
  • Perguntas para uma reflexão pessoal: pensa na última situação na qual as coisas não foram como o esperado para você no trabalho. Como lidei com a situação? A mudança é um problema para mim? Como reajo a ideias diferentes das minhas? Como reconheço que preciso escolher uma abordagem diferente quando as coisas não estão funcionando?

3. Empatia

  • Dicas para desenvolver empatia: avalie a forma como você ouve, preste atenção a sugestões e leia ficção. Uma dica importante foi: escute com a intenção de concordar.
  • Perguntas para uma reflexão pessoal: pense na última vez que um colega de trabalho realmente precisou da sua compreensão. Qual era o resultado esperado da situação? O que ele(a) fez, falou, sentiu? Como você identificou o que ele(a) realmente precisava, além das palavras?

4. Influência

  • Dicas para desenvolver influência: conheça a sua audiência, observe pessoas influentes e aceite ouvir “obrigado”.
  • Perguntas para uma reflexão pessoal: pense numa situação atual na qual você precisa de apoio para as suas ideias. Quem eu estou tentando influenciar? O que é importante para essas pessoas? Qual resultado eu espero? Como vou saber se tive sucesso? Qual é o meu plano para conquistar a ajuda necessária? Quais objeções podem surgir? Como posso resolvê-las?

Se conseguirmos ser plenos nessas quatro características, seremos integrais. No final ela apontou que as empresas já estão começando a pensar na mindfulness dos funcionários. Intel, Medium, Google, Salesforce e SAP foram os exemplos que ela citou. E como questionamentos finais a Whitney deixou três perguntas:

  • Como seria se eu fosse mais ______ ?
  • Que tipo de convite eu sou para os outros?
  • O que eu preciso fazer para ser integral?
Anotou?

How to make sense of any mess

por Abby Covert

Abby é arquiteta de informação, professora, autora, speaker… e uma simpatia, com presença de palco inigualável! O talk dela foi sobre um livro que escreveu, de título homônimo ao da palestra. Se quiser, confira os slides aqui.

O talk girou em torno de três pontos, que são aprendizados que ela adquiriu durante a carreira e aplica no trabalho — e na vida — hoje em dia.

1. A linguagem importa.

Quem nunca teve um mal entendido ou uma discussão ferrenha para descobrir no final que, na verdade, os dois lados estavam dizendo a mesma coisa só que de formas diferentes? Por isso a linguagem importa. Ela alinha o que todo mundo está falando (ou tentando falar) e evita desentendimentos que, quando se fala no ambiente de trabalho e empresas, podem ser muito custosos e prejudiciais ao time.

Ela contou o caso de uma empresa que a chamou para mapear algumas coisas e clarear os processos para uma fusão que estava prestes a acontecer (ou havia acabado de acontecer) e, durante o processo, ela descobriu que haviam 17 formas diferentes de se referir à mesma coisa dentro das duas empresas. Dezessete. Imagina a quantidade de ruído que isso não gerava e poderia ser ampliado.

A pergunta que ela deixou para refletirmos é: quantos substantivos ou verbos duplicados o seu time usa? O desafio que vem com a resposta é claro:

“Be the one to slay the semantic dragons in your organization.”

2. Não há um caminho certo.

Quando nos encontramos nessas situações de dualidade onde os dois lados discutem sobre a mesma coisa usando termos diferentes a discussão, eventualmente, chega-se no nível do “qual é o certo?”. A disputa passa a ser entre certo e errado, e não mais sobre a ideia central.

Nesse ponto, Abby contou uma história de quando ela e o marido foram morar juntos. Ambos colecionam vinis e, quando chegou o dia de organizá-los, acordaram que seria por ordem alfabética. Então foram separando os álbuns em grupos para depois ir organizando cada grupo. Em determinado momento eles perceberam que ela estava organizando por ordem alfabética de sobrenome e ele de nome! Ou seja, no fundo a organização estava absolutamente aleatória. Depois de discutirem quem estava certo, foram a uma loja de vinis e… viram que tudo estava organizado por ordem de sobrenome (ela ganhou! hahaha).

