Como a produção de conteúdo pode ajudar pequenos negócios na crise

Cláudia Flores
wewe
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9 min readApr 23, 2020

Há boas histórias para serem contadas e que fazem sentido em plena pandemia

Foto: Pixabay.com

Outro dia li uma reflexão de uma amiga sobre a pandemia que me fez pensar:

Não estamos todos no mesmo barco. Estamos na mesma tempestade, no mesmo mar, navegando em barcos diferentes.

Nem todo mundo vai passar por essa crise da mesma forma. Para micro e pequenos empreendedores, profissionais autônomos, freelancers, trabalhadores informais, mais vulneráveis nesse momento, a realidade é mais complexa. E nunca fez tanto sentido a gente se ajudar quanto agora.

Foi nesse contexto que minha dupla criativa Terena Miller e eu, ambas profissionais de conteúdo digital há mais de uma década (OPS, entreguei nossa idade Terena, sorry) resolvemos tomar um café ao vivo no nosso Instagram para um papo colaborativo: como a criação de conteúdo pode ajudar micro e pequenos negócios em plena crise?

Sem certezas absolutas ou fórmulas mágicas, listamos 12 insights sobre o assunto porque acreditamos que eles podem ajudar de alguma forma negócios a sobreviverem — e até, quem sabe — a crescerem apesar das projeções econômicas desse momento.

1. Estamos em transformação: nós e o conteúdo.

Não só o comportamento dos consumidores mudou com a crise global do coronavírus. A produção e o consumo de conteúdo também está mudando.

Desde o começo da quarentena, a oferta de conteúdo aumentou: em casa, as pessoas estão postando mais em suas redes sociais, trocando mais mensagens por aplicativos, produzindo mais lives, se inscrevendo em cursos online gratuitos, criando ações colaborativas de acordo com as necessidades do momento.

OK, mas o que isso tem a ver com negócios? A resposta é: tudo! O conteúdo produzido pelas pessoas e marcas durante essa quarentena pode te ajudar a entender o comportamento do público consumidor, e gerar insumos para criar produtos e serviços que façam sentido nesse momento.

O que fazer: Observe o comportamento das pessoas em suas redes sociais. O que elas andam postando? Como elas parecem estar se sentindo? Que novas necessidades podem estar surgindo nesse momento?

2. Todos somos criativos e criadores

Nesse momento de emoções à flor da pele, vale perguntar: o quanto é possível exercitar nosso lado criativo? Potencial pra criar bom conteúdo todos temos, podemos usá-lo para impulsionar nossos negócios, ou mesmo para reinventá-los ou criar novos negócios. Por que não?

Comunicado da Dobra sobre a mudança de modelo de negócio

Um exemplo de marca que se reinventou nessa quarentena foi a Dobra, empresa criativa de Porto Alegre que vendia carteiras, camisetas, tênis, bolsas, entre outros itens. Em março, a Dobra anunciou uma mudança em seu modelo de negócio, deixando de criar e vender produtos para produzir (adivinha?) conteúdo.

É claro que esse é um exemplo de mudança profunda, mas o fato é: todos somos criadores de conteúdo, e todos somos criativos. Podemos (e devemos!) usar isso em nosso favor.

O que fazer: Pense em todo conteúdo como um começo de conversa. Quantas formas diferentes de começar uma conversa existem? Se você já tem canais digitais do seu negócio, pratique nele abordagens diferentes, observe referências criativas, e experimente mais. O site Covid Innovations (em inglês) tem várias referências interessantes que surgiram durante a pandemia, e pode te inspirar nas criações de conteúdo para o teu negócio.

3. Que conteúdo faz sentido para o teu negócio?

Se criar conteúdo é começar uma conversa, vale a pergunta: que conversas fazem sentido para o teu negócio? Tem mais: que conversas te aproximam do público?

O jeito mais simples de entender isso melhor é observar como as marcas maiores estão se comunicando nesse momento. Sobre o que elas andam falando? Veja, por exemplo, esses posts da Magazine Luiza no Instagram:

Em vez de vender laptops, celulares e eletrodomésticos mais caros, a Magalu passou a trazer produtos mais acessíveis e com alto consumo na quarentena, como produtos de limpeza, sabonete líquido, creme para o cabelo, fraldas, enxaguante bucal, suco, café. Isso significa que ela parou de comercializar itens mais caros? Não, mas entendeu que nesse momento a demanda é outra.

O que fazer: Teste dicas e insights de criação de conteúdo disponíveis na internet (existem vários perfis no Instagram com esse foco, como o da Rock Content por exemplo), adaptando-as para a estratégia do teu negócio. O ciclo da produção de conteúdo tem 3 etapas básicas: 1. planejar, 2. criar, 3. avaliar resultados. Se te parecer muita coisa, reduz um pouco tua frequência de postagens até pegar o ritmo.

4. Estratégia é tão importante quanto intuição

Se teu negócio ainda não tem uma estratégia digital, esse é o momento! Muitas vezes temos uma estratégia intuitiva, mas ela precisa ser consciente. Vamos a um exemplo de estratégia:

Esse Instagram ao lado é do Mercado Brasco, lá de Porto Alegre. A estratégia digital do Brasco no Instagram é bem simples: eles produzem conteúdo para mostrar seus produtos, as facilidades, e gerar desejo de compra. Durante a quarentena, eles criaram uma loja online em que se pode selecionar os itens que quer comprar, e ampliaram o serviço de delivery. Me parece uma boa estratégia para um mercado, mas para saber se vende mesmo ou não, só avaliando os resultados.

O que fazer: uma estratégia depende de vários fatores. Se seu negócio já é conhecido no digital, se seu objetivo é vender produtos e serviços… Observar a lógica de produzir conteúdo de outras marcas é um jeito de começar, mas adapte à sua realidade.

5. Construa e posicione sua marca

Esse momento é uma oportunidade de criar sua marca, se ela ainda não existe. A marca traz propósito, identidade, voz e personalidade a um negócio. É como uma pessoa real!

Um exemplo de posicionamento de marca durante a quarentena: O Boticário reduziu o foco em venda de produtos em seu Instagram, e passou a criar conteúdos que apoiem o movimento de ficar em casa, gerando conversa e utilidade para seus seguidores.

Isso não significa que as marcas devem parar de vender, e sim repensar seu posicionamento para oferecer produtos e serviços que façam sentido agora.

O que fazer: observe marcas no seu segmento, busque referências em outros segmentos. Como as marcas que você admira são visualmente? Se sua marca fosse uma pessoa, quais seriam as qualidades dela? Como seria o jeito dela se falar?

6. Conteúdo colaborativo é tendência

Não só lives com dois ou mais participantes estão bombando: conteúdos colaborativos estão surgindo nos mais diferentes formatos. Essa pode ser uma boa estratégia para fortalecer pequenos negócios.

Lojistas de Viamão (RS) se uniram para criar um voucher solidário para fortalecer o comércio da cidade durante a quarentena. Eles criaram um vídeo divulgando o voucher — que dá direito a compras em lojas cadastradas — e divulgaram no Whatsapp. A mensagem: parte da arrecadação será destinada ao hospital de Viamão, que está precisando de reparos. O interessante desse conteúdo é que o vídeo mostrava os rostos dos lojistas, ou seja, era uma mensagem super humana e pessoal!

O que fazer: pense que tipo de conteúdo colaborativo faria sentido para o seu negócio? Vale construir uma rede de parcerias, cocriar com outros profissionais, criar campanhas colaborativas.

7. Todo conteúdo conta uma história

Há tantas histórias para serem contadas por aí, e esse é um dos caminhos para criar conteúdos que gerem engajamento e conexão. Todo mundo ama uma boa história.

Referência de história bem contada pela confeitaria Charlie Brownie: uma campanha para incentivar o público a pedir delivery dos produtos durante a quarentena. A cada telentrega, a empresa doava 1 sanduíche para um morador de rua. A repercussão nos comentários do post do Instagram foi positiva, e a ação “do bem” foi uma estratégia inteligente para impulsionar a compra online, porque as pessoas tendem a comprar para colaborar com a campanha.

Como começar: Boas histórias geram emoção. Sua paixão pelo que faz, bom humor, propósito, as pessoas que fazem seu negócio acontecer, o carinho com seus clientes, tudo isso pode render conteúdos que contam histórias. Traga emoções à tona.