O ponto todo da história é que organizar as coisas raramente é a parte difícil. O difícil é concordar em como organizar. Depois que todo mundo concorda e está alinhado, tudo fica mais fácil!

“Organizing things isn’t the hard part, agreeing is the hard part.”

3. Precisamos de imagens.

Organizar informações é, em geral, uma atividade extremamente visual. Ferramentas clichês como post-its e quadros brancos são muito eficientes para ajudar a visualizar o que existe a ser mapeado e organizado. É muito importante não só para o processo mas também para compartilhar e alinhar o trabalho. Quando se fala em organização é fundamental mostrar o processo, não só os resultados.

O exemplo que ela citou foi o processo de onboarding de uma corporação gigante que era completamente compartimentado e confuso e tinha um monte de etapas, um monte de tarefas… Ela conseguiu criar um fluxograma super clean e objetivo de como deveria funcionar o processo (algo que seria inimaginável naquele contexto). No final, com a fluxograma em mãos ficou muito claro que, por mais conciso que ele fosse, na verdade não era um reflexo da realidade. Não seria possível executar o processo da forma como estava desenhado ali. Então o fluxo foi retrabalhado para ficar mais próximo do real (que pareceu um pouco mais bagunçado, mas infinitamente mais funcional que o modelo mais “estético”), ressaltando a importância de desenhar e testar os modelos.

O incentivo final dela, para esse terceiro ponto, foi:

“Be the one who make a picture of the monsters in everyone’s head”

❤ Abby ❤

Um bônus final.

Para a sorte de quem não foi no ISA15 a palestra do Jesse James Garret foi bastante fácil de resumir. Para o azar de quem não foi no ISA15, as partes que não dão pra resumir é onde está o ouro. ¯\_(ツ)_/¯

Sendo bastante objetivo, ele pontuou 15 lições/conselhos aprendidos nos 15 anos de carreira (obviamente citando exemplos, casos e situações — ouvi dizer que tem outro artigo do VTEX Lab aprofundando em breve!). Vou listar os 15 pontos, em inglês, para dar o gostinho de como foi:

  1. Go broad.
  2. Go deep.
  3. Go for a walk.
  4. Go farther than you think you should.
  5. Put away your notes.
  6. Learn to spot your assumptions.
  7. Stay curious.
  8. Be as curious about your clients as you are about your users.
  9. Hang with different crowds.
  10. Cultivate allies.
  11. Pick your battles.
  12. Good work doesn’t speak for itself.
  13. Changing a design is easy. Changing minds is hard.
  14. Pay attention to your failures.
  15. Everything is always changing.

No final ele fez uma brincadeira perguntando: “ninguém percebeu um erro nas minhas contas? Na verdade são 16 anos de carreira, não 15”. E deixou mais uma:

16. We are all in this together.

O que dizer desse Jesse que mal conheço e já considero pacas?!

Concluindo, o evento foi incrível. Como a maioria dos eventos desse porte que eu conheço, as grandes vantagens são: ver talks de pessoas incríveis e conhecer muita gente incrível. Os contatos e novas amizades (e até alguns casos de amor… 😏) que surgiram lá foram maravillosos. Pessoas interessadas em fazer o mercado andar pra frente, em gerar conteúdo, pensar em ideias novas e movimentar as coisas…

Um grande parabéns à equipe que fez o ISA15 ser o que foi!

No próximo vai acontecer em Santiago, no Chile. A viagem é mais longa, mas tenho certeza de que vai valer muito a pena. Espero ver ainda mais gente lá — tanto indo assistir quando apresentando conteúdo. Só assim nosso campo vai avançar. Até o ano que vem, ISA!

Caso você não tenha lido a primeira parte desse texto, pode ler aqui.

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