8. O que conteúdos engajadores têm de especial?

  • Contam uma boa história
  • São originais e criativos
  • São úteis para as pessoas
  • São próximos, geram empatia
  • Conversam com as pessoas
  • Foram planejados considerando uma estratégia
  • Consideram o que o público gosta de ver
  • Experimentam novos formatos
  • Refletem a identidade e personalidade da marca/pessoa

9. Performance, o que é isso?

Observar a performance do conteúdo é importante para entender o que funciona e o que não funciona para o seu público. Sem isso, corremos o risco de falar para ninguém.

Performance é todo e qualquer indicador que você possa medir a partir da sua produção de conteúdo. Em sites, por exemplo, você pode avaliar o número de acessos, acompanhar o tempo em que a pessoas ficaram dentro do site, descobrir de onde vieram os acessos, etc.

Nas redes sociais, se pode observar likes, comentários, compartilhamentos, pode mensurar quantos contatos de clientes você recebeu para seu produto ou serviço, etc. Cada canal de venda tem métricas próprias, e esses insumos são valiosos para entender o retorno que se tem a partir da produção de conteúdo.

Como começar: o ciclo é 1. planejar, 2. criar e 3. medir performance. Não existem números certos ou errados, mas a tendência é que eles cresçam com o tempo. Se não crescem, peça feedbacks e repense sua estratégia.

10. Conteúdo é relacionamento, busque bons canais

A principal tendência que observamos são negócios ampliando a estratégia de marketing one to one (em canais como Whatsapp, Telegram, chat online, direct message), que é aquela em que há contato direto entre marca e consumidor. É o popular “cara a cara”, só que virtual.

Faz todo sentido nesse momento em que há alta oferta de conteúdo e disputa por atenção em canais digitais: quanto mais próxima e pessoal é a conversa, maior a chance de o cliente estar atento à mensagem.

Como começar: construir um relacionamento no digital é como começar uma amizade na vida. Requer tempo e esforço para se confiar em um negócio ou marca. Converse com seus clientes, busque conhecê-los bem. Se for investir em canais one to one, porém, fique atento à frequência de mensagens para não transformar conversa em SPAM.

11. Se o foco é a venda, crie estratégias

Quando o objetivo é vender um produto ou serviço, é preciso estratégia e cautela. É possível criar conteúdo “vendedor” interessante, sem ser chato ou forçado.

Como começar: Foque nas necessidades das pessoas e na conversa. Valorize os diferenciais do seu produto/serviço, crie campanhas para promovê-lo, convide à experimentação, cogite parcerias com microinfluenciadores. E pense também como consumidor, não só como empreendedor.

💡 Nos próximos dias, vamos compartilhar o resumo da live “Como vender sem ofender?”, só com dicas de como criar conteúdo vendedor e consciente.

12. O consumo é cada vez mais consciente

Essa é uma tendência que veio pra ficar: consumo consciente, sustentável, de marcas que respeitam não só o consumidor, mas toda a cadeia produtiva.

A marca de vestuário Essenco Inspira é um exemplo de negócio consciente: em sua comunicação, traz o conceito de roupa atemporal, isto é, independente das tendências do mercado.

Esse posicionamento reflete um movimento de produção consciente, e as maiores companhias do mundo (grandes consumidoras de recursos naturais e produtoras de altos volumes de resíduos) estão assumindo metas sustentáveis para os próximos anos.

Como começar: Pequenas marcas têm vantagem quando o assunto é ter um negócio consciente. Se sua empresa busca clientes através de qualquer estratégia não sustentável, pare, pense, repense. Produtos artesanais, cruelty-free, embalagens recicláveis, ingredientes orgânicos, menos plástico, menor consumo de recursos naturais, fornecedores comprometidos com a produção sustentável, tudo gera valor!

Obrigada por ler até aqui! Se gostou, nos ajude curtindo esse texto, ou compartilhando-o com amigos empreendedores que possam estar precisando de apoio em sua produção de conteúdo nesse momento. Terena e eu estamos oferecendo consultorias gratuitas para pequenos negócios durante essa quarentena. Nos chamem para um café virtual.💛

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